A ROTA
DA ESPERANÇA
CAPÍTULO
DOIS
O casal poderia ter comprado
passagens de avião, mas queriam aproveitar a viagem para rever as paisagens,
que viram quando se mudaram para São Paulo. Caetano também era do norte do
país, de uma pequena cidade do interior do Pará.
Edileusa queria pensar nos
acontecimentos recentes, filtrar as emoções e procurar entender a causa daquilo
tudo. Ela nunca se preocupara com a saúde, era forte e saudável. Trabalhava desde
menina, nunca ficava doente e agora, aquele caroço na mama acabara com seu
sossego.
A viagem era de dois dias e meio em
um ônibus confortável. A noite os passageiros dormiam e pela manhã havia uma
parada para a higiene pessoal e café da manhã. Depois retomavam a estrada em
direção ao norte do país. Essa poderia ser uma viagem maravilhosa, se não
houvesse esse problema martelando em sua cabeça.
Saíram na segunda-feira e quando o
ônibus parou na manhã de terça-feira, tudo o que ela queria era tomar banho. Em
uma parada programada havia todas as coisas, que os passageiros precisavam.
Edileusa tomou banho, tomou café e comprou salgadinhos, balas e água para
degustar no ônibus.
Seguiram em frente, a próxima parada foi em
Goiânia. Almoçaram e prosseguiram viagem; a moça cochilava com a cabeça no
ombro de Caetano; parecia que estava tudo bem.
Já era noite quando o coletivo
parou para o jantar em Tocantins. Os passageiros já demonstravam cansaço e
ainda estavam na metade da viagem. Edileusa tomou outro banho, o calor era
intenso em meio a uma estiagem prolongada.
- O banho parece aliviar o meu cansaço.
Disse para Caetano, que seguiu a namorada e também tomou banho.
Em seguida, jantaram e voltaram para o ônibus;
teriam outra noite mal acomodados. No entanto, estavam cada vez mais perto de seu
destino. A moça trazia um terço na bolsa e antes de adormecer, rezava cada
conta com muita emoção. Quando terminava dizia:
- Estou chegando minha santa, olhe
por mim. E, com os olhos cheios de lágrimas, ela se acomodava no banco para mais uma
noite na estrada.
O casal estava sentado no meio do
ônibus e lá no banco da frente, uma menina chorava. A mãe estava brava e falava
rispidamente com a criança, que não parava de chorar. Aquele choro constante e
lamurioso não deixava ninguém dormir.
Algumas pessoas começaram a
resmungar e depois de meia hora, a criança parou de chorar e a paz retornou ao coletivo, que
seguiu seu caminho. Aquela era a rota da esperança, muitas pessoas estavam ali
para participar da festa do Círio de Nazaré. Durante as paradas podia-se ouvir
comentários sobre a expectativa da festa.
O Sol se punha no horizonte, já era
quarta-feira quando o ônibus alcançou os arredores de Belém. Rodou mais um
tempo, que parecia uma eternidade, haja vista a ansiedade das pessoas, depois de
setenta e oito horas na estrada. As pernas estavam dormentes, o corpo cansado e
a mente ansiosa por rever seus familiares. Foi assim, que Edileusa desceu do
coletivo na rodoviária de Belém, no Pará.
De longe podia-se ouvir música
regional, alguém disse:
- É o Carimbó, uma dança típica do Pará.
A moça sorriu, foi a primeira vez
desde que saíram de São Paulo. Depois seguiram o fluxo de gente, até avistar uma
aglomeração. Abrindo espaço e pedindo licença, chegaram onde estavam dois
casais de dançarinos, rodopiando ao som das músicas típicas do local. Finalmente
ela estava em casa, queria abraçar sua mãe e irmãos, o pai já não estava nesse
mundo de Deus.
No táxi, a belenense avistou a
matriz da Virgem de Nazaré, onde estava depositada toda sua esperança. Iria se
jogar aos pés da santa, iria suplicar até a exaustão se fosse necessário,
estava determinada. Voltara em busca de um milagre, fizera todo o trajeto da
rota da esperança; agora iria até o fim.
Caetano seguiria viagem para rever
seus familiares, mas retornaria em dois dias. Ele amava Edileusa e nunca a
abandonaria, muito menos naquela situação.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa