Os dias perderam o brilho, apesar do Sol intenso, pareciam escuros. Tereza andava como se tivesse uma espada sobre sua cabeça, pronta a decepa-la.
Mantinha todos os seus medos confinados no lugar mais profundo do seu coração. Para o mundo, havia criado uma personagem cheia de vida e força, disposta a enfrentar tudo o que viesse pela frente. Uma máscara protetora.
A mulher permaneceu em sua casa, aguardando o dia marcado para a consulta em seu setor de apoio à saúde. Sentia que havia muitas dúvidas, que precisavam ser esclarecidas. Sabia que somente a cardiologista tinha condições de esmiuçar o seu caso.
O dia marcado chegou e Tereza se dirigiu ao local indicado. Aguardou na sala de espera e quando foi chamada, subiu dois lances de escadas. Chegou ao
Consultório ofegante e mal conseguia falar.
Demonstrou o seu pior lado para a cardiologista, que a tratou com carinho.
Depois de verificar os exames e cumprir o protocolo de uma consulta cardíaca, a conversa foi dura e incisiva. A médica, preocupada, disse:
-Você é a paciente ideal para fazer duas pontes de safena e uma mamária, assim poderá viver mais trinta anos.
- Bastam mais dez, quero ver meus netos casarem.
A paciente saiu dali com uma porção de exames agendados: exames de sangue, urina, ecografia da carotida, além de um encaminhamento para o hospital de referência da região, seu local de trabalho.
Foram tantas informações se confirmando, que ficou desenhado um quadro típico de doença coronariana e pouco restou para questionar.
A mulher voltou para casa, com uma sensação de caminhar para um poço sem fundo, sem alternativas para evitar a queda.
Descansou no final de semana e na terça-feira foi, juntamente com sua filha, entregar o encaminhamento no ambulatório de Cardiologia do referido hospital.
A atendente mandou voltar na sexta-feira de manhã, pois ali aconteceria a reunião da Cardiologia, na qual decidiriam se aceitavam o caso ou não.
Mais alguns dias se passaram e novamente estavam ali, mãe e filha.
O encaminhamento foi levado para a reunião e logo veio a notícia para ir a outro local e fazer os procedimentos de praxe, para a admissão no sistema informatizado.
A mulher, que era funcionária do local, já tinha registro anterior e ficou para ser atendida em outra consulta.
A consulta foi realizada por um residente e logo veio outro e mais outra, desta vez uma residente cheia de pose. Todos foram incisivos:
- O professor mandou internar a paciente imediatamente, pois, corre risco de morte iminente.
Tereza ficou pálida e resmungou:
- Não, eu não posso ficar agora, preciso ir até minha casa e pegar minhas coisas.
- De jeito nenhum, a senhora pode morrer no caminho. Assim houve uma discussão acalorada. A paciente passou mal e começou a tremer.
- Vocês estão me assustando e pressionando, vou até minha casa e no final da tarde estarei de volta para internar.
A residente mais eloquente a ameaçava com a perda da vaga, dizia que teria que entrar pelo Pronto Socorro, se não internasse naquela hora e tudo seria mais difícil.
Mesmo assim, Tereza foi até sua casa para retornar mais tarde.
A tristeza tomou conta de seus sentimentos, estava apavorada e com a sensação que iria morrer. Não sentiu os trinta e cinco quilômetros percorridos e quando adentrou à sua casa, queria se esconder e desaparecer.
Entrou em seu quarto e quedou-se no vaso sanitário, ali abriu o compartimento mais profundo do seu coração. No qual, depositou mais uma carga de temores e frustrações.
Depois, desabou em lágrimas por um longo tempo. Somente voltou à realidade quando sua filha bateu na porta. A moça, aflita, perguntou se estava tudo bem.
A mulher lavou o rosto, passou um batom vermelho, colocou seus óculos escuros, pegou sua máscara de mulher forte, que estava depositada sobre a cômoda e colocou de volta no rosto sofrido.
Em seguida, abrindo a porta disse:
- Estou pronta, vamos.
Assim, saíram rumo ao seu deserto.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa