NO LIMITE
CAPÍTULO
CINCO
Marília foi prestar o concurso, com a
certeza de que daria o seu melhor e de fato fez uma prova impecável, mas ainda
dependia da entrevista e da classificação, portanto não poderia cantar vitórias
antes da hora. Ficou calada, porque Leandro não poderia saber de nada ou
tentaria prejudicá-la.
Foram
dias de solidão, medo e muitas dúvidas, mas a fé em Deus e a certeza da
recompensa pelos esforços, a levavam adiante. Então, chegou a semana de finados,
onde quase todos prestam homenagens aos seus mortos. Marília estava sensível e
saudosa de seus entes queridos. Seus pais faleceram com diferença de dois anos;
primeiro foi o pai e depois a mãe, era muito recente e a saudade estava viva
ainda doía muito.
Leandro
levara o automóvel da família quando saiu de casa, deixando a mulher e os
filhos a pé. Gostava de zombar da mulher dizendo para andar de “Buzão”, que era
o lugar dela. Marília gostava de andar de ônibus, isso não tinha importância,
dizia, mas estava sem dinheiro e decidira não comparecer ao cemitério:
-
Já estava triste o suficiente, pensou a moça conformada. Mas, logo na primeira
hora da tarde Leandro apareceu. Estava com bebida no corpo, pois o cheiro era
inconfundível, e foi logo dizendo:
-
Tomei somente uma cerveja no almoço, não estou bêbado, e foi adentrando a sua
antiga casa. O coração da moça parecia querer saltar fora do peito, mas ela
precisava manter a calma.
O
ex-marido parecia calmo e propôs a ela que ambos fossem ao cemitério visitar o
túmulo dos pais, dele e dela também. Marília sentiu medo, mas não teve como
recusar e sentou-se no banco do carona, iria ao cemitério com Leandro, afinal
os mortos ficariam contentes ao serem lembrados.
O
carro estava em péssimo estado de conservação. Quando ele pisava na embreagem o
banco se movia para trás, parecia estar solto no piso do veículo. Ela tentou
alertá-lo para o perigo de dirigir daquele jeito, mas ele zombou dela.
- Sou motorista até dormindo, você está com medo de
que? Então, ele acelerou, fazendo a mulher se agarrar no pegador e começar a
orar pedindo misericórdia a Deus.
Finalmente
chegaram ao cemitério; Marília ainda não entendia porque havia aceitado aquela
carona. Entraram no portão inicial e fariam as visitas aos túmulos seguindo a
proximidade de cada um. Finalmente ela disse que deveriam seguir para o local
onde não havia túmulos, somente a grama com a placa do nome do defunto. Lá
estava enterrada sua mãe.
Leandro
concordou com a cabeça e subiu no túmulo da frente diante da surpresa da
mulher, que protestou, dizendo ser pecado fazer aquilo. Com uma gargalhada ele
prosseguiu, passando por cima dos túmulos que estavam em sua frente.
Ela
se calou fazendo de conta que ele não estava com ela. Marília estava ruborizada
e, rapidamente depositou uma flor no túmulo de sua mãe saindo em seguida; não
suportava mais ver a atitude de seu marido. Parecia enlouquecido faltando com o
respeito aos mortos.
O
automóvel saiu cantando pneu e ela começou a rezar novamente. Jurava que nunca
mais sairia com Leandro, estivesse ele bêbado ou não. Em uma certa altura do
caminho, ele disse que iriam ao cemitério da cidade vizinha onde a mãe dele estava
enterrada.
Marília
quase gritou de desespero, mas sabia que era isso que ele queria, amedronta-la.
Então, resolveu pedir para passar em sua casa para pegar um maço de velas para
a sogra.
Quando
ele parou, o banco do carro foi lançado para trás e ela desceu rapidamente do
veículo, dizendo para ele ir sozinho. Entrou em sua casa com o coração
disparado e tratou de fechar a porta com muito medo que ele estivesse atrás
dela.
Alguns
segundos se passaram e ela ouviu o carro sair em disparada, então respirou
aliviada; estivera em seu limite de terror.
Um texto de Eva Ibrahim Continua na próxima semana.