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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

"AMAR" "...QUE PODE, PERGUNTO, O SER AMOROSO, SOZINHO, EM ROTAÇÃO UNIVERSAL, SENÃO RODAR TAMBÉM E AMAR? AMAR O QUE O MAR TRÁS À PRAIA, O QUE ELE SEPULTA. E O QUE NA BRISA MARINHA É SAL OU PRECISÃO DE AMOR, OU SIMPLES ÂNSIA?" CARLOS DRUMMOND ANDRADE

EU ESTAVA LÁ

CAPÍTULO CINCO
           Quirino foi visitar o filho e ficou alegre com a notícia, que ele fora transferido para a enfermaria, porque as visitas seriam facilitadas. Os irmãos poderiam vê-lo com mais frequência e os avós também. Estava determinado a não tocar no assunto da pombinha, queria que aquela história caísse no esquecimento; jamais iria incentivar uma maluquice daquelas.

            No entanto, depois dos cumprimentos o filho perguntou?

             – Os filhotes de pombinhos já chocaram? Já devem ter nascidos, estavam bicando dentro dos ovos. Depois desviou o olhar e disse:

            - Havia um anjo nos observando, estava sentado na janela.

            Quirino ficou assustado com aquela conversa esquisita, teria que sair dali antes de se alterar e prejudicar o filho. Era um homem do campo e tinha pouca leitura, nada sabia sobre coisas sobrenaturais.

            Ele conhecia as histórias que os mais velhos contavam, mas nada parecido com as conversas de Alceu. Sentia muito medo de tudo aquilo e temia que o filho estivesse ficando maluco. Precisava sair dali rapidamente, então, disfarçou dizendo que a mãe queria entrar e saiu tropeçando porta afora.

            Rosa entrou constrangida, não queria falar sobre aquela história, que a incomodava muito, mas não tinha como evitar. Beijou o filho e este foi logo perguntando sobre os pombinhos. Então, ela disse:

            - Seu pai e o André subiram no telhado e viram o ninho e os dois filhotinhos, depois apareceu a mãe deles, que levava comida para alimentá-los. Alceu, eu preciso que me conte tudo, desde o princípio. Como soube da mudança?

            - Mãe, eu acho que sai do corpo, eu podia volitar, isto é, me locomover sem esforço e sem tocar o chão. Quando percebi onde estava fiquei assustado, era a estrada que leva ao sítio. Em seguida, o velho caminhão do pai apareceu e vinha em minha direção, eu dei sinal, mas ninguém me viu. Então, sentei na carroceria e prossegui a viagem com vocês.   

             - Foi exatamente no dia em que você teve uma parada cardíaca meu filho, disse a mãe com medo daquela história. O médico disse que você quase morreu, justamente no dia da mudança.

           O paciente respirou fundo, queria ganhar forças para prosseguir:

- Enquanto vocês descarregavam o caminhão, eu fiquei sentado no telhado e vi quando a pombinha entrou por debaixo das telhas. Depois que a pombinha saiu para procurar comida, eu ergui a telha e pude ver os dois ovinhos. De repente, me deram um puxão tão forte que voltei ao meu corpo. É o que aconteceu, por isso sei que mudaram para cá.

                 A mãe estava chorando quando Alceu terminou a frase e ele se emocionou. 

                 - Não precisa chorar mãe, estou bem e hoje eu vi um anjo sentado na janela, o pai estava aqui.

           - Meu Deus, cada vez piora mais, não sei o que faremos daqui para a frente.  Rosa sussurrou preocupada.

           Havia uma nuvem sobre sua cabeça, parecia que os seus miolos estavam queimando.
                  Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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