DIAS ESCUROS
CAPÍTULO CINCO
O homem estava tão triste, que se
jogou na cama sem jantar. No dia seguinte, acordou quando o Sol já estava alto,
o cansaço e as emoções vividas o derrubaram. Levantou-se e procurou alguma
coisa para comer. Depois saiu para comprar alimentos e máscaras; todos deveriam
usar máscaras, ele ouviu na televisão. Saulo estava emocionalmente aniquilado.
Ele sabia que deveria ficar em casa, mas
estava tão ansioso, que não poderia ficar parado, esperando notícias sobre a
saúde de sua mulher. Iria até o hospital e depois passaria no escritório,
precisava trabalhar para ocupar sua mente.
No hospital, disseram que o
boletim diário já havia saído, se quisesse poderia verificar no quadro da
parede. Saulo se dirigiu até o painel e lá estava escrito:
“Os pacientes, que se encontram
internados na Unidade de Terapia Intensiva desse hospital (UTI), continuam com
o mesmo quadro crítico. Não houve mudanças significativas no estado de saúde de nenhum deles”.
Saulo sentiu uma dor no coração,
sua esposa continuava lutando pela vida e ele não poderia fazer nada, nem mesmo
vê-la. Voltou ao escritório, precisava trabalhar para mudar o foco, ou acabaria
enlouquecendo. Ficaria em casa trabalhando, assim como seus colegas.
A casa seria seu lugar de refúgio
contra o Coronavírus, um lugar vazio de vida, que se tornara frio com a falta
da mulher e das filhas. A foto da família na estante dava um toque de nostalgia
na sala, onde podia-se observar a bagunça, já estabelecida na casa.
Roupas jogadas por todos os lados, na pia da
cozinha havia uma porção de louças sujas. Na mesa havia restos de pães, papéis espalhados
e outros utensílios usados e o lixo transbordava. Naquele lugar faltava asseio.
Saulo era um homem sem prendas
domésticas e a falta de uma mão feminina era visível. Ele pensou em chamar a
Vanda, mas ela estava de quarentena e ele teria que se virar sozinho.
Lavou as louças, que estavam na pia
e deixou escorrendo no apoiador. Pegou as roupas sujas e colocou
na máquina de lavar. Seguiu o manual para colocar sabão, amaciante e a ligou a
seguir. Olhando ao redor, ficou satisfeito, parecia ter melhorado o aspecto da
residência.
Quando ele se sentou em frente ao computador,
a campainha tocou, era seu irmão mais velho, de nome Olavo. Ele soubera que a
cunhada estava no hospital e queria ajudar o irmão, no que fosse preciso. Saulo
chorou ao contar o ocorrido, não poderia perder sua esposa, ele e as meninas
precisavam dela.
Olavo foi comprar comida e os dois
almoçaram juntos. A tarde passou rápido, o rapaz agradeceu a visita ao irmão,
sentia-se menos angustiado. Trabalhou até tarde e quando o cansaço chegou,
deitou e dormiu. Os dias pareciam se repetir, foram dez longos dias, todos
parecidos.
No décimo segundo dia, o rapaz
recebeu a ligação de uma assistente social do hospital. Ele tremeu de medo e na
mesma hora pensou:
- Será que Alana morreu? Sua voz
embargou, mas a notícia era boa.
– Alana, sua esposa, teve uma
melhora e hoje foi retirada do tubo que a ligava à máquina. Em dois ou três
dias irá para o quarto, então poderá receber sua visita. A mulher falou e
desligou em seguida.
Ele caiu sentado no sofá, estava
surpreso, já não tinha esperanças. Sua esposa estava melhorando e ele precisava
contar para sua irmã, que cuidava de suas filhas. Saulo parecia uma criança,
que ganhou um presente. Ligou para Vanda e pediu que assim que saísse da
quarentena, viesse cuidar da casa para preparar a volta de sua esposa.
O homem ficou elétrico, a vida estaria
de volta naquela casa, em poucos dias. Foi ao escritório contar para seu chefe,
que estava com esperanças para o retorno de Alana. Mais dois dias e a notícia
tão esperada chegou, ele poderia visitar sua mulher.
Tratou de se arrumar, passou em uma
floricultura e comprou um maço de miosótis. São florezinhas pequenas e
charmosas, que sua esposa gostava muito. Chegando na recepção do hospital, foi
informado de que as flores ficariam ali mesmo, eram proibidas nos quartos.
Saulo sorriu e disse:
- Deixe-as aí, pois representam a recuperação
do meu coração, que enfeitem esse lugar. Eu preciso da minha mulher.
Em seguida entrou sorrindo, fazia
muitos dias que aquele homem só chorava.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa