EU
ESTAVA LÁ
CAPÍTULO
CINCO
Quirino foi visitar o filho e ficou alegre
com a notícia, que ele fora transferido para a enfermaria, porque as visitas
seriam facilitadas. Os irmãos poderiam vê-lo com mais frequência e os avós
também. Estava determinado a não tocar no assunto da pombinha, queria que
aquela história caísse no esquecimento; jamais iria incentivar uma maluquice
daquelas.
No entanto, depois dos cumprimentos
o filho perguntou?
– Os filhotes de pombinhos já chocaram?
Já devem ter nascidos, estavam bicando dentro dos ovos. Depois desviou o olhar
e disse:
- Havia um anjo nos observando, estava
sentado na janela.
Quirino ficou assustado com aquela
conversa esquisita, teria que sair dali antes de se alterar e prejudicar o
filho. Era um homem do campo e tinha pouca leitura, nada sabia sobre coisas
sobrenaturais.
Ele conhecia as histórias que os mais velhos
contavam, mas nada parecido com as conversas de Alceu. Sentia muito medo de
tudo aquilo e temia que o filho estivesse ficando maluco. Precisava sair dali
rapidamente, então, disfarçou dizendo que a mãe queria entrar e saiu tropeçando
porta afora.
Rosa entrou constrangida, não queria
falar sobre aquela história, que a incomodava muito, mas não tinha como evitar.
Beijou o filho e este foi logo perguntando sobre os pombinhos. Então, ela
disse:
- Seu pai e o André subiram no
telhado e viram o ninho e os dois filhotinhos, depois apareceu a mãe deles, que levava comida para alimentá-los. Alceu, eu preciso que me conte tudo, desde o
princípio. Como soube da mudança?
- Mãe, eu acho que sai do corpo, eu
podia volitar, isto é, me locomover sem esforço e sem tocar o chão. Quando
percebi onde estava fiquei assustado, era a estrada que leva ao sítio. Em
seguida, o velho caminhão do pai apareceu e vinha em minha direção, eu dei
sinal, mas ninguém me viu. Então, sentei na carroceria e prossegui a viagem com
vocês.
- Foi exatamente no dia em que você teve uma
parada cardíaca meu filho, disse a mãe com medo daquela história. O médico
disse que você quase morreu, justamente no dia da mudança.
O paciente respirou fundo, queria
ganhar forças para prosseguir:
-
Enquanto vocês descarregavam o caminhão, eu fiquei sentado no telhado e vi
quando a pombinha entrou por debaixo das telhas. Depois que a pombinha saiu
para procurar comida, eu ergui a telha e pude ver os dois ovinhos. De repente,
me deram um puxão tão forte que voltei ao meu corpo. É o que aconteceu, por
isso sei que mudaram para cá.
A mãe estava chorando quando
Alceu terminou a frase e ele se emocionou.
- Meu Deus, cada vez piora mais, não
sei o que faremos daqui para a frente. Rosa sussurrou preocupada.
Havia uma nuvem sobre sua cabeça, parecia que
os seus miolos estavam queimando.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa