UMA ROSA PARA GILDA
CAPÍTULO TRÊS.
Gilda seguiu andando pela rua de cabeça
baixa, estava muito triste por tudo que aconteceu ao seu filho; também sentia vergonha
por estar com os pés descalços. Entretanto, havia uma paz estranha dentro dela,
à ferida ainda estava aberta, mas já não sangrava tanto. Lá no fundo ela sabia
que não estava só, alguém olhava por ela e por Sandro.
Ao entrar em sua casa, sentiu um perfume
de flores, entretanto, não havia nenhuma flor no ambiente, a sala estava na
penumbra. Quando adentrou ao quarto, ela foi até o criado mudo e avistou uma
rosa ao lado do remédio de feridas; o mesmo que cegou seu menino.
Sentou-se na cama e pegou a rosa nas
mãos, era apenas um botão vermelho, que exalava um perfume inebriante.
-Quem
teria colocado a flor ali?
De repente ela sorriu, já sabia a
resposta, foi o anjo que a amparou, a mulher negra. Franziu a testa e se lembrou
de que não sabia o nome dela. Era muito estranha à situação vivida, pensou a
mulher encabulada. Depois, levantou-se apressada adentrando ao banheiro. Tomou
um banho rápido, estava se sentindo suja. Antes de sair, colocou a rosa em um
copo de água e, com o vidro de remédio na mão seguiu para o Hospital.
O vento frio da manhã batia em seu rosto
e ela sentia que ainda estava viva, apesar de toda aquela loucura que ocorrera
em sua vida. Teria que buscar forças para enfrentar a luta que se iniciava
naquele dia.
Sandro foi internado no Hospital de
oftalmologia, teria um atendimento especializado; seu caso era grave e
irreversível, dissera o médico. Gilda permanecia ao lado do filho, enquanto seu
marido levava à notícia aos parentes, que a condenaram impiedosamente.
Seu coração já estava em frangalhos com a
situação e ainda teria que suportar a indiferença do marido e o falatório dos
parentes e conhecidos. Porém, ela recebeu apoio de uma prima distante, que
viera para ajuda-la, assim que soube do ocorrido.
Sofia
era filha de uma tia de Gilda e perdera o filho ainda pequeno; agora estava
separada do marido. A criança teve meningite e morreu em três dias, a mulher
sofreu muito e quando soube dos acontecimentos na casa da prima ficou nervosa e
disse que iria ajuda-la.
Estava disponível para aliviar as dores
de Gilda e seu filho; eles não estavam sós. Curava sua dor da perda ajudando as
pessoas necessitadas.
Sofia cuidava da casa de Gilda enquanto
ela acompanhava o filho internado.
Passados dez dias, Sandro tivera alta do Hospital;
as feridas dos olhos estavam cicatrizadas. Voltaria para casa, estava cego; um mundo
escuro e difícil se iniciava para ele e sua mãe.
O pai foi busca-los no Hospital e estava
cheirando a álcool; Gilda estranhou, ele não gostava de bebidas.
–Será que agora iria começar a beber?
Ele
mal olhou para ela; pegou o filho no colo e abraçou. Uma coisa era certa,
Danilo amava o menino e estava sofrendo muito com aquela situação. Todos da
família estavam sofrendo de alguma maneira e a culpada era Gilda. Que fora
julgada sem piedade, sem direito de defesa e condenada ao sofrimento eterno.
O que menos importava para a família de
Danilo era seu sofrimento, teria que ficar calada. Até sua família a condenava,
ninguém queria ouvir suas explicações. Sua vida estava acabada desde o dia do
acidente, agora viveria para diminuir o sofrimento de Sandro. Seria a luz dos
olhos de seu filho, jamais o abandonaria.
Ao chegar a sua casa ela viu a rosa no
copo de água, ainda estava viva e com seu perfume espalhado pelo ambiente.
Sofia
estava esperando a família com a casa limpa e a comida pronta; Gilda agradeceu
a prima com um abraço. Depois pegou um envelope que estava sobre a mesa e
abriu. Havia um pequeno pedaço de papel com a frase:
“Boas
vindas”, Dora.
Não tinha remetente, nem endereço; somente
o nome dela na frente. Gilda sorriu, era dela, seu anjo da guarda, a mulher
nunca dissera seu nome, porém, ela tinha certeza que era dela o bilhete, tinha o
cheiro da rosa vermelha.
Ela beijou seu filho, Dora estava por
perto, ela sentia sua presença.
Sandro era um menino calmo e gostava de
ouvir histórias que sua mãe lia em livros infantis. Gilda ainda não lhe dissera
que nunca mais veria as coisas a sua volta, apenas dizia que seus olhos
precisavam sarar. Ela e Sofia tiraram móveis e coisas do caminho para facilitar
a locomoção do menino. As duas mulheres o guiavam pela casa, pegando em sua
mão. Sofia cuidava da casa enquanto a mãe cuidava do menino e seu tratamento.
Danilo chegava a sua casa já ao anoitecer
e sempre cheirando a cachaça. Dava um beijo no filho e caia na cama, ignorando
sua mulher.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.