MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 17 de março de 2021

"O MUNDO É UM ESPELHO QUE DEVOLVE A CADA PESSOA O REFLEXO DE SEUS PRÓPRIOS PENSAMENTOS. A MANEIRA COMO VOCÊ ENCARA A VIDA É QUE FAZ TODA A DIFERENÇA." LUÍS FERNANDO VERISSIMO

              
                 A MÁSCARA
 
  

  
            CAPÍTULO SEIS
  
      Os dias perderam o brilho, apesar do Sol intenso, pareciam escuros. Tereza andava como se tivesse uma espada sobre sua cabeça,  pronta a decepa-la. 
  

      Mantinha todos os seus medos confinados no lugar mais profundo do seu coração. Para o mundo, havia criado uma personagem cheia de vida e força, disposta a enfrentar tudo o que viesse pela frente. Uma máscara protetora.
   

     A mulher permaneceu em sua casa, aguardando o dia marcado para a consulta em seu setor de apoio à saúde. Sentia que havia muitas dúvidas, que precisavam ser esclarecidas. Sabia que somente a cardiologista tinha condições de esmiuçar o seu caso.
      

      O dia marcado chegou e Tereza se dirigiu ao local indicado. Aguardou na sala de espera e quando foi chamada, subiu dois lances de escadas. Chegou ao 
Consultório ofegante e  mal conseguia falar.
 Demonstrou o seu pior lado para a cardiologista,  que a tratou com carinho.
  
  
     Depois de verificar  os exames e cumprir o protocolo de uma consulta cardíaca,  a conversa foi dura e  incisiva. A médica, preocupada, disse:
  
 
     -Você é a paciente ideal para fazer duas pontes de safena e uma mamária, assim poderá viver mais trinta anos.
  
  
     Tereza riu e  completou: 
 

     - Bastam mais dez, quero ver meus netos  casarem.
   
 
     A paciente saiu dali com uma porção de exames agendados: exames de sangue, urina, ecografia da carotida, além de um encaminhamento para o hospital de referência da região, seu local de trabalho.  
   
 
      Foram tantas informações se confirmando, que ficou desenhado um quadro típico de doença coronariana e  pouco restou para questionar.

      A mulher voltou para casa, com uma sensação de caminhar para um poço sem fundo, sem alternativas para evitar a queda. 
    
  
      Descansou no final de semana e na terça-feira foi, juntamente com sua filha, entregar o encaminhamento no ambulatório de Cardiologia do referido hospital. 


       A atendente mandou voltar na sexta-feira de manhã, pois ali aconteceria a reunião da Cardiologia, na qual decidiriam se aceitavam o caso ou não. 
     

       Mais alguns dias se passaram e novamente estavam ali, mãe e filha.

       O encaminhamento foi levado para a reunião e logo veio a notícia  para ir a outro local e fazer os procedimentos de praxe, para a admissão no sistema  informatizado.  
  
 
      A mulher,  que era funcionária do local, já  tinha registro anterior e ficou para ser atendida em outra consulta. 
   
 
       A consulta foi realizada por um residente e logo veio outro e mais outra, desta vez uma residente cheia de pose. Todos foram incisivos:
     

 - O professor  mandou internar a paciente imediatamente, pois, corre risco de morte iminente.  
 

     Tereza ficou pálida e  resmungou: 
   

      - Não,  eu não  posso ficar agora, preciso ir até  minha casa e pegar minhas coisas. 
 

     - De jeito nenhum,  a senhora  pode morrer no caminho. Assim houve uma discussão acalorada. A paciente passou mal e começou a tremer. 
   

      - Vocês estão me assustando e pressionando, vou até minha casa e no final da tarde estarei de volta para internar.
    

     A residente mais eloquente a ameaçava com a perda da vaga, dizia que teria que entrar pelo  Pronto  Socorro, se não internasse naquela hora e tudo seria mais difícil. 
  
  
      Mesmo assim, Tereza foi até  sua casa para retornar mais tarde.
     

      A tristeza tomou conta de seus sentimentos, estava apavorada e com a sensação que iria morrer. Não sentiu os trinta e cinco quilômetros percorridos e quando adentrou à sua casa, queria se esconder e desaparecer.
     

     Entrou em seu quarto e  quedou-se no vaso sanitário, ali abriu o compartimento mais profundo do seu coração. No qual, depositou mais uma carga de temores e frustrações.    
 
     Depois, desabou em lágrimas por um longo tempo. Somente voltou à realidade quando sua filha bateu na porta. A moça, aflita, perguntou se estava tudo bem. 
  
   
      A mulher lavou o rosto, passou um batom vermelho, colocou seus óculos escuros, pegou sua máscara de mulher  forte, que estava depositada sobre a cômoda e colocou de volta no rosto sofrido. 

      Em seguida, abrindo a porta disse:

       - Estou pronta, vamos.

      Assim, saíram rumo ao seu deserto.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.