A UNIÃO FAZ A FORÇA
CAPÍTULO TREZE
O
diagnóstico foi cruel, Marcos teria que ser submetido, com urgência, a uma
cirurgia no crânio. Os médicos constataram que havia um sangramento e para
descomprimir o cérebro teriam que intervir. Clara ficou arrasada, nunca desejou
o mal para ele, nem em seus piores momentos. Selma começou a chorar.
- O que faria sem a presença de seu
companheiro?
Tiago
se aproximou para consolá-la e pegando em suas mãos disse:
“–Há esperança de Marcos ficar bem após a
cirurgia, o médico foi taxativo. Ela deveria ter paciência e ficar ao lado dele
o tempo que fosse necessário.”
Clara
sentou-se ao lado de Tiago e os três ficaram aguardando a cirurgia acabar para
saber notícias de Marcos. Selma esfregava as mãos e vez ou outra se levantava e
ia até o balcão da recepção perguntar de seu amor. Sua aparência era de desolamento;
ela estava sofrendo muito.
A
recepcionista pedia que se sentasse e procurasse se acalmar; esse tipo de
cirurgia costumava demorar. Clara ficou pensativa e como um filme revia o tempo
em que fora feliz com o marido. Ela amou aquele homem que a abandonou por outra
mulher; aquele fato parecia sobrepujar todos os outros. Não guardava mágoas,
porém, trazia na alma uma nostalgia, que a deixava triste quando pensava em
Marcos.
Tiago a abraçou e afagou seus cabelos, estava
protegida em seus braços. Ela sorriu, amava aquele homem que a abraçava. Um
amor diferente, mais tranquilo; o passado ficara distante. Uma ruga de preocupação
surgiu em sua testa, o que ela diria aos filhos? Eles gostavam do pai e iriam
sofrer ao saber do acidente, por isso ela esperaria a cirurgia acabar para
levar boas notícias aos seus dois filhos. Depois de quatro horas de espera, um
cirurgião apareceu para conversar com os familiares.
-
Fizeram o melhor que puderam, era hora de rezar e aguardar os próximos
acontecimentos. Disse o médico em tom grave, como exigia a situação.
Marcos
estava na Unidade de Terapia Intensiva e as duas mulheres puderam vê-lo apenas por
alguns minutos. Selma ficara arrasada e saiu chorando do Hospital.
Clara
estava sentida também, mas a sua maior preocupação era a reação de João e
Renata. Teria que acalmá-los e quando o pai fosse para o quarto os levaria para
vê-lo.
Quando Clara chegou a sua casa os dois
filhos estavam dormindo. Ela foi deitar-se lamentando a situação vivida naquele
dia. Para ela ser feliz, não era necessário que Marcos adoecesse ou coisa pior. No
mundo havia lugar para os dois, não poderiam ser inimigos, pois, tinham dois
filhos juntos.
Os
dias corriam rapidamente e a recuperação de Marcos era lenta. O homem ficara
com a função motora e a fala comprometida em consequência do trauma sofrido,
por isso, ele teve que ficar no Hospital durante três meses. Todos os dias ele
tinha sessões de Fisioterapia e Fonoaudiologia, para recuperar os movimentos do
corpo e a falar novamente.
A lesão fora grande e levaria tempo para a
recuperação. Selma cuidava muito bem de Marcos; tornara-se sua mulher de fato e
não era uma mulher de papel, pois, nunca se casara. Enquanto isso o
empreendimento de Clara se expandia, agora era uma microempresa, de onde várias
famílias tiravam seu sustento.
Algumas
vezes ela ia, com os filhos, visitar seu ex. Ela não guardara rancor de Marcos
e procurava animá-lo. Estava muito feliz, já que faturava o suficiente para
manter a sua casa. Os filhos recebiam a pensão do pai, que mesmo doente era
dono de uma grande empresa. Com o final do ano se aproximando, Clara e Tiago
resolveram marcar a data das bodas; queriam viver juntos.
Certo dia, ela e Tiago foram à casa de
Marcos levar o convite de casamento; o homem estava melhorando e parecia feliz
com Selma, perdera a esperança de reconquistar Clara. Marcos ainda tinha
períodos de ausência e não deu importância à notícia.
Em
uma tarde ensolarada, ocorreu o casamento de Tiago e Clara e a festa foi na comunidade.
A noiva queria as mulheres de papel, que tanto a ajudaram, presentes em seu
casamento. Todas eram guerreiras como ela e lutavam para criar seus filhos.
Clara
era uma nova mulher, precisou chegar ao fundo do poço para aprender a lutar. De
simples mulher de papel, humilhada e abandonada, tornara–se uma comerciante bem
sucedida e encontrara o homem de sua vida. Era uma mulher feliz e agradecia a
Deus por tê-la feito ver que poderia vencer sozinha. Ela não precisava depender de
homem algum para sobreviver.
Tiago e sua esposa estavam curtindo a “lua de
mel” e, deitados debaixo do guarda sol de uma linda praia, pareciam
adormecidos. Entretanto, ela apenas fingia, enquanto refletia. O mundo estava
cheio de mulheres que ficavam com seus maridos, apesar de saber que eles as
traiam descaradamente, mas precisavam delas para manter as aparências. E, elas
se submetiam por covardia, temiam perder as mordomias ou tinham medo de
enfrentar a vida com trabalho. Porém, outras tantas mulheres de papel não se
acovardavam e iam à luta para criarem seus filhos.
Na
maioria dos países ocidentais houve uma banalização do casamento. As mulheres
tiveram que aprender a lutar e sustentar suas famílias, tornando-se mulheres de
papel, isto é, aquelas casadas que vivem sem a presença do marido. Muitas foram
abandonadas sem conhecer o paradeiro do cônjuge e, vão vivendo sem saber se está vivo ou morto. Entretanto, acalentam a esperança de um dia tornar a vê-los.
Aqui
termina a história de Clara, que deixou de ser apenas uma mulher de papel, para
ser uma mulher vencedora e muito amada.
Um texto de Eva Ibrahim.
Na próxima semana iniciaremos outra história.