O HOMEM DAS CHUPETAS.
A menina estava sentada no degrau do portão que dava para a
calçada da rua, esperando seu pai chegar. De repente, levantou-se correndo e
foi chamar sua mãe. Agarrou-se à saia da mãe e chorando dizia que o homem das
chupetas estava lá fora. Alice tratou de acalmar sua filha de cinco anos, que
soluçava sem parar. Bruna, a menina, tinha muito medo do homem das chupetas.
Quando ele surgia no início da rua, todas as crianças corriam para esconder-se.
Tudo começou quando apareceu na pequena cidade, um mendigo
cheio de colares coloridos. Os antigos sempre assustaram as crianças com
ameaças de serem levadas pelos homens dos sacos, mas, em Visconde de Borá era o
homem das chupetas quem assustava as crianças.
O mendigo, de alcunha Degão, trazia no pescoço, pendurados, diversos colares com chupetas de
crianças, que eram amarradas com barbante. Quando ele andava com o saco de
objetos pessoais nas costas, os colares balançavam e faziam um barulho estranho.
Parecia um guizo de cobra coral, o que tornava o maltrapilho mais assustador.
As mães aproveitavam
a figura aterrorizante para fazer medo às crianças e contê-las dentro de casa.
Naquele bairro pobre da periferia a maioria das pessoas vivia com dificuldades,
por isso ninguém dava esmolas; Degão mal conseguia o que comer. Porém, ele
sempre trazia chupetas novas penduradas no pescoço. O homem andava por ali já
fazia algum tempo e uma pergunta passou a ser feita pela população local.
-Se o mendigo não trabalhava, como ele conseguia dinheiro
para comprar chupetas?
A verdade é que cada
vez que ele aparecia trazia novos colares com mais chupetas. Eram tantas que
pareciam colares para o baile Havaiano. Degão tornou-se o terror das crianças,
que não saiam do portão para fora, desacompanhadas. Os pequenos, que chupavam
chupetas, deixavam- nas escondidas embaixo do travesseiro e só a pegavam à
noite, na hora de dormir.
Um dia o mendigo apareceu no bar e pediu um trago para uma turma
de amigos, que tomavam cachaça antes do jantar, para abrir o apetite, diziam.
Degão tomou a cachaça e saiu apressado, quando um dos amigos propôs segui-lo
para ver aonde ele conseguia as chupetas. Zeca, o mecânico e Aldo, o pedreiro,
resolveram segui-lo. O homem andava rápido pelas ruas escuras e descampadas. Os
dois amigos se entreolharam temerosos, estavam indo para o cemitério.
Degão pulou o muro e entrou no cemitério, desaparecendo na
escuridão. Os dois amigos resolveram voltar, pois, ficaram com medo de segui-lo.
No dia seguinte voltariam para assuntar com o coveiro se o mendigo dormia no cemitério. A curiosidade aumentou quando voltaram e contaram aos outros amigos para onde o homem tinha ido. Os cinco amigos fizeram uma aposta para descobrir de onde vinham as chupetas; quem ganhasse levava uma caixa de cervejas para casa.
No dia seguinte voltariam para assuntar com o coveiro se o mendigo dormia no cemitério. A curiosidade aumentou quando voltaram e contaram aos outros amigos para onde o homem tinha ido. Os cinco amigos fizeram uma aposta para descobrir de onde vinham as chupetas; quem ganhasse levava uma caixa de cervejas para casa.
Zeca e Aldo já planejavam um churrasco com a cerveja que
iriam ganhar dos amigos. Na hora do almoço os dois homens foram ao cemitério e
encontraram o coveiro descansando na sombra de algumas árvores das alamedas entre
os túmulos. Enquanto os homens conversavam chegou um casal com uma criança e
adentraram ao cemitério. Zeca perguntou ao coveiro aonde o casal iria e
ouviram uma história surpreendente.
O coveiro explicou que havia um túmulo onde estava enterrado
um menino que morreu depois de ser picado por uma cobra venenosa e sua mãe, muito triste, colocou a chupeta do menino dentro do caixão, pois era a coisa que
ele mais gostava. Alguns anos se passaram e surgiram boatos de que o menino
fazia milagres; havia sempre muitas flores em seu túmulo.
E a crendice popular dizia que se as crianças dessem a
chupeta para ele, nunca mais voltariam a gostar de chupetas. As mulheres da
região vinham com seus filhos e deixavam as chupetas ali. No dia seguinte as chupetas
desapareciam e todos pensavam que o menino viera buscar, disse o coveiro com
olhar assustado.
Os dois amigos desconfiaram de quem roubava as chupetas, mas
combinaram com o coveiro para dar um flagrante no ladrão. À noite eles
ficariam escondidos para ver quem entrava ali. Com lanternas e máquinas
fotográficas eles esperaram o meliante.
O ladrão apareceu e sob as luzes das lanternas começou a chorar.
O ladrão apareceu e sob as luzes das lanternas começou a chorar.
Degão soluçava e dizia que pegava as chupetas porque quando
era criança seu pai não permitira que lhe dessem chupetas e agora ele dormia
com uma delas na boca. Ele adorava chupetas.
O coveiro e os dois amigos se entreolharam surpresos, o mendigo parecia ter um retardo mental; era digno de compaixão.
O coveiro e os dois amigos se entreolharam surpresos, o mendigo parecia ter um retardo mental; era digno de compaixão.
Os dois amigos
fizeram um pacto com o coveiro para manter aquela história em segredo, afinal
as chupetas não pertenciam a ninguém e Degão era um pobre homem. Era melhor
deixar essa história de lado, milagres eram coisas de Deus e eles não queriam
se comprometer. A cerveja ficaria para outra ocasião. Um texto de Eva Ibrahim.