CORAÇÃO PARTIDO
CAPÍTULO
QUATRO.
Finalmente, Ana se despediu de Serena dizendo
que ligaria para que combinassem outro churrasco, já que aquele do domingo não
vingou. Serena ficou a espera de sua família para abraça-los; estava emocionada
pelo empenho que demonstraram diante do acidente de Artur. Ela e Celso estavam
criando os três filhos do casal com todo amor do mundo. E, eles correspondiam
demonstrando amizade, solidariedade e cuidados com os amigos e conhecidos.
Todos
foram dormir com a sensação do dever cumprido. Estavam cansados, a correria
fora grande. Serena acariciou os cabelos de Celso, em seguida o beijou; amava
aquele homem bonito, charmoso e competente. Entretanto, a noite não foi muito
calma, Saulo acordou assustado e foi para a cama de Serena; queria saber se o
amigo ficaria bem.
-
Artur ficará ótimo, apenas deverá tomar uma série de cuidados até o dente
aderir novamente ao osso, explicou a mãe para o filho.
O menino voltou para a sua
cama, estava tranquilo e feliz, pois, ele tinha o seu pai herói, que reparara o
acidente de seu amigo Artur.
No dia seguinte, Ana levou Artur ao
consultório do amigo para uma nova avaliação. Recebeu as recomendações e
cuidados que deveria ter com o dente implantado e os alimentos que poderia
ingerir na primeira semana. Estava tudo bem e o dente ficaria do mesmo jeito
que era antes do acidente; aquele dia e o susto ficariam no passado. Disse orgulhoso, o profissional especializado em implantes; seu trabalho fora minucioso; estava contente.
Somente depois de ouvir de Celso
que estava tudo bem, Ana saiu com os olhos marejados de lágrimas. Então, sentou-se
no banco do jardim em frente à clínica para chorar. Artur não entendia porque
sua mãe estava chorando, afinal tudo acabara bem. A mulher abraçou o filho e
pediu para ele ficar quieto, ela precisava desabafar; o medo do desconhecido
fora grande.
Ana seguiria todas as orientações
do dentista, que agora passara a ser considerado além de amigo, um irmão. Queria
combinar um novo churrasco, para demonstrar a sua gratidão à família de Celso.
A mulher pediu à Serena que a encontrasse na lanchonete, precisa contar todos os
acontecimentos em seus mínimos detalhes e desabafar toda sua emoção. Seu
coração estava em frangalhos e precisava juntar os pedaços. Somente um coração
de mãe sabe o significado de uma aflição daquele tamanho; a dor do filho dói na
carne da mãe.
Durante
os primeiros dias, o menino deveria tomar sopas, vitaminas e sucos sob a supervisão
de sua mãe. Ana deveria vigiar o filho o tempo todo, para ele não cair e bater
a boca; o implante estava, ainda, muito recente; foi a orientação final de Celso.
Diante de tanta pressão, a mulher precisava de
um conforto espiritual e procurou o Pastor de sua Igreja para conversar. Ele
lhe abriu os olhos e a orientou a agradecer a Deus pelo sucesso obtido no
implante e por ter, naquele momento, alguém capacitado, que pode atender o seu
filho.
-
Foi Deus que colocou a pessoa certa, no lugar certo e por vontade dele.
Portanto, ela deveria esquecer o acontecido e tocar sua vida para a frente. O
passado é morto e o que importa é o presente; o futuro virá em função deste,
por isso devemos ser alegres e felizes, enfatizou o religioso.
Ana
saiu dali aliviada; recebera uma bênção do pai celestial e precisava comemorar
com os amigos. Seu coração, que estava partido, começava a cicatrizar. O medo
seria substituído pela confiança em Deus, que sempre fora seu porto seguro.
Quando
adentrou a lanchonete e viu a amiga, Ana a abraçou e chorou em seu ombro,
depois contou toda a história do acidente do filho, com detalhes. Finalmente,
disse que jamais poderia pagar ao Celso o bem que ele lhe fizera. O dentista
estava no lugar certo e na hora certa para salvar o dente de seu filho e sua
autoestima de adolescente, permitindo assim, que Artur tivesse uma vida
normal.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Aqui termina a história do acidente que
arrancou o dente da frente de Artur.