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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

"FOGO E PAIXÃO" - WANDO- "VOCÊ É LUZ, É RAIO ESTRELA E LUAR, MANHÃ DE SOL. MEU IAIÁ, MEU IOIÔ, VOCÊ É "SIM" E NUNCA MEU "NÃO". QUANDO TÃO LOUCA, ME BEIJA NA BOCA, ME AMA NO CHÃO." "(...)' COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS

          AQUELES OLHOS VERDES

A PRIMEIRA IMPRESSÃO

CAPITULO UM

                   O tempo estava ruim, Pedro ficou com a camisa molhada, pois descera do ônibus e tomara chuva até a estação do metrô. Tinha pressa, começara seu trabalho fazia pouco tempo, ainda estava na experiência. Viera de Belo Horizonte a pedido do seu encarregado, deveria ficar ao lado do secretário geral, o tempo todo. Parecia um guarda-costas, mas era um secretário particular, que desempenhava um cargo de confiança.

               Era a primeira vez que pisava em terras paulistanas e trazia consigo muitas expectativas, queria melhorar de vida. Era formado em contabilidade e administração, no entanto, ganhava pouco em sua cidade. São Paulo era a terra das oportunidades, todos diziam. Seus pais fizeram muitas recomendações, temiam a falta de segurança da metrópole. Pedro, então, foi morar com uma prima do pai dele, assim a família ficava mais tranquila.

                 A casa ficava em um bairro próximo ao centro, mas precisava pegar um ônibus e depois o metrô para chegar ao trabalho. Demorava em trânsito uma hora e meia, o que era razoável para uma cidade grande.

                  Mesmo estando molhado, o rapaz ia se ajeitando no veículo ferroviário, entre tantas outras pessoas com o mesmo problema. Quando chovia, os transtornos eram grandes, a cidade ficava travada pelas enchentes e congestionamentos, formando um verdadeiro caos.

                 Dentro do metrô havia muita gente se espremendo com seus guarda-chuvas nas mãos. Em dado momento, seus olhos se cruzaram com um par de olhos iguais a duas esmeraldas, que brilhavam como pedras preciosas. A dona deles se postara em um canto, estava espremida entre o banco e a lateral do veículo.

                     Era a moça mais linda que ele já vira. Tinha os cabelos cacheados de uma cor castanho claro dourado. O rapaz ficou parado olhando aquela moça, que tinha o poder de enfeitiça-lo. Ficou encantado, mas o metrô parou e ele deveria descer ali mesmo. Lamentou, precisava conhecer aquela moça, mas foi saindo ou perderia a hora do trabalho.

                  Quando já estava chegando na empresa, olhou para trás e lá estava ela, a moça dos olhos lindos. Ele parou e ela passou por ele, em seguida a moça entrou na mesma firma que ele. Não era possível, ela trabalhava lá também, ficou eufórico, depois iria investigar quem era ela. Tudo ficou mais bonito, ele parecia bobo e se perguntava:

                    - Que mulher é essa? Que me deixa louco só em vê-la?

                  Trabalhou distraído, não tirava a moça da cabeça, quando deu horário de almoço, saiu rapidamente e ficou do lado de fora esperando os funcionários saírem. Logo ela apareceu em meio a um grupo de pessoas do Recursos Humanos. A moça trabalhava lá, na parte interna e ele teria que falar com ela.

                    – Como abordá-la? Ele não conhecia ninguém, que pudesse pedir ajuda.

Pedro nem conseguiu comer direito, de longe, não tirava os olhos da moça.

                A jovem almoçou, em seguida levantou-se e quando ia saindo, Pedro deu um jeito de esbarrar nela. Logo pediu desculpas, era um rapaz educado.

                 Ela mostrou-se surpresa, mas sorriu e fez sinal com a cabeça, que aceitava as desculpas, depois seguiu em frente. Pedro ficou desanimado, não conseguiu tirar nenhuma palavra dela. O dia terminou e ele a viu somente na saída, não pode se aproximar.

                Foi dormir pensando nela e planejando nova abordagem para o dia seguinte. Precisava saber o nome dela, de onde viera, se era solteira ou casada. Com esse pensamento ele sentiu um arrepio.

              - Será que a minha musa é casada? - Não pode ser, eu a quero para mim.

             Dormiu mal aquela noite e ficou esperando por ela no metrô. Quando a moça apareceu ele ofereceu seu banco para ela.

               Ela agradeceu e sentou-se, ele se postou ao lado dela. Depois, naturalmente saíram do veículo juntos. Então, ele perguntou qual era o nome dela.

              Gilda Lira Pinheiro, ela disse devagar e ele esticou a mão dizendo:

             - Pedro Cunha, a seu dispor.        

             Com um brilho intenso no olhar, ele não se cansava de olhar para ela.

              Começava ali uma bela história de amor.

               Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

"EU SOU AQUELA MULHER QUE FEZ A ESCALADA DA MONTANHA DA VIDA, REMOVENDO PEDRAS E PLANTANDO FLORES." CORA CORALINA

FELIZ NATAL AMOR

CAPÍTULO CINCO

O domingo amanheceu ensolarado e pegou o novo casal dormindo. Os dois estavam cansados pela grande carga emocional sofrida, no dia anterior. Laura foi quem acordou primeiro e viu que Luís Carlos dormira com a roupa do casamento, então lembrou-se do ocorrido. Passara a noite de núpcias com seu marido e continuava virgem. Levantou-se e foi ao banheiro, enquanto lavava o rosto pensou:

-Que ironia! Esperei tanto por esse dia e nada aconteceu. Não direi nada a ninguém, ou vou virar chacota das comadres.

A moça fez sua higiene pessoal e foi fazer café, queria acordar o marido com o café pronto. Estava desolada, não sabia como conduzir aquela situação.

Voltou ao quarto com o café na xícara apoiada no pires e tocou o ombro de Luís Carlos. Ele resmungou e se virou para o outro lado, então ela deu um grito:

 - Acorda que o Sol já apareceu. Toma esse café e vai tomar banho, para acordar.

O rapaz abriu os olhos e perguntou onde estava. Laura, nada amistosa disse:

- Na nossa casa, no nosso quarto!

 O rapaz olhou para suas roupas e perguntou se havia dormido daquele jeito.

 – Sim, você dormiu e eu não consegui tirar suas roupas, depois dormi também, que estava cansada.

Ele tratou de se levantar, tomou um gole do café e se fechou no banheiro. Demorou uns quarenta minutos, estava refletindo na mancada que dera. Não poderia contar a ninguém, ou seria motivo de deboche por parte de seus amigos. Passaria a ser conhecido como o noivo que dormiu na noite de núpcias; uma vergonha total.

Laura foi ver os presentes, que estavam no quarto de visitas; havia muitas coisas para serem abertas. Esperaria por Luís Carlos para abrirem juntos. Estava magoada, decepcionada, nunca imaginara uma situação como aquela.

Nesse momento, ele adentrou o quarto e foi logo agarrando sua mulher. A toalha caiu e ele pegou Laura no colo, levando-a para a cama do casal. Ali, com o Sol iluminando tudo, foi concretizado o enlace matrimonial.

A mulher sorriu, foi um momento inesquecível em sua vida. Ainda se lembrava da emoção sentida naquele instante. Tornou-se mulher nos braços de seu amor. Uma felicidade plena, que apagava todo o ocorrido, ficava o segredo entre eles, a mancada da noite de núpcias.

Ficaram ali deitados se entreolhando e felizes por serem apaixonados um pelo outro. O dia passou entre abraços e beijos, não viajaram porque queriam passar o Natal com seus familiares. Viajariam somente em janeiro, uma semana na praia, era tudo o que teriam como lua de mel.

Na segunda-feira, Luís Carlos voltou ao trabalho e ela começou sua vida de dona de casa. Encarou o fogão e as coisas não deram muito certo, o arroz ficou salgado e o bife duro. Mas, em nome do amor, ambos comeram sem reclamar.

 Passaram três dias curtindo o amor e se conhecendo melhor, então chegou a véspera do Natal e eles passaram a noite com seus familiares. Laura estava muito bonita com seu vestido vermelho e o marido a acompanhava satisfeito.

Foi uma noite memorável, a primeira noite de Natal do novo casal, que se repetiu durante trinta e cinco anos. Tiveram dois filhos, Artur e Selma, que lhes deram cinco netos, todos criados e encaminhados.

 Quando a vida parecia sorrir para eles, que passeavam sempre juntos, conhecendo novos lugares, aconteceu o pior. Luís Carlos amanheceu morto na cama, ao lado de Laura, um enfarte fulminante.

 Ela não percebeu nada e levou o maior susto quando tentou acordá-lo, o corpo estava frio e enrijecido. O médico disse que fazia algumas horas que ele falecera. Ali ela também morreu um pouco.

 Não quis ficar na casa e foi morar com sua filha. Descobriu todas as dores do mundo, curtiu uma depressão durante anos seguidos. Pensou muitas vezes em tirar a própria vida, só não o fez porque era temente a Deus.

Entretanto, um milagre aconteceu, ela conseguiu lembrar-se de todos os anos felizes, que vivera em companhia do marido e sentia-se leve. Aquele lugar, embaixo daquela árvore, lhe devolvera a vida, então, levantou-se e foi para sua casa preparar a ceia de Natal.

À noite, na hora do brinde ela foi até a varanda e olhando para o céu, ergueu o cálice e brindou:

 - Feliz Natal amor, o compromisso continua; é só uma questão de tempo.

 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

"A PRIMAVERA CHEGARÁ, MESMO QUE NINGUÉM MAIS SAIBA SEU NOME, NEM ACREDITE NO CALENDÁRIO, NEM POSSUA JARDIM PARA RECEBÊ-LA." CECÍLIA MEIRELES

QUE SUFOCO!!!

                                         CAPÍTULO QUATRO

          Laura se esquecera da vida, eram lembranças boas de um passado distante, queria prolongar aquele momento. Em suas recordações, sentia-se jovem, cheia de vida e estava apaixonada por Luís Carlos, que se tornaria seu esposo antes do dia terminar; aquele pensamento a deixava excitada. Naquela noite, todos os mistérios das noites de núpcias seriam revelados.

              Era proibido para as moças, naquela época, perguntarem coisas sobre sexo para a mãe ou outra pessoa da família. Era um assunto para mulheres casadas, para as solteiras era tabu. As coisas que a maioria sabia, eram ditas por colegas em conversas furtivas. Assuntos que foram lidos em revistas proibidas, geralmente dentro de banheiros e relatados por pessoas de fama duvidosa.

               Havia muito medo envolvendo a lua de mel, muitas histórias eram contadas em rodinhas de vizinhas ao entardecer, como por exemplo:

                - “A filha de um conhecido sitiante se apaixonou e casou-se com o filho do farmacêutico da pequena vila. Era conhecida como moça direita e foi entregue ao marido em confiança. No entanto, o dia seguinte ainda não havia nascido e o rapaz estava na porta do sitiante, para devolver a moça”.

           “Furioso, o noivo esbravejava que a noiva não era virgem e ele não queria mulher de segunda mão. Enquanto o pai não sabia o que dizer, a moça chorava copiosamente. O marido, ultrajado, jogou a mala da noiva nos pés do sitiante e saiu cantando pneu no velho carro de seu pai”.

               Estava desfeito o casamento, que seria anulado e a moça nunca mais arrumaria outro marido. Teria que ficar dentro de casa ajudando a criar seus sobrinhos. Essa e outras histórias tiravam o sono de muitas moças, era a desgraça total. Em uma sociedade machista e patriarcal, as moças se continham por medo de ficarem faladas. Uma ou outra que se perdia, ficava para titia.

            Nesse contexto, Laura estava se aprontando para subir ao altar, amava o noivo e ele não poderia vê-la antes do casamento. Os dois se encontrariam no tapete vermelho da Matriz e dali sairiam para uma vida juntos, cheia de amor e de lutas.

               Ela estava muito bonita com seu vestido branco e um véu que descia sobre a cauda do vestido. O buquê de flores de laranjeiras enfeitava o conjunto harmônico. Luís Carlos em seu terno preto, impecável, aguardava a noiva amada. O pai entregou a filha ao noivo e subiu ao altar. Os noivos se entreolharam, havia amor no olhar de ambos.

             O Monsenhor, que estava celebrando o enlace matrimonial, se empolgou e demorou no sermão, mais do que havia previsto. Em dado momento, o noivo titubeou e desfaleceu. A madrinha, que era sua irmã, tratou de ampará-lo. Luís Carlos estava branco como uma folha de papel sulfite. A noiva, espantada, entregou o buquê para a outra madrinha e começou a rezar, ainda não tinham dito “sim”.

              Alguém correu para pedir ajuda e outra pessoa foi até a casa do vizinho. Ambas voltaram com xícaras nas mãos, uma continha açúcar e na outra tinha sal. Colocaram o sal na boca do noivo e ele fez careta, depois abriu os olhos, o açúcar foi deixado de lado. Apoiado, ele conseguiu se levantar. O Monsenhor, então, tratou de terminar a cerimônia, para que o rapaz tomasse um pouco de ar puro do lado de fora da igreja.

Todos se entreolharam e a madrinha exclamou: - Que sufoco!

Laura saiu da igreja abraçada ao marido, estava trêmula, quase o perdera. Um amigo, que estava entre os convidados, explicou que ele teve uma hipoglicemia, motivada por excesso de bebida, que o noivo tomou durante a despedida de solteiro. E com a correria do dia do casamento, ele não se alimentara o suficiente.

O casal ficou na festa o tempo necessário para cortar o bolo e depois fugiram do local, no automóvel do padrinho. O marido estava enfraquecido pelo desmaio e se jogou na cama, adormecendo em seguida. Laura tirou os sapatos dele, o paletó, o cinto, a gravata e em seguida cobriu seu corpo com o lençol. Nada poderia fazer, sua lua de mel estava arruinada.

Ela tomou banho, vestiu a camisola do dia, que estava separada e se enfiou debaixo da coberta, estava cansada. Luís Carlos roncava em seu sono reparador. Sua lua de mel fora adiada, mas os sonhos continuavam presentes. A esposa beijou os lábios do marido, que nem se mexeu, em seguida, ela adormeceu.

 Laura suspirou, precisava voltar para sua casa.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

                                 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

"PLANTE HOJE A SEMENTE DA FLOR QUE VOCÊ DESEJA COLHER AMANHÃ". MAYARA BENATTI

                                      AH! O AMOR

                                            CAPÍTULO TRÊS

             Laura estava motivada e resolvida a preparar a ceia de Natal, chamaria os filhos e netos. Estava viva e queria ser feliz com seus familiares, assim, ela armou a árvore, colocou luzes brilhantes e uma guirlanda na porta de entrada. A casa ganhou vida, do ar de abandono e tristeza, agora exalava esperança; estava limpa, arrumada, colorida e festiva.

              Na quarta-feira ela foi ao supermercado e comprou os mantimentos para a ceia. No dia seguinte seria a véspera do Natal e ela passaria o dia todo cozinhando os assados e doces, para servir aos seus familiares. Durante muitos anos, a ceia de Natal foi realizada em sua casa, uma alegria para todos.

             As compras que foram feitas no supermercado, seriam entregues somente no período da tarde, então, ela tinha tempo para descansar na praça. Alguma coisa a atraia para aquele lugar, ali ela se conectava com seu passado e acalmava seu coração.

              Sentou-se mais uma vez embaixo da árvore, que para ela representava a volta à vida. Ficou algum tempo olhando as formigas cortadeiras, que continuavam na mesma labuta, cadenciada e constante.

                - O formigueiro deve estar cheio de folhas das árvores desse jardim, mas, elas não descansam. E, se alguém não as pararem, o futuro do jardim será um deserto. Ela pensou e mentalmente vislumbrou um deserto naquele lugar e fechou o semblante.

              – Não, isso não pode acontecer! Esse lugar não pode acabar.

            Em seguida, Laura fechou os olhos e voltou ao passado novamente. Sentiu seu amor crescer por Luís Carlos, ele a tratava com carinho e amor. O namoro acontecia em locais escondidos, até que seu pai tomou conhecimento e os chamou para uma conversa. Desse modo foi colocada a necessidade de uma atitude mais séria do rapaz.

             - Ou namora em casa ou não tem mais nenhum encontro às escondidas. O pai foi taxativo.

              O consentimento para o noivado foi cheio de recomendações. Ela se lembrava perfeitamente das palavras, que ele disse ao aprovar o noivado:

              - Laura é uma boa moça e lembre-se do que vou dizer. Ela tem família que a ama muito, portanto nunca a maltrate ou terá que responder por isso.

          Foi um jantar animado, o casal parecia feliz. E, na hora da despedida rolou um forte abraço e um beijo intenso e profundo. A moça entrou correndo para seu quarto, foi naquele momento que ela percebeu todo o desejo do homem, contido por seu amor.

               Um barulho a despertou de seu devaneio, abriu os olhos e viu que não havia nada ao seu redor, foi uma motocicleta que passou rapidamente por ali. Então, mergulhou em seus pensamentos novamente; era um lugar confortável, que afagava sua alma inquieta.

           A senhora abriu os olhos, ainda podia sentir um arrepio na espinha, estava viva. Todas as lembranças eram boas e ela não queria sair dali, estava extasiada.

             Nos meses seguintes houve a preparação do casamento, tudo feito com muito capricho pelas duas famílias. Quanto ao noivo, aumentava suas investidas com palavras e atos mais picantes, ele sussurrava em seus ouvidos palavras de amor e desejo. Era um tempo de controvérsias, o sangue queimava em suas veias, também queria se entregar ao amor nos momentos da despedida.

             Mas tinha muito medo de uma gravidez inoportuna, que envergonharia seus pais. Assim, Luís Carlos e Laura se despediam e continuavam a espera da noite de núpcias. O ano demorou a passar, havia pressa em se entregarem ao amor pleno.

           O casamento foi marcado para um sábado, dia vinte de dezembro de um mil novecentos e sessenta e nove. As lembranças estavam vivas em seu pensamento, havia um sentimento mágico que envolvia aquele dia especial. Com um sorriso nos lábios ela retornou para o dia do seu casamento.

 

 Um texto de Eva Ibrahim 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"ESTÃO VOLTANDO AS FLORES" - EMILIO SANTIAGO - "VÊ, AS NUVENS VÃO PASSANDO, VÊ, UM NOVO CÉU SE ABRINDO. VÊ, O SOL ILUMINANDO, POR ONDE NÓS VAMOS INDO." COMPOSIÇÃO: PAULO SOLEDADE

A LUZ DO LUAR

                                          CAPITULO DOIS

          Laura sentia-se mais leve, alguma coisa havia mudado dentro do seu coração. Voltou para sua casa e fez uma limpeza geral, precisava organizar a casa, para armar a árvore de Natal. Queria reunir sua família na ceia, espantar o vírus e todas as doenças de uma vez por todas, estava decidida.

              A terça-feira amanheceu com tempo nublado, mas não estava chovendo, assim, a mulher saiu cedo para comprar novos enfeites para a árvore. Era costume, a cada ano acrescentar novas bolas ou luzes, diziam que dava sorte. Quando voltava das compras, resolveu sentar-se novamente sob o Flamboyant, queria descansar um pouco e olhar as formigas cortadeiras.

              Aquele era um lugar mágico, onde ela podia soltar sua imaginação e relembrar o passado. Fechou os olhos e as imagens da manhã daquele Natal tão esperado, começaram a tomar vida em seus pensamentos.

               A menina acordou e pulou da cama:

               - Será que o papai Noel passou por aqui? Perguntou gritando e acordando seu irmão.

               Os dois se abaixaram para olhar debaixo das camas e lá estavam os presentes. Rapidamente pegaram e abriram as caixas, estavam ansiosos demais, para esperar os pais acordarem. José, o irmão, pegou os soldadinhos de chumbo e ela abriu a caixa de maquiagem, para ver se estava tudo ali.

               Ficou maravilhada, era uma caixa cuja tampa tinha um espelho redondo e estava cheia de coisas para promover a beleza da mulher. Sua avó e seus pais prepararam seu presente direitinho, mas os louros foram para o bom velhinho.           

               Laura estava muito feliz e aquela sensação tomou conta do seu coração. Depois de muito tempo, ainda podia sentir aquela sensação de felicidade.

             A mulher parecia embevecida pelas lembranças daquele dia de Natal, no qual ela tinha apenas nove anos. À noite, sua mãe e algumas vizinhas sentaram-se em frente as casas e as crianças ficaram brincando na rua, enquanto as mulheres conversavam. Era noite de luar, os meninos brincavam de pique esconde e as meninas sentaram-se na calçada, para falar de seus presentes.

             Uma delas olhou para a lua e disse:

             - Olha lá, o São Jorge está montado em seu cavalo branco. E todos os olhares se voltaram para a lua cheia, que brilhava iluminada de luz prata.

             Era sabido por todas as crianças, que São Jorge morava na lua e naquela noite mágica, ele parecia estar montado em seu cavalo branco. As meninas pareciam encantadas e não tiravam os olhos daquela imagem, enquanto isso, os meninos riam delas, dizendo:

               - Bobas, aquilo são nuvens e não o santo guerreiro.

                Elas protestavam, mas eles não davam trégua, riam para valer. Formada a contenda, as mães interferiram mandando cada filho, para sua respectiva casa, acabara a brincadeira. As meninas saíram chorando, mas tinham a certeza de que era o santo, que estava na lua.

                Laura sorriu, fora uma criança feliz, num tempo em que as coisas simples davam o tom na vida.

             O tempo passou e ela foi para o Ginásio, lá ela descobriu muitas verdades pelas bocas dos meninos mais espertos, que adoravam provocar as meninas. Mas, entre eles havia um que tinha um olhar diferente, chamava-se: Luís Carlos. Quando seus olhares se cruzavam, ele abaixava a cabeça e ela ficava vermelha.

               Essa situação perdurou por dois anos, então veio a ditadura em um mil, novecentos e sessenta e quatro. Tempos difíceis e de muito medo em todos os lugares. Laura já era uma moça com dezesseis anos e acalentava o primeiro amor. Luís Carlos tomou coragem e numa quermesse da escola, através de um correio elegante, declarou seu amor para ela.

              O primeiro encontro aconteceu atrás da barraca da pescaria, em uma noite de luar. Ali eles se beijaram pela primeira vez, um selinho para os padrões de hoje em dia. Mas para os dois apaixonados, foi a maior emoção.

             Com os olhos semicerrados, a mulher estava envolvida pelas lembranças.  De repente, caiu uma flor em cima de sua cabeça, trazendo-a para a realidade. Olhou no relógio e se apressou, fazia duas horas que ela estava ali, revivendo o seu passado. Em seguida, levantou-se e caminhou em direção à sua casa, levava no peito o espírito de Natal.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"ESTÃO VOLTANDO AS FLORES" - EMÍLIO SANTIAGO- " VÊ, ESTÃO VOLTANDO AS FLORES, VÊ, NESSA MANHÃ TÃO LINDA! VÊ, COMO É BONITA A VIDA, VÊ, HÁ ESPERANÇA AINDA. (...)"COMPOSITOR: PAULO SOLEDADE

                            A ÁRVORE DA VIDA

MEU FLAMBOYANT

CAPÍTULO UM

                  O dia amanheceu cinzento, com nuvens pesadas rondando a cidade, era um prenúncio de muita chuva. Aquele clima pesado influenciava no humor da maioria das pessoas, deixando-as deprimidas. Era a semana do Natal e nada deixava Laura motivada para as comemorações.

                 - Se ao menos tivesse um Sol brilhante! Ela pensou desanimada.

               O ano fora difícil para todos, muitos perderam seus entes queridos; ela perdeu uma amiga e vizinha. Nunca imaginou que Olga fosse para outro plano tão cedo. Num piscar de olhos, a moça adoeceu e faleceu, ainda é difícil acreditar. Por tudo isso ela andava desanimada, não queria fazer nada naquele final de ano.

             Era segunda-feira da semana do Natal e ela levantou-se bem cedo, precisava sair para fazer umas compras e depois passar na Igreja. Como de costume, Laura queria pegar o folheto do programa das festas natalinas. Gostava de frequentar a igreja e principalmente a Missa do Galo. Deixava tudo pronto em sua casa e quando voltava da celebração, fazia a ceia com todos da família.

           No entanto, esse foi um ano complicado, a pandemia do Corona vírus pegou a todos de surpresa e continua influenciando a vida da humanidade em geral. A maioria das comemorações públicas estão suspensas e cada família irá comemorar na privacidade de seus lares, com cuidados especiais.

            Saiu da igreja com algumas sacolas das compras nas mãos e o folheto desejado, estava cansada e resolveu sentar-se no banco da praça, queria tomar fôlego.

            – A idade está pesando, já não consigo fazer caminhadas sem sentir cansaço. Pensou com tristeza.

           Era uma senhora com mais de setenta anos e sofria de nostalgia. Passou meses confinada, os filhos e netos a evitavam, pois fazia parte do grupo de risco, ao qual foi imposta uma solidão forçada. No último mês, os governantes abriram o comércio e diminuíram as restrições, então, o tal grupo de risco voltou a ter um pouco de liberdade. Assim, Laura retornou a seus afazeres rotineiros.

             Ali, debaixo da árvore, havia uma sombra gostosa, podia-se ouvir o barulho dos pássaros e o farfalhar das folhas ao sabor da brisa, que roçava seu rosto. A senhora respirou fundo, olhou para cima e viu muitas flores vermelhas em galhos pendentes. Formavam cortinas de ramas, que quase encostavam na terra.

             Olhou para o chão e viu as raízes grossas, que saíram da terra formando bancos ao redor do seu tronco. Era uma árvore idosa também, do seu grupo de risco. Bem na sua frente, havia uma procissão de formigas cortadeiras, carregando pequenos pedaços de folhas de uma roseira do jardim. Não conseguiu avistar o formigueiro, somente a longa procissão.

           – Esse é um trabalho árduo e constante, será que os filhotinhos de formigas estão preparando suas caixas para receber o presente do Papai Noel? A mulher pensou e sorriu largamente.

           Aquele fato a fez lembrar-se de quando era criança, lá nos idos de um mil novecentos e cinquenta e seis. Os belos anos dourados, onde os sonhos eram abundantes.

           O país vivia uma euforia com o início da construção da nova capital no centro oeste brasileiro. Havia muita pressa para a construção de Brasília e as notícias eram alvissareiras, o Brasil dava um grande passo à frente no após guerra. Para as crianças era permitido sonhar em um mundo restrito, sem internet, sem telefone e no qual as notícias boca a boca eram um importante meio de comunicação.

            Laura era pequena e acreditava em Papai Noel, nesse ano ela pediu ao pai uma caixa com maquiagem. Pó de arroz, batom, lápis de olhos, rímel, esmalte, fixadores de cabelos, grampos e presilhas, a lista era grande, igual aos sonhos da menina. Ela vira tudo isso na revista de sua mãe: “Jornal das moças”. Queria praticar maquiagem em suas bonecas de louça, que ganhara de sua avó.

           A menina esperava a noite de Natal ansiosamente e na véspera pegou uma caixa de sapatos, que estava guardada para a ocasião e foi até o outro lado da rua. Lá morava uma grande árvore de Flamboyant, então, a menina apanhou um galho cheio de flores, que se arrastava até o chão e o levou para sua casa.

        Desmanchou cada pétala da flor da árvore, para forrar o fundo de sua caixa, na qual o seu presente deveria ser colocado. As folhas ficaram para seu irmão forrar a caixa dele, pois ali seriam colocados os soldadinhos de chumbo, que ele tanto queria.

             Lembranças de um passado simples e bonito, no qual sua família estava reunida, acalentou seu coração. As nuvens negras se afastaram e a beleza do sentido do Natal tomou conta da sua alma. A mulher levantou-se e sorrindo fez um carinho no tronco da árvore, depois sussurrou baixinho:

              - Meu Flamboyant

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

"NOSSA SENHORA"(...) E AQUELES QUE EU FIZ SOFRER, PEÇO PERDÃO. SE EU CURVAR MEU CORPO NA DOR, ME ALIVIA O PESO DA CRUZ. INTERCEDA POR MIM MINHA MÃE, JUNTO A JESUS. (...)"COMPOSITORES: ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS.

                         UMA GRAÇA RECEBIDA

CAPÍTULO OITO

            O rapaz amparou a namorada e a ajudou a sentar-se na cadeira. Ela precisava se acalmar, estava diante do médico e a hora da verdade havia chegado. Caetano apanhou uma revista e começou a abanar a moça. Aos poucos ela voltou a si, estava muito abalada.

             - O que o médico quis dizer com fazer a cirurgia? Ela sussurrou para Caetano, precisava de uma explicação, estava aguardando que ele dissesse o resultado do exame. No entanto, ele fez uma cara estranha e falou em cirurgia.

            O mastologista que observava tudo, se manifestou:

             - Minha senhora, eu disse que irá para a cirurgia remover esse nódulo, mas ele deu negativo para o câncer. Será um procedimento necessário para que seu seio volte ao normal. Deverá tomar alguns medicamentos e tudo isso poderá ser esquecido. Não irá tomar quimioterapia e nem perderá seus cabelos.

             Edileusa começou a chorar e balbuciar:

             -É verdade? A Virgem aceitou a minha promessa e me livrou de um câncer perigoso?

             - A senhora teve muita sorte, apesar da aparência de malignidade do nódulo, o exame não acusou nenhum câncer. Mas, apenas um nódulo benigno, que precisa ser retirado. O médico afirmou e continuou escrevendo na pasta da paciente, parecia satisfeito com o resultado obtido na biópsia. Depois completou:

              -Vamos marcar para a sexta-feira bem cedo, a retirada do nódulo. Esteja aqui, as sete horas da manhã em jejum, que iremos resolver isso.  Levantou-se e foi até a moça, entregando-lhe o agendamento da cirurgia. Ele parecia bastante otimista. Depois se retirou da sala, deixando o casal estupefato.

           A moça demorou para se recompor, estava emocionada. Em seguida, Caetano a abraçou e saiu conduzindo-a para fora. O ar puro batendo em seu rosto a fez sentir-se melhor, estava salva daquela sentença de morte. Era quarta-feira e ela teria mais um dia antes da cirurgia, precisava agradecer à Virgem de Nazaré.

            O casal seguiu para a Catedral, lá era o santuário de todas as versões da Virgem Maria. Edileusa se ajoelhou em frente ao altar e chorou copiosamente, agradeceu e rezou para a Santa. Então, seguiram para casa, estavam aliviados, iriam se preparar para a internação na sexta-feira.

             O dia amanheceu ensolarado e encontrou a moça pronta para ir ao hospital. O rapaz a acompanhou até a recepção, onde ela foi atendida e encaminhada para o consultório. Dalí seguiu para a enfermaria, na qual iria aguardar ser conduzida para o centro cirúrgico.

           A cirurgia demorou quatro horas e depois de mais duas horas na sala de recuperação, Caetano foi liberado para ver sua namorada. Edileusa estava sonolenta, mas feliz como uma criança. Sorriu para o companheiro e continuou dormindo, estava em paz.

            Recebera um milagre da Santa e agora teria uma vida inteira pela frente. O fantasma da doença fora afastado, queria viver e ser feliz ao lado de Caetano, que nunca a abandonara.

             Para sua mãe, nunca diria nada, não queria que se preocupasse com aquele problema, que a estivera rondando. Seguiria sua vida agradecida à Santa e nos anos seguintes voltaria à Basílica Da Virgem de Nazaré para agradecer. Teria a vida inteira para reverenciar, aquela que lhe concedera a graça de um milagre valioso.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"NOSSA SENHORA" "CUBRA-ME COM SEU MANTO DE AMOR, GUARDA-ME NA PAZ DESSE OLHAR. CURA-ME AS FERIDAS E A DOR, ME FAZ SUPORTAR. QUE AS PEDRAS DO MEU CAMINHO, MEUS PÉS SUPORTEM PISAR. MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO.(...)" COMPOSITORES: ROBERTO CARLOS/ ERASMO CARLOS.

                                           O MONÓLOGO

CAPÍTULO SETE

               Mais alguns dias e o casal teria que retornar ao seu domicílio, o trabalho os esperava. Edileusa estava esperançosa, havia cumprido a promessa feita na hora da angustia, no entanto, queria ir à Basílica e se ajoelhar diante da Santa. Pensava que precisava reiterar seu pedido, pois entre milhares de promessas de peregrinos queria ter a certeza, de que seria ouvida.

               A missa terminou, mas a moça continuou sentada no banco, não estava com pressa. Na verdade, ela aguardava uma oportunidade, queria conversar a sós com a Santa. A maioria dos fiéis deixaram a Basílica, os objetos litúrgicos utilizados para a bênção da hóstia foram guardados, o Bispo e os padres se recolheram. Algumas pessoas se demoravam por ali, pequenos grupos rezavam em silêncio.

              Os pássaros, moradores dos vãos do teto e da nave da igreja, começaram seus voos rasantes, pareciam felizes. O órgão deu seus últimos acordes e sua tampa baixou. As mãos, que tocavam músicas alusivas ao Círio de Nazaré, foram retiradas e seu dono apanhou as partituras. Em seguida, o organista saiu de mansinho, com jeito de dever cumprido; era o fim de mais uma cerimônia religiosa.

               O silêncio se estabeleceu ali e qualquer som fazia um eco assombroso. A Basílica era grande e suntuosa, vazia chegava a ser assustadora. Edileusa levantou-se e observou, que havia apenas umas dez pessoas ali no recinto. Então, encaminhou-se até o altar e ajoelhou-se diante da Virgem. Do seu coração começou a sair o monólogo mais sincero, que já dissera para si mesma.

              - Mãe Santíssima, estou aqui de joelhos lhe implorando, que aceite o meu gesto e a promessa que eu fiz e cumpri. Voltarei para meus afazeres e ficarei sabendo o resultado do meu exame. Para mim, significa a vida ou a morte. Me conceda a vida senhora e, eu lhe serei grata para sempre. Amém.

             As lágrimas foram inevitáveis, estava sob pressão intensa. O médico não lhe dera esperanças, tudo levava a crer tratar-se de um câncer agressivo. 

             Caetano, que aguardava lá fora, entrou para ver porque sua namorada demorava tanto.

              A Basílica já estava vazia nesse momento e ele tocou o ombro da moça, que parecia em transe, então disse:

          - Vamos, já é tarde. E ficou parado esperando ela levantar-se.

            Edileusa, chorando, o abraçou e seguiram em frente, nada mais poderia ser feito, estavam nas mãos divinas. O rapaz, emocionado, disse para sua amada:                             

            - Tem que confiar, você não poderia estar em melhores mãos, são as mais piedosas possíveis.

             No dia seguinte, arrumaram as malas, voltariam de avião, estavam cansados da grande jornada vivida e não aguentariam outra viagem de ônibus. A moça não contou o motivo da visita para sua mãe, não queria assustá-la. Á noite, despediram-se de Helena no aeroporto e embarcaram de volta para casa.

            Quando já estavam acomodados, Edileusa, em um gesto instintivo, levou a mão ao seio comprometido e constatou, que o caroço continuava crescendo em seu corpo. Caetano percebeu o gesto de sua namorada e a apertou num abraço. O casal levava consigo a esperança do milagre pretendido.

            O tempo passou rápido e chegou o dia da consulta médica, na qual seria revelado o resultado do exame de biopsia da mama de Edileusa. Ela não conseguiu dormir, estava muito ansiosa. Faltavam duas horas para a consulta e ela já estava pronta, esperando Caetano se preparar.

             A paciente tomou um copo de leite e nada mais passava em sua garganta; parecia ter um nó parado ali. O rapaz dirigia em um trânsito caótico e ela queria que ele fosse rápido.  Ele pedia calma, mas ela não conseguia se acalmar, parecia enlouquecida.

             Finalmente, estavam na sala de espera do mastologista, esperando a chamada do nome da paciente. E, quando chamaram, Caetano teve que amparar a namorada.

            Com calma o médico pegou o envelope e abriu. Parou por alguns momentos para certificar-se do resultado e disse:

            - Vamos marcar cirurgia para a retirada desse nódulo, será o mais breve possível.

           A moça ficou desfigurada e começou a tremer.

           Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- "(...) E AINDA SE VIER NOITE TRAIÇOEIRA, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO". O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO".

                            UM BUQUÊ DE ROSAS

CAPÍTULO SEIS

           Na manhã de sexta-feira, começa o translado da imagem da Virgem Peregrina. Bem cedo é rezada a missa na Basílica da Virgem de Nazaré e as oito horas da manhã, acontece a procissão do Círio, que é o translado até a cidade de Ananindeua.

              A saída ocorre em frente a Basílica e percorre cerca de cinquenta quilômetros, até chegar à Igreja de Nossa senhora das Graças, na cidade vizinha. A caminhada dura dez horas, chegando ao destino as dezoito horas. Durante o trajeto, essa procissão deve envolver mais de um milhão de pessoas.

              Edileusa e Caetano estavam prontos, para acompanhar a imagem da Santa até Ananindeua. Ela queria cumprir sua promessa, que consistia em rezar um rosário inteiro, durante a romaria. Com muita fé no coração, os dois seguiam a multidão, da qual emanava muita energia positiva. Milhares de pessoas em oração são agradáveis aos olhos dos céus e ali, não havia nenhuma nuvem no horizonte de Belém do Pará, era um dia perfeito.

              O religioso que celebrou a missa pela manhã, seria o mesmo que celebraria a missa vespertina, antes de iniciar a vigília noturna. Durante toda a noite, milhares de devotos permaneceram em frente à igreja de Nossa Senhora das Graças. Assim, aconteceu o translado da imagem da Virgem Peregrina.

            No sábado de manhã, a romaria rodoviária saiu em direção a cidade de Icoaraci. Durante o trajeto, a imagem da Santa recebeu homenagens dos devotos em bares, restaurantes, postos de combustíveis, condomínios e vilas a beira da estrada. Por onde passou, em carro aberto, foi aplaudida e reverenciada.

          Caetano e Edileusa pegaram carona em uma caminhonete de conhecidos e fervorosamente acompanhavam a procissão de milhares de veículos. A moça tinha o pensamento fixo no rosário, que trazia nas mãos. Ela procurou em diversas lojas de produtos religiosos, para encontrar um rosário. Diferente do terço, o rosário tem vinte dezenas e duzentas Ave-Marias, que correspondem a quatro terços.

           “Segundo a tradição católica, o nome de Rosário foi dado, pois a cada Ave-Maria que rezamos é como se entregássemos uma rosa à Nossa Senhora. No final de duzentas rezas, entregamos um lindo buquê de rosas à Virgem Santíssima”.

              Edileusa continuava suas orações em voz baixa e concentrada, era a sua promessa para a Virgem de Nazaré. Sentada no fundo da carroceria do veículo, nada a dispersava. Caetano se mantinha próximo para protege-la de solavancos, que poderiam machucá-la.

             Chegando a Icoaraci iniciou-se o posicionamento da comitiva da imagem da Santa, para começar a romaria do Círio fluvial. A imagem seguiu de barco pela baia de Guajará de Icoaraci, até o porto de Belém. Formou-se uma procissão de barcos pesqueiros, jet Skis, canoas, iates enfeitados e outros, para homenagear a santa.

             O casal continuava firme no propósito de acompanhar a imagem, até sua chegada à Basílica. Edileusa continuava com o Rosário nas mãos, em uma súplica contínua. Quando o barco em que o casal se encontrava passou pela embarcação, em que a Santa estava, a moça jogou uma rosa, com seu pedido de socorro.

           Ela não percebeu, mas a rosa ficou enroscada no barco entre outras flores. A romaria seguiu em frente até o porto de Belém e a partir da Estação das Docas iniciou-se a moto-romaria. Era composta de muitas motocicletas enfeitadas, que partiram buzinando freneticamente em homenagem a Virgem, até o Colégio Gentil Bitencourt. Por todo o trajeto anunciavam a passagem da Imagem da Santa.

          Então, na noite do sábado ocorreu a transladação, que é realizada a pé.  A Imagem peregrina é colocada em uma berlinda, que é atrelada a uma corda de 400 metros e puxada pelos devotos até a Catedral da Sé. A corda é feita de sisal e é disputada pelos fiéis, que querem segurá-la para ficar bem perto da berlinda, onde está a imagem, formando assim, um cordão humano ao longo da corda.

               Além dos carros de promessas, onde pode-se observar velas do tamanho das pessoas, existem os membros humanos em cera, esculturas de partes do corpo, casas, barcos e outros bens em miniaturas, oferecidos pelos devotos, em agradecimento aos milagres recebidos. Vale tudo para demonstrar agradecimentos, os fiéis vão descalços, com crucifixos, com imagens da santa e outros objetos relacionados aos milagres recebidos. Pode-se observar crianças vestidas de anjos, para cumprir promessas de seus pais, que vão acompanhando a romaria.

            A procissão do Círio reúne cerca de dois milhões de pessoas e é o ponto alto da festa, que sai da Catedral da Sé até a Basílica de Nazaré.

             Edileusa e Caetano, também, estavam segurando na corda, que tinha quatrocentos metros e pesava setecentos quilos. E, ao chegar ao destino, a romaria se concentrou em frente à Basílica e os devotos atacaram a corda, cortando-a, para cada um levar um pedaço para casa, pois acreditam dar sorte.

            A moça saiu com um palmo da corda, que o seu namorado conseguiu cortar com um canivete. Ambos estavam orgulhosos pelo feito, a corda lhes passava a certeza da promessa cumprida.

          O rosário foi dependurado na parede da sala de sua mãe, com a recomendação de deixa-lo ali para sempre. Edileusa estava serena, entregara o buquê de rosas prometido à Virgem de Nazaré e tinha consigo o pedaço da corda, que para ela era uma relíquia.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

Pesquisas no YouTube e no blogspot “Nossa sagrada família”.

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - PADRE MARCELO ROSSI- "(...) ESCUTE: OH! OH! DEUS TE TROUXE AQUI, PARA ALIVIAR O SEU SOFRIMENTO. OH! OH! É ELE O AUTOR DA FÉ, DO PRINCÍPIO AO FIM EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. (...)".

O MANTO DA VIRGEM

CAPÍTULO CINCO.

            A cidade estava cheia de turistas, que se amontoavam nas lojas, hotéis, bares, restaurantes e feiras; havia muita gente comprando e consumindo, fazendo a alegria do comércio local. Parecia uma festa permanente, muitos sorrisos e manifestações de contentamento. Estar ali, era a realização de um sonho para muitas pessoas.

             Uma festa religiosa que alimenta a esperança de devotos e demonstra o agradecimento da massa popular, pelos milagres e graças recebidas. A maioria tem algum pedido que foi atendido, para contar aos amigos e parentes.

             Edileusa estava ali porque era devota da virgem e precisava ser agraciada pela cura da doença, que se desenhava em seu corpo. Colocou a mão sobre o seio direito, na esperança do caroço ter sumido. No entanto, ele continuava lá, e parecia ter aumentado de tamanho. Uma ruga profunda vincou em sua testa:

              - Será que está piorando? Fez essa pergunta ao seu coração e imediatamente voltou seus olhos para o céu. Então, suplicou por misericórdia:

               - Não permita Mãe Santíssima, que essa pedra permaneça em meu caminho. Imploro que me conceda a graça da libertação dessa doença. E duas lágrimas rolaram pelo seu rosto.

             A semana passou rápido e quando chegou a quinta-feira, havia uma expectativa na maioria da população local e nos turistas também. Helena explicou para sua filha e o namorado dela, que durante a missa das dezoito horas, na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, seria apresentado o Manto da Virgem para o ano de dois mil e dezenove.

            Confeccionado com fidelidade ao tema do ano, estabelecido pela Diocese do lugar, o Manto era uma verdadeira joia, que envolveria a imagem da Virgem nas procissões e atos religiosos.

            Todos os anos, um novo Manto é confeccionado para cobrir a imagem, nas celebrações das festas do Círio de Nazaré. A peça é desenhada e confeccionada por profissionais especializados, que doam seu tempo e seu trabalho para agraciar a virgem com todo esplendor, que ela merece. É custeado por doações de fiéis, alguns, que já receberam um milagre da Santa.

              O Manto deve ter como características, o simples e o belo. Os elementos de destaque do ano de dois mil e dezenove são: as flores das sumaumeiras, a cruz e o broche.

          A sumaumeira é considerada, entre os povos da região amazônica, como a rainha das árvores, que representa a vida entre nós. Á delicadeza da virgem é representada por pequenas flores da árvore, distribuídas harmonicamente ao redor do manto. A cruz foi confeccionada na parte de trás do Manto e trabalhada com pedrarias sobre uma base reluzente. E fechando a frente do Manto, temos o broche dourado, que homenageia os trezentos anos da Diocese de Belém.

             Como o tema daquele ano foi: “Maria, Mãe da Igreja”, havia toda uma celebração para expressar o valor da vida cristã, ancorada no mistério da cruz e na defensora dos oprimidos, a mãe do redentor.

             Edileusa estava animada para ir à missa na Basílica, queria ver a apresentação do Manto da Virgem. Caetano e Helena iriam acompanhar a moça, todos estavam curiosos para ver a nova peça do vestuário da Santa.

            A certa altura da missa, as luzes foram apagadas para a apresentação do Manto da Virgem Peregrina, que seria usado na festa daquele ano. Em meio a escuridão podia-se ouvir o som da floresta, pássaros com seus cânticos e animais noturnos com pios e sons diversos. Mas, logo se fez silêncio, aguçando a percepção do público.

           Nesse momento, apareceu a Virgem com seu Manto reluzente de pedrarias e no fundo uma voz feminina cantando a “Ave Maria”. Diante do silêncio da Basílica lotada de fiéis, cada um prestou sua homenagem particular.  

            Muitos choraram de emoção, alguns permaneceram mudos e outros se ajoelharam. Na verdade, todos se renderam àquele momento mágico. Um Manto esplendoroso, com sua beleza majestosa, enfeitava a Mãe da Igreja.

          Nas mãos do religioso, ela pode ser filmada e fotografada pelos profissionais que ali estavam e pelos fiéis, que se acotovelavam para garantir um melhor ângulo. A imagem foi conduzida por entre os bancos e colunas da Basílica e os fiéis aplaudiam, fervorosamente, sua passagem.

           Edileusa parecia estar em transe, com seus olhos pregados na Santa, não se cansava de pedir sua misericórdia. Helena nada percebeu em meio a todo aquele burburinho. Caetano se mantinha ao lado da moça, queria protege-la a qualquer custo. No templo havia muitas esperanças e energia de amor ao próximo; um momento de paz entre os seres humanos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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