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sábado, 18 de fevereiro de 2017

"UM DIA, A SAUDADE DEIXA DE SER DOR E VIRA HISTÓRIA PARA CONTAR E GUARDAR PARA SEMPRE. ALGUMAS PESSOAS SÃO SIM, ETERNAS DENTRO DA GENTE". AUTOR DESCONHECIDO

NO LIMITE

CAPÍTULO CINCO
            Marília foi prestar o concurso, com a certeza de que daria o seu melhor e de fato fez uma prova impecável, mas ainda dependia da entrevista e da classificação, portanto não poderia cantar vitórias antes da hora. Ficou calada, porque Leandro não poderia saber de nada ou tentaria prejudicá-la.

              Foram dias de solidão, medo e muitas dúvidas, mas a fé em Deus e a certeza da recompensa pelos esforços, a levavam adiante. Então, chegou a semana de finados, onde quase todos prestam homenagens aos seus mortos. Marília estava sensível e saudosa de seus entes queridos. Seus pais faleceram com diferença de dois anos; primeiro foi o pai e depois a mãe, era muito recente e a saudade estava viva ainda doía muito.

          Leandro levara o automóvel da família quando saiu de casa, deixando a mulher e os filhos a pé. Gostava de zombar da mulher dizendo para andar de “Buzão”, que era o lugar dela. Marília gostava de andar de ônibus, isso não tinha importância, dizia, mas estava sem dinheiro e decidira não comparecer ao cemitério:

           - Já estava triste o suficiente, pensou a moça conformada. Mas, logo na primeira hora da tarde Leandro apareceu. Estava com bebida no corpo, pois o cheiro era inconfundível, e foi logo dizendo:

       - Tomei somente uma cerveja no almoço, não estou bêbado, e foi adentrando a sua antiga casa. O coração da moça parecia querer saltar fora do peito, mas ela precisava manter a calma.

       O ex-marido parecia calmo e propôs a ela que ambos fossem ao cemitério visitar o túmulo dos pais, dele e dela também. Marília sentiu medo, mas não teve como recusar e sentou-se no banco do carona, iria ao cemitério com Leandro, afinal os mortos ficariam contentes ao serem lembrados.

         O carro estava em péssimo estado de conservação. Quando ele pisava na embreagem o banco se movia para trás, parecia estar solto no piso do veículo. Ela tentou alertá-lo para o perigo de dirigir daquele jeito, mas ele zombou dela.

- Sou motorista até dormindo, você está com medo de que? Então, ele acelerou, fazendo a mulher se agarrar no pegador e começar a orar pedindo misericórdia a Deus.

                 Finalmente chegaram ao cemitério; Marília ainda não entendia porque havia aceitado aquela carona. Entraram no portão inicial e fariam as visitas aos túmulos seguindo a proximidade de cada um. Finalmente ela disse que deveriam seguir para o local onde não havia túmulos, somente a grama com a placa do nome do defunto. Lá estava enterrada sua mãe.

           Leandro concordou com a cabeça e subiu no túmulo da frente diante da surpresa da mulher, que protestou, dizendo ser pecado fazer aquilo. Com uma gargalhada ele prosseguiu, passando por cima dos túmulos que estavam em sua frente.

         Ela se calou fazendo de conta que ele não estava com ela. Marília estava ruborizada e, rapidamente depositou uma flor no túmulo de sua mãe saindo em seguida; não suportava mais ver a atitude de seu marido. Parecia enlouquecido faltando com o respeito aos mortos.

         O automóvel saiu cantando pneu e ela começou a rezar novamente. Jurava que nunca mais sairia com Leandro, estivesse ele bêbado ou não. Em uma certa altura do caminho, ele disse que iriam ao cemitério da cidade vizinha onde a mãe dele estava enterrada.

        Marília quase gritou de desespero, mas sabia que era isso que ele queria, amedronta-la. Então, resolveu pedir para passar em sua casa para pegar um maço de velas para a sogra.

            Quando ele parou, o banco do carro foi lançado para trás e ela desceu rapidamente do veículo, dizendo para ele ir sozinho. Entrou em sua casa com o coração disparado e tratou de fechar a porta com muito medo que ele estivesse atrás dela.

                 Alguns segundos se passaram e ela ouviu o carro sair em disparada, então respirou aliviada; estivera em seu limite de terror.


Um texto de Eva Ibrahim Continua na próxima semana.
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