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quarta-feira, 4 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA - "TUDO PODE SER, SE QUISER SERÁ. O SONHO SEMPRE VEM PRA QUEM SONHAR. TUDO PODE SER, SÓ BASTA ACREDITAR. TUDO QUE TIVER QUE SER SERÁ..." COMPOSITORES: MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS.


 LUA QUE ME FAZ SONHAR

A LUZ DO LUAR

CAPÍTULO UM
As meninas não se misturavam com os meninos, era feio ser moleca naqueles idos de um mil novecentos e sessenta e poucos. Ainda havia ética e moral vigente nas famílias brasileiras. Embora hoje em desuso, os filhos obedeciam aos pais, que outrora eram tidos como sábios e detinham o poder de resolver todas as questões, até as mais difíceis e arrasadoras. Os adultos e as pessoas mais idosas, não tinham diploma universitário, mas conseguiam resolver tudo; eram formadas na escola da vida.

As meninas se vestiam de meninas e os meninos jogavam bola. Enquanto elas sonhavam com um príncipe encantado, eles sonhavam com os super-heróis das revistas em quadrinhos.  Frequentavam as missas aos domingos e temiam o coisa ruim, tanto que se recusavam em dizer seu nome.

 Telefone era coisa rara e quem tinha era poderoso e invejado pelos cidadãos comuns. Somente o médico, o farmacêutico ou o prefeito que se gabavam de tamanho luxo. O primeiro fusca foi trazido pelo dono da farmácia, que era um alquimista, um mágico curador. Com suas poções tratava a maioria da população, pois, o único médico das redondezas só era chamado em último caso. Ninguém tinha dinheiro para pagar uma consulta médica.

Os bebês nasciam pelas mãos das parteiras, que, geralmente, eram grandes e fortes para enfrentar qualquer parada, durante o dia ou a noite. Chuva, barro ou lamaçal, nada as detinham, enfrentavam qualquer perigo, para socorrer uma mãe sofrida. E, também aceitavam qualquer coisa em forma de pagamento, desde animais, ovos, frutas, verduras e outras quinquilharias quaisquer.

Nas festas cívicas todos participavam, ficavam nas ruas aplaudindo ou desfilando na avenida. No carnaval, os homens vestidos com a carcaça de bois avançavam em direção aos seus amigos e até aos inimigos, pois, estavam camuflados. A ninguém era permitido saber quem estava dentro daquele corpo de sacos de estopa pintados. As crianças agarravam nas saias de suas mães, para se protegerem das investidas dos bois malandros, que assustavam até os adultos.

Uma vez por ano, havia um baile, que movimentava todas as pequenas cidades da região; o baile das debutantes. As meninas mais bonitas e de famílias com certo poder aquisitivo, eram convidadas a serem apresentadas à sociedade em uma grande festa de gala. Todas deveriam ter quinze anos, feitos ou a fazer naquele ano, antes do baile.

 A primeira dama da cidade tomava conta de tudo, era ela quem dava a última palavra para todas as questões referentes ao evento. Havia um clima de camaradagem e respeito entre as pessoas, todos se ajudavam dentro do possível. A dor de um era a dor de todos, os vizinhos e parentes estavam sempre prontos para qualquer emergência.

Nesse clima de camaradagem era muito difícil alguém roubar ou matar outra pessoa. Então, as mulheres se juntavam em frente aos portões e as crianças brincavam na rua até tarde da noite. As mães, sentadas em troncos de árvores feitos bancos, trocavam receitas, faziam fofocas veladas ou confidências íntimas, enquanto as crianças corriam na rua e os pais batiam papo no bar.

Já os adolescentes jogavam bola no campinho improvisado na rua de chão batido de terra e as meninas cismavam ao ver a lua brilhando no céu. Muitos iam dormir com os pés sujos de terra de tanto cansaço, apenas desmaiavam nas camas.

É nesse contexto que Maria Alcina e suas vizinhas amigas sentavam-se em um barranco, em frente a uma das casas e ficavam sonhando acordadas. Olhavam a lua enorme, que sempre aparecia em noites de verão e chegavam a ver são Jorge e o dragão. Elas juravam que a lua era a casa do santo milagreiro. Era uma lua feita de cristal, que reluzia iluminando a noite escura e fazendo as meninas sonharem.
 Um texto de Eva Ibrahim

MEU MUNDO REINVENTADO.

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