OLHOS DO CORAÇÃO
TERCEIRO CAPÍTULO
Benjamim perdeu a voz diante da
beleza da moça. Ele só conseguia dizer:
- Como você é linda!
Ela sorriu e o coração do velho turrão quase
parou; queria aquela mulher.
No entanto, ele sabia que estava sonhando,
pois não era permitido que um general viajasse para fora do país sem permissão
do governo. Ainda mais para casos de amor, nem pensar nessa possibilidade. E, não
era permitido receber turistas, portanto, aquele era um amor platônico e sem
futuro. Mas, ele nada diria, queria desfrutar daquele momento e todos os outros
que surgissem.
Eloisa
gostava de estar sendo cortejada por um homem que tinha o peito cheio de
medalhas e condecorações por bravura; o seu país vivia em guerra e ele sempre
se destacava no comando de suas tropas. Nunca antes, ela havia chegado perto de
um general, ou mesmo visto uma pessoa tão importante; além de tudo ele era um
piloto de helicóptero. Juntava uma porção de coisas que ela não conhecia e sua
curiosidade a mantinha diante do computador.
Benjamim não era nenhum galã, era um tipo
altivo e carrancudo, mas ficava sorridente quando queria. Sua aparência era a de
um homem comum, alto e magro, por conta de muitos jejuns a que se submetia.
Cabelos, olhos e bigodes pretos em um corpo curtido pela vida no exército. Sua atitude
era de soberba, própria de quem não aceita ser desobedecido, um militar típico
e intransigente. No entanto,
aquela mulher o deixava desarmado e sedento de amor. Queria toma-la em seus
braços e beijá-la até amanhecer.
O
General queria saber tudo sobre a vida dela, onde trabalhava e principalmente
sua condição afetiva. Com quem morava, se estava casada, separada ou viúva,
queria desesperadamente saber se estava livre. Era um homem possessivo e não
queria ninguém por perto de sua amada. Só em pensar que alguém poderia tê-la em
seus braços, ele ficava irado.
Era um sentimento tão profundo que ele mal
conseguia se controlar. Até sua filha estranhou suas atitudes e lhe perguntou o
que estava acontecendo com ele.
–
O senhor parece estar vivendo no mundo da lua, enfatizou a moça perplexa.
Rapidamente ele se justificou, dizendo que não havia nada de diferente, apenas
estava cansado e precisava de umas férias.
Na
verdade, ele queria umas férias para visitar o Brasil, para se encontrar com
Eloisa e abraça-la com muito amor. No entanto, Benjamim sabia que eram apenas
sonhos, pois, os rebeldes estavam muito agitados e ninguém lhe daria férias;
muito menos para viajar ao exterior. Eloisa lhe mandou algumas fotos, que ele
olhava sempre que tinha uma folga. Não queria que ninguém soubesse do seu
segredo de amor.
O
general sabia que teria que aguardar mais cinco anos para sua aposentadoria e
ela não esperaria tanto tempo para se casar com ele. O que fazer para mantê-la
presa ao seu amor por cinco anos? Este pensamento o deixava triste e
desanimado, mas logo vinha em sua mente a figura de Eloisa, que mexia
profundamente com seus desejos de homem.
-
Uma morena de olhos azuis é a minha perdição, ele pensava enquanto sonhava com
a moça.
Acostumado com mulheres morenas de olhos
escuros e cobertas com a burca, agora via a moça vestida com roupas leves, que
deixavam aparecer seu colo avantajado. Então, Benjamim ficava preso a tela do
computador suspirando, enquanto Eloisa falava de si, de seus sonhos e desejos.
Depois
que sua esposa falecera, ele se mantivera solitário. As mulheres conhecidas
tinham medo dele, pois, sua fama era terrível. Então, se isolou em um canto e, agora com o novo amor retornava a vida com muita ganância. Queria aquela mulher,
custasse o que fosse, não iria desistir dela.
A conversa foi mais um monólogo
do que um diálogo; ele contemplava e ela falava. Ele a via com os olhos do
coração e quando ela disse:
- Boa noite, meu general. Eu te
amo.
Ele se derreteu todo; estava preso pelo laço
do amor.
Um texto de Eva Ibrahim.