MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 25 de março de 2020

""FIO DE CABELO" "QUANDO A GENTE AMA QUALQUER COISA SERVE PARA RELEMBRAR. UM VESTIDO VELHO DA MULHER AMADA TEM MUITO VALOR. AQUELE RESTINHO DO PERFUME DELA, QUE FICOU NO FRASCO SOBRE A PENTEADEIRA. MOSTRANDO QUE O QUARTO JÁ FOI CENÁRIO DE UM GRANDE AMOR." "(...)" COMPOSIÇÃO: DARCI ROSSI E MARCIANO. CANTORES: CHITÃOZINHO E CHORORÓ/

UMA FLOR MURCHA

CAPÍTULO OITO
A mulher virou-se na cama e sentiu falta de Murilo, nos últimos dez anos seu corpo esteve ali, junto dela. O travesseiro, que mantinha o cheiro característico do marido, continuava ao lado do seu. Aquele odor misturado de shampoo e suor, que muitas vezes a incomodou, era a lembrança viva do seu amor. Agora parecia um perfume, que ela abraçava entre lágrimas.

           - Onde será que ele dormiu? Terá ido diretamente para a casa de Raquel? Será que fizeram amor, rindo de mim?

            Essas perguntas bailavam em sua mente. Sentou-se na cama, precisava levantar-se e verificar como estavam as crianças. Fez sua higiene pessoal chorando, olhava no espelho e via uma pessoa acabada. Estava sem a vivacidade costumeira, parecia ter envelhecido dez anos, na última noite.

             Lívia não levou as crianças para a escola, não queria ver ninguém. Sentia-se envergonhada, por ter perdido o marido para outra mulher. Passou o dia meio morta, levantava-se para atender as crianças, dar de comer ao cachorro, mas seu corpo pedia cama; estava aniquilada moral e fisicamente. De uma coisa ela tinha certeza, aquela história ninguém saberia de sua boca. Estava calada, vivendo o mais profundo luto da morte do seu casamento.

                    O final de semana chegou e ela continuava na mesma. Fazia três dias que o marido deixara sua casa. O telefone tocou várias vezes, porém, ela não atendeu. Lívia estava de mal com o mundo, não queria contato com ninguém, que estivesse fora de sua casa.

              Era domingo e já passava das dez horas da manhã, quando a campainha tocou, as crianças foram para a frente da casa. Em seguida, entraram correndo e gritando:
               - A vovó está chamando você, mamãe.

             Lívia se apressou a olhar pela janela, era sua sogra. Foi passar um pente no cabelo antes de abrir a porta, então percebeu, que estava envelhecida e desleixada. Entretanto, não havia tempo para se arrumar, a mãe de Murilo estava entrando, as crianças abriram o portão.

              - O que está acontecendo nesta casa? A mulher falou espantada, olhando a bagunça que havia ali, o que não era normal.

              - O seu filho nos abandonou por outra mulher. Lívia disse e começou a chorar.

          Rosa, a mãe de Murilo, tratou de abraçar a nora e confortá-la.

          - Vamos conversar, me conte tudo o que aconteceu, por favor.

        Entre soluços ela contou o motivo, pelo qual o marido havia ido embora. A velha senhora chorou junto com a nora; temia pelo futuro dos netos.

            - Nunca pensei ter que presenciar uma situação como essa. O que posso fazer para ajudar? 

           Lívia não soube responder, estava emocionada, gostava da sogra e via nela uma amiga. Fez almoço e todos comeram juntos, as crianças estavam felizes com a presença da avó. Rosa trouxe, também, um pouco de alívio para o coração da nora.

                    Depois do almoço, a sogra saiu dizendo que iria conversar com o filho; ele tinha obrigações a cumprir. A nora ficou olhando a mulher partir e sentiu vontade de reagir. Não poderia continuar naquela morbidade, em que se encontrava naquele momento. Sentia-se como se fosse uma flor murcha.

            Murilo tinha deixado para trás, muitas coisas importantes, inclusive documentos de uso pessoal. Na pressa de sair de casa, pegou a carteira e as roupas que estavam no guarda-roupas, mas havia outras peças no cesto de roupas sujas e na bancada para passar o ferro.

          No quartinho de despejo ficaram todas as suas ferramentas, as varas e apetrechos de pesca, além de acessórios do automóvel. Quase tudo que havia naquele lugar era de Murilo, apenas as vassouras e produtos de limpeza pertenciam à sua mulher. Então, era apenas uma questão de tempo para ele voltar e pegar suas coisas.

             Lívia respirou fundo, estaria ali quando ele voltasse. Assim, teria com seu marido a conversa mais importante de suas vidas. Ele poderia ficar com sua amante, mas teria que arcar com todas as responsabilidades, que tinha com os filhos.

            A primeira providência a ser tomada, seria trocar as fechaduras das portas de entrada, desse modo ela não teria nenhuma surpresa. Ela tinha uma quantia de dinheiro em casa, Murilo era generoso e nunca deixava faltar nada. Dessa maneira, ela poderia chamar o chaveiro e quando ele voltasse, teria que tocar a campainha.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

domingo, 22 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "(...) HOJE EU QUERO O AMOR, O AMOR MAIS PROFUNDO. EU QUERO TODA A BELEZA DO MUNDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. AI, COMO ESSE BEM DEMOROU A CHEGAR. EU JÁ NEM SEI SE TEREI NO OLHAR, TODA A TERNURA QUE EU QUERO LHE DAR." CANTORA E COMPOSITORA DOLORES DURAN

OLHOS NOS OLHOS

CAPÍTULO SETE
              Lívia teve o dia todo para deglutir aquela história, que embrulhava seu estômago. Não almoçou e mal conseguiu tomar um gole de café, alguma coisa estava entalada em sua garganta. Só conseguia pensar na mulher, que era a responsável por tudo aquilo. Agora, ela sabia o nome, que seu marido devia balbuciar nos ouvidos dela.

             Chorou algumas vezes ao se lembrar de momentos felizes e, da cumplicidade que ambos tinham. O amor jurado no altar, reafirmado a cada aniversário e demonstrado quando os filhos nasceram, estava agonizando. Ela era uma mulher tranquila, tinha certeza do amor do marido. E, o seu mundo desmoronou tão rapidamente, que ela custava a acreditar.

            Completou o curso de administração, mas nunca trabalhou fora de casa. Murilo não queria que os filhos ficassem em creches, preferia que sua esposa cuidasse deles. Assim, tinha tranquilidade para trabalhar, era o que ele costumava dizer.

            – Como farei para sobreviver sem o dinheiro de Murilo? Como farei para criar os meus filhos? Eram perguntas que dançavam em sua mente. Lívia não tinha nenhuma experiência no mercado de trabalho.

             - O que direi para minha família? Minha mãe já é idosa e poderá não resistir a uma notícia dessas.

             A mulher estava desesperada, não sabia como abordar o assunto com o marido. Precisava resolver aquela situação, ou não teria mais paz. Foi buscar as crianças na escola e se distraiu um pouco, no entanto, quando entrou em casa, sentiu que o problema continuava presente em sua vida. Teria que encontrar uma solução urgente, estava vivendo num inferno.

          Depois do jantar, as crianças foram dormir e a mulher ficou sozinha com o marido. Murilo sentou-se na sala e ligou a televisão, enquanto isso, Lívia arrumava a cozinha. Seus pensamentos fervilhavam, ela começou a suar, então respirou fundo e tomou um copo de água.

           Depois, ela foi juntar-se ao marido na sala, que estava assistindo o jornal da noite. Ele não percebeu o nervosismo dela, estava atento à televisão. Lívia sentou-se no sofá e ficou olhando fixamente para Murilo. Quando entrou o comercial, ele percebeu que ela estava diferente, então perguntou:

- Aconteceu alguma coisa? Por que está calada?

A mulher juntou toda sua coragem e perguntou:

 - Quem é Raquel?

O marido ficou pálido, como ela sabia de sua amante? Então, respondeu:
             
  - Que Raquel, não sei.

    Sua esposa levantou-se, estava muito nervosa e despejou tudo de uma vez:

- Uma morena que vi saindo com você da oficina, naquela noite que você disse, que faria serão até tarde.

 Murilo também se levantou, estava pálido e tentou se justificar.

– Era uma freguesa da oficina, onde você foi buscar essa informação?

- Eu vi com meus próprios olhos e vocês estavam de mãos dadas. Não tente negar, eu li as mensagens no seu celular.

 Ela disse isso e se afastou, estava com medo da reação dele. A mulher saiu da sala e ele foi atrás, agora era ele que queria conversar.

               A pegou pelos braços e forçou que se sentasse na cadeira da cozinha, então, em pé diante dela ele disse:

              - É verdade, estou apaixonado por Raquel, ela me dá a atenção e carinho, que já não encontro em você. Ainda estou nessa casa por amor aos meus filhos, senão já teria ido morar com ela.

               A mulher ficou enfurecida com as palavras dele e olhando olhos nos olhos vociferou:

            - Vai embora daqui agora, me deixa em paz. E começou a chorar.

           Com tanto barulho, as crianças acordaram, estavam assustadas. Lívia os levou de volta ao quarto e ficou lá até que se acalmassem. Isso demorou, mais ou menos, uma hora e meia. Até que, ela ouviu o automóvel de Murilo sair da garagem e arrancar acelerando. Olhou para as crianças que adormeceram novamente, então, ela foi verificar o que o marido havia feito, na ausência dela.

              Abriu o guarda-roupas e ele levara a maioria de suas coisas, a verdade era que ela fora abandonada, por causa de outra mulher. Não sabia o que fazer ou pensar, fechou as portas da casa e foi se deitar. Havia um silêncio estranho na casa, que a incomodava muito.

            O dia amanheceu e ela ainda estava acordada, pensando em tudo que havia acontecido. Estava só e com um sentimento de vazio, que inundara seu coração. Precisava arrumar forças para continuar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.