MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- " (...) OH! OH!. DEUS TE TROUXE AQUI, PARA ALIVIAR TEUS SOFRIMENTOS, OH! OH! É ELE O AUTOR DA FÉ, DO PRINCÍPIO AO FIM. EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. (...)"


 

A ROTA DA ESPERANÇA

CAPÍTULO DOIS

             O casal poderia ter comprado passagens de avião, mas queriam aproveitar a viagem para rever as paisagens, que viram quando se mudaram para São Paulo. Caetano também era do norte do país, de uma pequena cidade do interior do Pará.

            Edileusa queria pensar nos acontecimentos recentes, filtrar as emoções e procurar entender a causa daquilo tudo. Ela nunca se preocupara com a saúde, era forte e saudável. Trabalhava desde menina, nunca ficava doente e agora, aquele caroço na mama acabara com seu sossego.

            A viagem era de dois dias e meio em um ônibus confortável. A noite os passageiros dormiam e pela manhã havia uma parada para a higiene pessoal e café da manhã. Depois retomavam a estrada em direção ao norte do país. Essa poderia ser uma viagem maravilhosa, se não houvesse esse problema martelando em sua cabeça.

          Saíram na segunda-feira e quando o ônibus parou na manhã de terça-feira, tudo o que ela queria era tomar banho. Em uma parada programada havia todas as coisas, que os passageiros precisavam. Edileusa tomou banho, tomou café e comprou salgadinhos, balas e água para degustar no ônibus.

            Seguiram em frente, a próxima parada foi em Goiânia. Almoçaram e prosseguiram viagem; a moça cochilava com a cabeça no ombro de Caetano; parecia que estava tudo bem.

            Já era noite quando o coletivo parou para o jantar em Tocantins. Os passageiros já demonstravam cansaço e ainda estavam na metade da viagem. Edileusa tomou outro banho, o calor era intenso em meio a uma estiagem prolongada.

           - O banho parece aliviar o meu cansaço. Disse para Caetano, que seguiu a namorada e também tomou banho. 

           Em seguida, jantaram e voltaram para o ônibus; teriam outra noite mal acomodados. No entanto, estavam cada vez mais perto de seu destino. A moça trazia um terço na bolsa e antes de adormecer, rezava cada conta com muita emoção. Quando terminava dizia:

           - Estou chegando minha santa, olhe por mim. E, com os olhos cheios de lágrimas, ela se acomodava no banco para mais uma noite na estrada.

              O casal estava sentado no meio do ônibus e lá no banco da frente, uma menina chorava. A mãe estava brava e falava rispidamente com a criança, que não parava de chorar. Aquele choro constante e lamurioso não deixava ninguém dormir.

             Algumas pessoas começaram a resmungar e depois de meia hora, a criança parou de chorar e a paz retornou ao coletivo, que seguiu seu caminho. Aquela era a rota da esperança, muitas pessoas estavam ali para participar da festa do Círio de Nazaré. Durante as paradas podia-se ouvir comentários sobre a expectativa da festa.

           O Sol se punha no horizonte, já era quarta-feira quando o ônibus alcançou os arredores de Belém. Rodou mais um tempo, que parecia uma eternidade, haja vista a ansiedade das pessoas, depois de setenta e oito horas na estrada. As pernas estavam dormentes, o corpo cansado e a mente ansiosa por rever seus familiares. Foi assim, que Edileusa desceu do coletivo na rodoviária de Belém, no Pará.

            De longe podia-se ouvir música regional, alguém disse:

 - É o Carimbó, uma dança típica do Pará.

          A moça sorriu, foi a primeira vez desde que saíram de São Paulo. Depois seguiram o fluxo de gente, até avistar uma aglomeração. Abrindo espaço e pedindo licença, chegaram onde estavam dois casais de dançarinos, rodopiando ao som das músicas típicas do local. Finalmente ela estava em casa, queria abraçar sua mãe e irmãos, o pai já não estava nesse mundo de Deus.

            No táxi, a belenense avistou a matriz da Virgem de Nazaré, onde estava depositada toda sua esperança. Iria se jogar aos pés da santa, iria suplicar até a exaustão se fosse necessário, estava determinada. Voltara em busca de um milagre, fizera todo o trajeto da rota da esperança; agora iria até o fim.

            Caetano seguiria viagem para rever seus familiares, mas retornaria em dois dias. Ele amava Edileusa e nunca a abandonaria, muito menos naquela situação.

         Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.