LOBO BOBO.
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO DOIS
Clara havia descoberto a traição de
Marcos pela internet. Certo dia, seu marido chegou apressado dizendo para ela
colocar algumas peças de roupas em uma maleta, que ele precisava viajar para o
Rio de Janeiro a negócios. O casal morava na cidade de São Paulo e raramente
Marcos viajava sem a família, pois quem o representava era o advogado da firma.
Porém, ele disse que iria passar o final de semana cuidando de seus negócios. Ela perguntou se
ele iria sozinho; Marcos não respondeu, apenas desconversou.
O homem saiu apressado e ela ficou
sentada na cama, sem saber o que pensar. Ele nem cogitou da possibilidade de
levá-la; na verdade ele mal olhou para ela. Tristonha, Clara se dirigiu até o
escritório e viu o Notebook do marido aberto sobre a escrivaninha.
Aproximou-se e viu que estava na página da
companhia aérea que ele comprara as passagens. Marcos fizera o check in e se
esquecera de fechar a página, estava com muita pressa, pois jamais ele deixaria
seu Notebook aberto. Clara ficou pensativa.
-Como ele iria trabalhar sem sua melhor
ferramenta? A dúvida fez morada em seu pensamento. Sentou-se no computador e
olhando a tela ficou pasma. A passagem era para dois lugares; Marcos e Selma
Junqueira.
Desde
esse episódio, Clara perdeu o sossego; foi ao escritório para conhecer a tal
moça e teve a certeza de que não seria fácil reconquistar seu marido. Selma tinha
todas as características de mulher fatal, que destroem lares sem nenhuma
preocupação. Era muito bonita, do tipo que os homens gostam; vistosa, alegre e
provocante.
Clara se mantinha calada, sua situação
era complicada, pois ela e seus dois filhos não poderiam sobreviver sem o
marido; Marcos era o provedor da casa. Lentamente ela foi observando as mudanças
de atitudes do marido. Chegava tarde da noite em casa e dizendo estar cansado,
deitava-se e dormia. E, se fosse questionado, fechava a cara e passava dias sem
conversar com ela.
A mulher, desesperada, procurou terapia
para poder entender o que se passava com seu marido. Para sua surpresa ela descobriu que Marcos
estava na “idade do lobo”. A terapeuta lhe disse que a fase da virada dos
quarenta anos equivale a um novo ciclo de vida, é o período onde a ansiedade, o
aparecimento de cabelos brancos e a certeza da velhice estão presentes no pensamento
da maioria dos homens. O medo de perder a potência sexual é o maior fantasma
que assombra os homens nessa faixa de idade, por isso eles se voltam para as mulheres
mais jovens, deixando suas esposas em segundo plano. Procuram provar para si
mesmos que continuam com a mesma disposição que tinham aos vinte anos; é uma
forma de autoafirmação.
Passam a ignorar sua rotina querendo realizar sonhos antigos; parece que
algo ficou perdido no passado e que precisa ser resgatado a todo custo. Então,
procuram frequentar as academias e a cuidar em excesso da aparência. Querem
demonstrar que ainda podem conquistar uma mulher mais jovem, que geralmente se
torna sua amante.
A esposa perde a graça para ele, vendo-a como uma figura materna, boa
para cuidar da casa e dos filhos. Não desperta mais seus desejos, que procura em outras mulheres. O homem torna-se uma pessoa egoísta,
ignorando os sentimentos de sua esposa. A mulher se torna refém do passado,
isto é, do tempo em que foi feliz com seu marido e as traições e mágoas começam
a incomodar.
Clara era uma mulher esclarecida e procurava agir normalmente para Marcos
não se sentir acuado. De algum modo ela sentia-se segura enquanto ele pensasse
que ela não sabia do seu caso com a secretária.
Quando ela cobrava sua presença e seus carinhos ele fingia voltar para o
ninho. Acontecia a aproximação por obrigação, porém, logo ele se distanciava novamente.
Clara sentia-se rejeitada, uma “jeca” como ele a chamou. Duas lágrimas rolaram
de seus olhos e ela resolveu enfrentar a situação; iria às compras.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.