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quarta-feira, 30 de maio de 2018

"MESMO QUANDO TUDO PARECE DESABAR, CABE A MIM DECIDIR ENTRE RIR OU CHORAR, IR OU FICAR, DESISTIR OU LUTAR". CORA CORALINA


QUE NOSSA DOR VIRE AMOR
CAPÍTULO NOVE
           Maria Alcina, com seu filho Alberto no colo, viu nascer o ano de um mil novecentos e setenta e um. Eram tempos difíceis e de muitas mudanças. As pessoas tinham medo de doenças, de guerras, da polícia, dos governantes, e de assombrações. Mas, viviam melhor porque o mundo era menor, as informações demoravam para chegar e havia tempo para absorver as novidades.

           Os jovens cresciam, emocionalmente, no tempo certo. Aguardavam o grande amor e embalavam muitas fantasias a respeito de relacionamentos. Enquanto o sexo era um tabu e ficava somente no desejo das revistas de pornografia, conseguidas através de amigos de outros amigos, que continham segredos incontáveis, o amor estava no ar. Estas revistas só poderiam serem vistas nos banheiros, escondidas nos fundos dos guarda-roupas e fechadas a sete chaves. Era o instrumento que os rapazes utilizavam para dar asas à imaginação.

             Desejavam amar sem medo de se comprometer ou de sofrer por amor. Tempo em que homens e mulheres se davam o devido valor e se respeitavam. As moças ainda sonhavam com um príncipe, já sem muito encanto, mas, ainda um príncipe.

             Ninguém se preocupava com o efeito estufa e o ozônio ainda estava em seu devido lugar. O meio ambiente ainda respirava sozinho, havia equilíbrio entre a flora e a fauna.  Os rios continham oxigênio suficiente para a sobrevivência de seus peixes. Computadores eram caixas enormes, restritas as empresas dedicadas à corrida ao espaço, nos Estados Unidos da América.

           No Brasil, o que havia de mais moderno era a chegada da televisão em cores nas grandes cidades. No entanto, a maioria tinha televisão em preto e branco e cuja programação terminava a meia-noite. Não havia celulares e era raro quem tinha telefone em casa.   Todos deveriam andar com algum documento no bolso, pois, se a polícia os parasse e não tivessem identificação, seriam levados presos.

           Os jovens se divertiam nas discotecas e os adolescentes com jogos de diversos tipos. Os mais novos jogavam birocas, feitas no chão duro de terra com bolinhas de aço, tiradas dos carrinhos de rolimãs, ou bolinhas de gude feitas de vidros. Soltavam pipas ou jogavam futebol, em campinhos improvisados em terrenos baldios. Já os que tinham acesso ao clube local jogavam voleibol, basquetebol, tabuleiros de damas ou xadrez e outros.

                Estavam sempre em turmas heterogêneas, gostavam de se divertir juntando os meninos e meninas, que formavam grupos alegres. Um jovem, ter amizade com outro menino ou rapaz e até andar o tempo todo juntos, era comum. No entanto, sua masculinidade não era posta em jogo. As moças tinham amizades com outras moças e andavam de mãos dadas com as amigas, entretanto, ninguém dizia que éramos lésbicas; isso estava fora de cogitação.

           Todos respeitavam os mais velhos, estes tinham o carinho dos filhos e netos e eram sempre ouvidos nas decisões familiares.  Os jovens demonstravam seu respeito, cedendo-lhes os bancos para que viajassem sentados nos coletivos. Os idosos tinham prioridade nas filas e eram auxiliados a atravessar as ruas. Sempre encontravam alguém para carregar suas sacolas. Essas atitudes faziam parte da educação recebida em casa e não era imposta por leis.

           Os jovens eram bastante emotivos e se apaixonavam com facilidade. E, eram os amigos ou amigas que intermediavam o primeiro encontro. Os namoros eram sérios e a maioria queria se casar com a menina certinha da escola ou da sua rua. Havia mais cuidado com os namoros, que eram mais calmos e discretos. Eram menos impetuosos e dar uns beijos no escuro, era o máximo de uma conquista. Não poderia passar disso ou a jovem ficaria falada e ninguém mais a queria.

             Nos finais de semana frequentavam as discotecas, faziam os bailinhos nas casas dos amigos ou ficavam ouvindo músicas até tarde da noite. Aguardavam os anos dois mil, prevendo grandes acontecimentos futuristas.

           As vestimentas usadas no início dos anos setenta tinha como moda, na classe média, as calças jeans, muitas eram importadas dos Estados Unidos. Este era um fato que causava inveja aos menos abastados, pois, eram calças desbotadas e com um brim diferente do nacional. As calças bocas de sino, os sapatos plataforma, os tênis tinham, também, seu lugar assegurado entre os jovens.

            Nesse contexto, era formada a família de Fred e Maria Alcina, que já anunciava uma nova gravidez. Quando Alberto tinha dois anos nasceu a Alice, uma menina linda, na casa do casal Fred e Maria Alcina.

           O tempo passou rápido em meio aos acontecimentos mundiais, tais como: a crise do petróleo e a recessão nos Estados Unidos. No Brasil, a música popular brasileira (MPB) ganhou corpo e se instalou definitivamente no gosto da sociedade, tendo grande aceitação. A separação dos membros da banda dos Beatles e as músicas de Elvis Presley tocando em todas as rádios e discotecas, pontuaram o final da década de setenta.  

            Por aqui surgiram as passeatas pelas diretas já, um anseio do povo pelo fim da ditadura. A sinalização, por parte do governo, de uma abertura democrática agitava os meios políticos e o povo saia as ruas. Os hippies alienados andavam pelas grandes capitais.

        Finalmente, os anos oitenta surgiram com acenos de novos tempos, menos escuros para o país. E as duas crianças, Alberto e Alice, estavam crescidos e frequentando as escolas, onde aprendiam que as lutas do povo, devem ser pacíficas e unidas com demonstrações de civilidade.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa
      


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