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terça-feira, 2 de abril de 2013

"A ARQUITETURA DA MINHA ALMA É BARROCA. SOU FRACO, SOU FORTE, SOU LUZ, SOU SOMBRA. SOU DE AÇO, SOU DE FLORES" ---AUTOR DESCONHECIDO----O VENTO QUE PASSOU POR AQUI ME ENSINOU A VOAR.---EVA IBRAHIM


                                       O HOMEM DAS CHUPETAS.

A menina estava sentada no degrau do portão que dava para a calçada da rua, esperando seu pai chegar. De repente, levantou-se correndo e foi chamar sua mãe. Agarrou-se à saia da mãe e chorando dizia que o homem das chupetas estava lá fora. Alice tratou de acalmar sua filha de cinco anos, que soluçava sem parar. Bruna, a menina, tinha muito medo do homem das chupetas. Quando ele surgia no início da rua, todas as crianças corriam para esconder-se.
Tudo começou quando apareceu na pequena cidade, um mendigo cheio de colares coloridos. Os antigos sempre assustaram as crianças com ameaças de serem levadas pelos homens dos sacos, mas, em Visconde de Borá era o homem das chupetas quem assustava as crianças.
 O mendigo, de alcunha Degão, trazia no pescoço, pendurados, diversos colares com chupetas de crianças, que eram amarradas com barbante. Quando ele andava com o saco de objetos pessoais nas costas, os colares balançavam e faziam um barulho estranho. Parecia um guizo de cobra coral, o que tornava o maltrapilho mais assustador.
 As mães aproveitavam a figura aterrorizante para fazer medo às crianças e contê-las dentro de casa. Naquele bairro pobre da periferia a maioria das pessoas vivia com dificuldades, por isso ninguém dava esmolas; Degão mal conseguia o que comer. Porém, ele sempre trazia chupetas novas penduradas no pescoço. O homem andava por ali já fazia algum tempo e uma pergunta passou a ser feita pela população local.
-Se o mendigo não trabalhava, como ele conseguia dinheiro para comprar chupetas?
 A verdade é que cada vez que ele aparecia trazia novos colares com mais chupetas. Eram tantas que pareciam colares para o baile Havaiano. Degão tornou-se o terror das crianças, que não saiam do portão para fora, desacompanhadas. Os pequenos, que chupavam chupetas, deixavam- nas escondidas embaixo do travesseiro e só a pegavam à noite, na hora de dormir.
Um dia o mendigo apareceu no bar e pediu um trago para uma turma de amigos, que tomavam cachaça antes do jantar, para abrir o apetite, diziam. Degão tomou a cachaça e saiu apressado, quando um dos amigos propôs segui-lo para ver aonde ele conseguia as chupetas. Zeca, o mecânico e Aldo, o pedreiro, resolveram segui-lo. O homem andava rápido pelas ruas escuras e descampadas. Os dois amigos se entreolharam temerosos, estavam indo para o cemitério.
Degão pulou o muro e entrou no cemitério, desaparecendo na escuridão. Os dois amigos resolveram voltar, pois, ficaram com medo de segui-lo.
No dia seguinte voltariam para assuntar com o coveiro se o mendigo dormia no cemitério. A curiosidade aumentou quando voltaram e contaram aos outros amigos para onde o homem tinha ido. Os cinco amigos fizeram uma aposta para descobrir de onde vinham as chupetas; quem ganhasse levava uma caixa de cervejas para casa.
Zeca e Aldo já planejavam um churrasco com a cerveja que iriam ganhar dos amigos. Na hora do almoço os dois homens foram ao cemitério e encontraram o coveiro descansando na sombra de algumas árvores das alamedas entre os túmulos. Enquanto os homens conversavam chegou um casal com uma criança e adentraram ao cemitério. Zeca perguntou ao coveiro aonde o casal iria e ouviram uma história surpreendente.
O coveiro explicou que havia um túmulo onde estava enterrado um menino que morreu depois de ser picado por uma cobra venenosa e sua mãe, muito triste, colocou a chupeta do menino dentro do caixão, pois era a coisa que ele mais gostava. Alguns anos se passaram e surgiram boatos de que o menino fazia milagres; havia sempre muitas flores em seu túmulo.
E a crendice popular dizia que se as crianças dessem a chupeta para ele, nunca mais voltariam a gostar de chupetas. As mulheres da região vinham com seus filhos e deixavam as chupetas ali. No dia seguinte as chupetas desapareciam e todos pensavam que o menino viera buscar, disse o coveiro com olhar assustado.
Os dois amigos desconfiaram de quem roubava as chupetas, mas combinaram com o coveiro para dar um flagrante no ladrão. À noite eles ficariam escondidos para ver quem entrava ali. Com lanternas e máquinas fotográficas eles esperaram o meliante.
O ladrão apareceu e sob as luzes das lanternas começou a chorar.
Degão soluçava e dizia que pegava as chupetas porque quando era criança seu pai não permitira que lhe dessem chupetas e agora ele dormia com uma delas na boca. Ele adorava chupetas.
 O coveiro e os dois amigos se entreolharam surpresos, o mendigo parecia ter um retardo mental; era digno de compaixão.
Os dois amigos fizeram um pacto com o coveiro para manter aquela história em segredo, afinal as chupetas não pertenciam a ninguém e Degão era um pobre homem. Era melhor deixar essa história de lado, milagres eram coisas de Deus e eles não queriam se comprometer. A cerveja ficaria para outra ocasião. Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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