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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR. UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR. TRISTEZA QUE VAI, TRISTEZA QUE VEM. SEM VOCÊ, MEU AMOR, EU NÃO SOU NINGUÉM". VINÍCIUS DE MORAES.

SEM SAÍDA
CAPÍTULO SETE
         A conversa aconteceu na sala de estar e, sem dúvida, foi a situação mais constrangedora que Clara já vivera. O homem com o qual se casara era amoroso, íntegro, bom marido, bom filho e bom pai. Entretanto, aquele que ali estava, parecia estar pedindo desculpas por ser fraco e querer viver uma vida extraconjugal. Mentir para as crianças fez sua mulher perceber o grau de envolvimento que ele tinha com sua amante; estava apaixonado. Ela e os filhos tornaram-se, apenas, empecilhos na vida dele.
        Marcos disse aos filhos, que passaria dias fora de casa por conta de negócios que tinha em outras cidades, que era para as crianças se acostumarem e obedecerem à mãe. Poderiam ligar para o seu celular sempre que fosse necessário; nunca os abandonaria. Nada faltaria naquela casa, desde que Clara se comportasse como uma mãe de família honrada. Marcos enfatizou olhando para sua mulher.
Ela ficou furiosa, além de tudo, cobrava fidelidade; um traidor e mentiroso, que só queria viver a vida. Ele tinha a força do dinheiro, porque moral não lhe sobrara nenhuma.
       Clara sentiu vontade de vomitar, mas se conteve, esperaria a hora certa para lhe dar o troco. As crianças foram para o quarto e ele pegou uma maleta de roupas, em seguida saiu sem dizer nada; cantando pneus. Pronto, ela estava só e com dois filhos para criar. Ele que fosse para o inferno, desejou a mulher em prantos.
       - Como aquele homem, que um dia fora seu amor, poderia ser feliz promovendo tanta infelicidade? Só Deus poderia lhe responder.
        Ela estava tão triste que se jogou na cama com a roupa que vestia. Clara gostaria de desaparecer, porém, os filhos precisavam dela e ela teria que ficar forte. Ainda bem que João e Renata não perceberam nada e ela teria alguns dias para lhes contar a verdade. Tomou um comprimido para dor de cabeça e adormeceu. Acordou às sete horas com o telefone tocando.
Era sua irmã chorando e avisando que seu pai falecera no Hospital de sua cidade natal. Clara empalideceu, mais uma noticia ruim.
– O que faria? Precisava avisar seu marido, que deveria estar dormindo com sua amante.
De uma coisa ela tinha certeza, não teria nenhum tipo de compreensão, ele teria que acompanha-la nesse momento de tristeza. Foram quinze anos de casamento, sua família não sabia dos últimos acontecimentos e ele teria que se comportar como um ser civilizado. Bastava à tristeza que sua mãe estava vivendo, não lhe daria mais desgosto.
Quando Marcos atendeu o celular parecia visivelmente contrariado.
       –Será que Clara não lhe daria sossego? Pensou o homem, respondendo rispidamente.
         Ela mal conseguia falar, tão desesperada que estava com a notícia da morte. Ele percebeu que não poderia fugir; disse que iriam para o velório e acompanhar o funeral de seu pai, que esperassem prontos. Na verdade esse fato mexeu com os sentimentos de Marcos, afinal, acompanhar o enterro do pai não é a mesma coisa que acompanhar o enterro de um amigo. Ficara com pena de Clara e triste também, gostava do Romeu, seu sogro; homem alegre e brincalhão. O velho gostava de levar o neto para pescar no lago; João estava inconsolável pela morte do avô.
        Quando ele chegou, Clara e as crianças estavam paradas em frente á casa; Marcos sentiu-se culpado por fazê-los sofrer. Pareciam tão desconsolados e aquela era a sua família.  Apesar de seu amor por Selma, ele amava os filhos e por sua esposa tinha sentimentos contraditórios, ora sentia amor, ora sentia raiva.
 Sentaram-se no automóvel em silêncio, de vez em quando ouviam um lamento e um choro de Clara. Marcos permanecia calado, pois, o silêncio é uma forma de respeito pela dor do outro. Até as crianças compreenderam a dor de sua mãe e também sentiram a morte do avô. Os dois, João e Renata, permaneceram quietos durante todo o trajeto.
       Marcos se comportou muito bem, deu o braço à sua esposa até a beira do túmulo e depois a acompanhou até a casa de sua sogra. Ainda havia muita coisa entre eles; não seria fácil se separar. Ele olhava para sua mulher e quase podia ouvir seu coração chorando. A morte abala, desconcerta e até o coração mais duro sente a dor do outro. Foi um dia desconfortável para o homem que tentava se desligar de sua mulher. As crianças choraram e depois se envolveram com os primos; estavam bem.
À tardinha, Marcos disse à sua sogra que deveria voltar à sua cidade, pois, os negócios não podiam parar. Deu um abraço mudo em Clara e afagou seus cabelos, dizendo que ela deveria ficar uns dias com sua mãe. No fim de semana viria busca-los, já que vieram no automóvel dele. Marcos se foi, deixando uma grande mágoa no coração triste de sua mulher; ela teria que consolar e ser consolada para permanecer viva.
A semana passou devagar entre choros e recordações do velho pai; sua mãe estava fragilizada com os últimos acontecimentos e Clara nada diria sobre seus problemas com Marcos. Não era hora de contar a traição do marido, ficaria para outra ocasião. Estava de luto e seu coração em pedaços.
Clara passou a frequentar a Igreja, precisava de consolo divino e estreitar sua relação com Deus, pois, aliviava sua alma; sentia-se menos triste. No sábado de manhã, Marcos chegou para busca-los e conduzi-los a casa na capital paulista, onde moravam.
      Poucas palavras foram ditas, somente o estritamente necessário. Ele evitava tocar em sua esposa; estava enfeitiçado por Selma. Marcos demonstrava estar com muita pressa.
          - Certamente a amante o estava esperando para algum passeio, pensou sua mulher.
         Quando chegaram a casa, ele entrou e foi até a sala de jantar, deixando ali dinheiro e o cartão de crédito sobre a mesa, depois saiu sem dizer adeus. Clara estava só e sem saída. Quando abriu o guarda roupas, ela constatou que ele já levara todas as suas coisas de uso pessoal para o novo apartamento. Era o fim.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
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