ESTRELINHAS LUMINOSAS
CAPÍTULO TRÊS.
Depois
de muitos anos usando os óculos, ele se tornara parte do meu corpo, só
descansava quando eu dormia. Assim mesmo, ficava sobre o criado-mudo, dentro do
meu alcance, pois, a primeira coisa que eu fazia ao acordar era colocá-lo sobre
o meu nariz. Há três anos eu percebi que meus óculos estavam ficando fracos
muito rapidamente, passei a visitar o oftalmologista pelo menos duas vezes ao
ano.
Os
óculos pareciam embaçados e eu os lavava e enxugava carinhosamente; porém, no
dia seguinte estavam embaçados novamente. O especialista prescrevia nova
receita e eu trocava as lentes; melhorava por algum tempo, entretanto, logo começava
a ficar ruim novamente.
Em
uma dessas visitas ao médico, ele me disse que estava próximo o dia em que eu
teria que trocar os cristalinos, pois o meu olho direito estava iniciando uma
catarata. E, que sempre começa com a impressão de que os óculos estão sempre
embaçados; surgem os lacrimejamentos e o desconforto visual. Com o passar do
tempo, eu comecei a ter dificuldades para dirigir de frente para o Sol.
Mandei
colocar a película protetora nos vidros de meu carro de uma cor mais escura.
Não adiantou nada, a claridade excessiva me cegava de um jeito, que eu tinha
que encostar o automóvel para não bater em outro veículo. Algumas vezes,
precisava aguardar o trânsito melhorar e procurar caminhos alternativos em
diagonal, para fugir do astro rei.
Sou
uma pessoa de pensamento positivo e sempre acreditei que essa situação seria
passageira; era só trocar as lentes dos óculos, que voltaria a enxergar
normalmente; tenho uma negação constante quando se trata de doenças.
Eu
estava muito ocupada com trabalho, escola e minha casa, então, não dispunha de
tempo para procurar o médico especialista. Quando pudesse, iria fazer uns
óculos escuro de graus, para poder dirigir e tudo ficaria bem. Eu não queria
nem pensar na possibilidade de fazer uma cirurgia em meus olhos.
Entretanto,
no ano passado outro fato aconteceu para aumentar o meu medo e consequentemente
a minha negação. Quando eu deitava em minha cama para assistir televisão e
fechava o olho esquerdo, a televisão ficava embaçada. Depois começou a surgir
pequenos relâmpagos no canto do olho ruim. Eram pequenas estrelinhas
brilhantes, que me incomodavam e deixavam assustada. Sabia que deveria procurar
o médico com urgência, mas, eu não queria ouvir a opinião dele.
Depois
de alguns meses, eu vivia lavando aquele olho com soro fisiológico, parecia que
melhorava um pouco. O tempo passava e a minha visão piorava, no entanto, eu
insistia que estava tudo bem, até o dia em que precisei renovar minha carteira
de habilitação.
Quando
fui fazer o exame médico fui reprovada, pois, não enxergava as letras no fundo
do aparelho de teste da visão, com o olho direito. Depois de vários exames e o
compromisso de procurar um oftalmologista eu consegui minha carteira novamente.
No entanto, evitava dirigir enquanto aguardava a consulta com o especialista.
O
médico foi categórico, somente uma cirurgia resolveria a opacidade do meu olho
direito, que estava com catarata. E, o
olho esquerdo também teria o cristalino trocado, assim, eu deixaria de usar os
óculos. Essa possibilidade me deixou alegre, afinal, era a única coisa boa de
toda aquela história dantesca.
Uma
semana antes da data marcada eu tentei fugir da cirurgia criando empecilhos,
porém, minha família não permitiu e eu fui obrigada a assumir a cirurgia de
catarata.
Então, com o coração apertado cheguei à sala de espera do centro cirúrgico de oftalmologia.
Então, com o coração apertado cheguei à sala de espera do centro cirúrgico de oftalmologia.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.