DESAMOR
CAPÍTULO TRÊS
O rapaz não queria ter essa conversa com a
noiva, mas estava cada vez mais certo de que era necessária. Gostava dela e não
queria magoá-la, apenas não desejava mais cumprir o prometido, que era casar-se
com ela.
Otávio sabia que seria difícil se
desvencilhar daquela situação, pois fazia quatro anos de namoro e um ano de
noivado. O casal já havia comprado parte dos móveis e dividido o valor, assim
fora planejado o enlace matrimonial. O rompimento seria traumático e causaria
muita dor; teria que tomar cuidado.
Entretanto, iria se aproveitar da pandemia
para manter distância da moça, que ainda estava de quarentena. Depois do café,
ele tomou coragem e foi até a casa da noiva. Ela estava confinada no quarto e
ele ficou na sala a sua espera.
Depois de algum tempo, Liana
entrou na sala com a máscara na mão e se aproximou do noivo para beijá-lo,
porém foi repelida. Usando a desculpa do vírus, ele se afastou dizendo:
- Por favor, fique longe de
mim, não quero pegar essa doença.
A moça deu um passo para trás e
decepcionada respondeu:
- Hoje é meu último dia de
quarentena, não há mais perigo de passar o vírus para você. Depois, chorosa,
perguntou:
- O que aconteceu para você
demorar a vir aqui?
Então, ele respondeu:
- O avião teve que fazer um pouso
forçado e alguns passageiros ficaram feridos. Eu tive uma luxação no ombro
esquerdo, fui levado ao Pronto Socorro para colocar meu ombro no lugar. Demorou para sermos liberados, eu estava muito
cansado e com dores, então tomei um analgésico e adormeci, assim que cheguei na
casa de minha mãe.
Liana ficou satisfeita com a
explicação e o convidou para sentar-se. Otávio se acomodou em um sofá e ela em
outro, era visível o embaraço do rapaz. Entre eles houve um silêncio
constrangedor, parecia que eram dois estranhos tentando dialogar. A moça estava
ansiosa para perguntar quando seria o casamento, queria ir morar com ele em São
Paulo.
Otávio percebeu a ansiedade de Liana e começou a reclamar do serviço. Foi logo dizendo que teriam de adiar todos
os planos formados anteriormente, pois o Coronavírus veio para atrapalhar todos
os projetos da sua empresa. Depois completou profetizando:
- Até que essa pandemia acabe,
nada poderá ser feito e todos terão que esperar essa fase ruim passar. Depois
olhou para sua noiva e disse:
- Nossos projetos também estão adiados, até
que essa doença seja controlada.
A moça retrucou:
- Mas, será que não podemos nos casar somente
com a presença das pessoas mais chegadas da família?
- Não, o futuro é incerto e eu
não vou tirar você da casa de seus pais, é muito perigoso. Ele afirmou com
veemência.
A mãe dela, que ouviu a conversa,
entrou e disse concordar com o rapaz, teriam que esperar a situação melhorar.
Precisavam de um pouco de segurança, para assumir um compromisso tão sério como
o casamento. Ele ficou mais um pouco na casa da moça e depois saiu dizendo:
- Estou com muita dor no meu
ombro, preciso tomar um remédio e descansar um pouco.
Otávio saiu sem tocar nela e
Liana ficou muito chateada. Dali ele foi até a casa de Júlia, queria saber como
ela estava. Ao se aproximar da residência da moça, seu coração disparou. Era um
sentimento novo, que o deixava ansioso para rever a companheira de viagem.
Ele sabia que estava agindo
errado, mas o seu coração e os seus pensamentos estavam focados na moça, que conhecera no avião. Ele tocou a campainha e quando ela apareceu na porta, o dia se iluminou, era a mulher que ele queria
para levar ao altar.
Um texto
de Eva Ibrahim Sousa