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terça-feira, 23 de março de 2021

" SE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO PENSAMENTO DO SEU DIA FOR PARA ESSA PESSOA, SE A VONTADE DE FICAR JUNTOS CHEGA A APERTAR O CORAÇÃO, É O AMOR!" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE


           RUMO AO DESERTO

              CAPÍTULO SETE
      Para piorar o quadro melancólico em que Tereza estava inserida, o tempo fechou. Caiu uma chuva forte, seguida de muitos ventos. Em consequência disso, podia-se constatar quedas de árvores e alagamentos por toda a cidade.
     
      Mãe e filha seguiram para o hospital, mais precisamente, para o Pronto Socorro, ali aconteceria a internação de Tereza, por indicação dos residentes da cardiologia. 

      Infelizmente, naquele local, puderam constatar a veracidade das reclamações que o povo, em geral, fazia contra o atendimento oferecido ao público.

      Um local rústico, com cadeiras insuficientes, que abrigava cerca de cinquenta pessoas. Todas aguardando uma triagem para definir o atendimento, depois de fazer a ficha. A espera era longa e indefinida. Essa situação ocorria  em uma entrada junto à  via de acesso.

     Naquele dia estava chovendo, de vez em quando a chuva apertava e molhava as cadeiras das primeiras filas, fazendo com que as pessoas se amontoassem no fundo. 

      O banheiro ficava distante uns cinquenta metros, dentro de um container pouco iluminado. Com chuva era de  difícil acesso, todos reclamavam.

      Naquele recinto, havia algumas pessoas em cadeiras de rodas, uma moça que andava de um lado para outro, com uma toalha suja de sangue enrolada no braço, apoiando com a outra mão enquanto chorava. Dos seus olhos escorriam lágrimas pelo rosto aflito. Parecia ter sofrido um acidente e  aguardava, ansiosamente, pelo atendimento. 

      Em destaque, notava-se uma menina de cerca de dez anos, muito magra, com náuseas,  que não parava de chorar e a mãe, nervosa, tentava acalma-la. Ali, havia, também, uma senhora idosa aguardando internação, que discutia com o filho, que parecia estressado.   
    
       A todo momento chegavam mais pessoas com ambulâncias de cidades vizinhas, outras com o serviço de atendimento móvel de urgência, SAMU, e algumas com o carro dos bombeiros. 

       Observaram, também, que muitos chegavam em veículos particulares. Os acidentados, com gravidade, vinham de helicóptero. Havia, também, uma porção de pessoas que chegavam a pé, usuários do transporte público. Todos passavam por ali, aquela era a única entrada para o PS.
   
       Na porta de acesso ao interior e aos guichês  ficavam dois guardas, sendo que um deles se postava sentado em uma cadeira e quando alguém se aproximava ele esticava a perna, travando qualquer investida ao interior, no qual ficava o guichê.

      Ali estava estabelecida uma situação caótica, na qual era impossível ter acesso a qualquer informação. A única coisa que diziam era: " Tem que aguardar" 

      Do lado de fora dava para ver, que no interior havia muita gente em macas e cadeiras, era uma lotação além do razoável. 

      Nesse contexto chegaram Tereza e sua filha, que ao dizer para a enfermeira, que estavam ali para uma internação de Cardiologia, foram recebidas com ironia.

      - "Que internação? Aqui não é lugar para internação eletiva". Disse com ar desafiador.

     - É urgência, foram os residentes da cardiologia que nos mandaram vir aqui. Argumentaram.

     Então, houve uma risada sarcástica, com a qual, a referida enfermeira concluiu: -"Eles dizem isso para todos, vão ter que aguardar."

      As duas mulheres chegaram as quatorze horas naquele local e durante o restante da tarde insistiram varias vezes para saber o motivo da demora e a resposta era a seguinte:   "Estão vendo seu  caso."
       
      Ficaram durante sete horas esperando serem chamadas para um atendimento. Já passava das vinte e  três horas, quando o guarda da noite deixou Tereza entrar, para falar com a enfermeira. 

      Essa profissional era bem receptiva, uma estrela na escuridão. Com simpatia disse que iria tomar providências. Realmente, fez contato com a Unidade Coronariana e pediu para o enfermeiro  receber a mulher, que estava cansada e passando mal. 

      A paciente foi conduzida  
 de cadeira de rodas para a UTI, já era quase meia noite. Precisava descansar depois de uma longa espera e sua filha, então, pode voltar para casa. 

      E quando o residente apareceu para o primeiro contato, disse que fora informado de que a paciente, que ele estava aguardando,  tinha ido embora. 

      Essa foi a mais cruel mentira proferida por pessoas insensíveis, para prejudicar alguém debilitada, que estava  precisando de ajuda.

      Naquele local foram encontradas pessoas alheias  ao sofrimento humano. 

     O desgaste foi grande e a realidade chocante. Com certeza, aquele foi um dia para ser esquecido para sempre.

      Na unidade Coronariana, Tereza foi bem recebida por um enfermeiro e um técnico de enfermagem.  

      Pela primeira vez na vida, a mulher estava internada em uma unidade de terapia intensiva. Sentia-se amarrada com tantos fios conectados ao seu peito. 

      Recebeu uma punção venosa na mão esquerda com uma torneirinha, que enroscava nos lençóis e cada vez que isso ocorria, a mulher gemia. 

      O enfermeiro chegou e disse para a paciente, que ela estava em repouso absoluto. Essa palavra fez a mulher tremer.

      - Como assim? Xixi na comadre? Cocô na comadre?

 Não vou suportar. Disse Tereza assustada. Parecia um pesadelo a que ela estava sendo submetida. 

      O restante da noite foi de pequenos pedaços de sonos cheios de pesadelos. O dia amanheceu e  começou  a jornada de Tereza rumo ao seu deserto. 

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

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