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quarta-feira, 2 de maio de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA "...FAZ DE MIM ESTRELA, QUE EU JÁ SEI BRILHAR. LUA DE CRISTAL, NOVA DE PAIXÃO, FAZ DA MINHA VIDA CHEIA DE EMOÇÃO..." MICHEL SULIVAN E PAULO MASSADAS



         SOB O LUAR DE SÁBADO A NOITE


CAPÍTULO CINCO
          Para os costumes da época Maria Alcina já era uma moça feita e poderia namorar para se casar. A revolução feminista ainda não havia começado e a sociedade patriarcal dominava as famílias. E, nessa linha de pensamento os pais queriam casar as filhas o mais rápido possível, para não correr o risco de ter alguma surpresa desagradável.

           Ser mãe solteira, ou cair na boca do povo por um namoro mais íntimo, significava que nenhum homem desposaria a moça em questão para ser mãe de seus filhos. Recebia o codinome de “mulher da vida” e as portas se fechavam para ela.

            A virgindade e a ingenuidade ainda faziam parte dos dotes exigidos para as moças casadoiras. Para ser considerada ultrapassada ou coroa, bastava ter passado dos vinte anos sem estar compromissada seriamente.

            Então, a aproximação acontecia com olhares furtivos na praça, onde as moças andavam em círculos, enquanto os rapazes ficavam de braços cruzados, observando-as. Muitas vezes, quando ficavam interessados, ofereciam músicas no serviço de alto falantes, que havia no coreto da praça.

        Essa paquera acontecia aos sábados à noite na praça principal. As moças ficavam sentadas no caramanchão, ou circulando ao redor do chafariz, que volteava suas águas ao farfalhar do vento e ao som das músicas românticas. Depois de olhares e sinais de aprovação, os envolvidos passavam a semana inteira querendo rever o objeto de seus sentimentos, mas tinham que esperar o sábado seguinte.

As moças tinham horário para sair e voltar para casa. Saiam as dezenove horas e deveriam estar em casa as vinte e uma horas, salvo as terças-feiras, que havia uma sessão de cinema para as moças. Era gratuito para quem estivesse acompanhada de um rapaz. Todas as moças arrumavam um par para adentrar ao cinema, mesmo que fosse somente para entrar, depois se separavam.

            Certo dia, na casa da Maria Alcina, chegou uma visita, era sua avó materna, que viera para passar uns tempos com a família da filha. Na casa havia muitas crianças, oito filhos, pai, mãe e uma tia velha, que ajudava a criar os pequenos; consequentemente, havia pouco espaço. Por esse motivo, a avó foi dormir no sofá da sala e todos se ajeitaram.

            Maria Alcina, que estava de namorico com o Fred, saiu com uma vizinha de sua idade e foram a uma quermesse no largo da Igreja local. Ao sair, foi alertada para retornar à casa as vinte e uma horas, sob pena de ser castigada se houvesse atraso.

             No horário marcado o Fred a acompanhou até o portão de sua casa, onde se despediram com o primeiro beijo furtivo. Meio atordoada com a nova experiência, a menina bateu na porta da sala e sua avó levantou-se e foi abrir para ela entrar, retornando ao sofá posteriormente. Maria Alcina foi dormir com mil sonhos na cabeça e apagou profundamente.

As vinte e três horas, houve um pequeno alvoroço na casa, que acordou a avó. Mas como ninguém disse nada, ela voltou a pegar no sono, mesmo com o barulho do velho automóvel DKV e seu som característico: PU, PU, PU, PU, PU.... saindo em disparada.

             Quando o relógio bateu meia noite, o automóvel retornou acordando a avó novamente, que assustada ao perceber que sua filha estava chorando, perguntou:

             - O que aconteceu? Quem morreu?

             - A Maria Alcina sumiu, respondeu aos prantos Doralice, a mãe da menina.

             A velha senhora, espantada, disse que estavam doidos, pois a neta voltara para casa fazia tempo.

 – Foram olhar no quarto? Na cama?

          Então, Doralice cheia de esperanças, correu para o quarto e teve uma crise nervosa ao ver a filha dormindo. Pegou o chinelo e começou a bater em Maria Alcina, mesmo ela estando coberta. A menina pulou da cama, com os olhos arregalados e perguntou?

               - Por que a senhora está me batendo? Então, a avó que estava na soleira da porta respondeu:

             - Porque são dois loucos, que primeiro vão procurar a filha na rua, que já estava dormindo fazia tempo, ao invés de olhar no quarto.

            - Fui eu quem abriu a porta para ela quando chegou da rua. Por que não me perguntaram? Esbravejou a velha senhora olhando para a filha.

             – Não pensei nisso, sempre sou eu quem abre a porta para ela entrar, respondeu a mãe da menina, rindo e chorando ao mesmo tempo.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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