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sábado, 26 de dezembro de 2015

"A SOLIDÃO É A ARMA QUE MATA, MESMO SEM TER NINGUÉM PARA APERTAR O GATILHO". AUTOR DESCONHECIDO - QUE TODA DOR VIRE AMOR. EVA IBRAHIM

 ALTOS E BAIXOS 
CAPÍTULO SEIS
                Celi tornara-se uma pessoa de difícil convivência, ora conversava normalmente ora se alterava a ponto de agredir seu interlocutor. Selma não confiava mais na filha para deixar Luana com ela e precisou pedir dispensa do trabalho para cuidar da mãe e da filha. Samuel não parava mais em casa, queria fugir dos problemas de sua esposa.

       Nessas andanças noturnas, o rapaz arrumou uma namorada, que o satisfazia plenamente; tornaram-se amantes. Ele era jovem e precisava de carinho de mulher, pensava intimamente quando se sentia culpado pelos deslizes. Afinal, sua esposa estava doente e desde o nascimento da filha ela não queria contato com ele. Então fora se aninhar em outros braços.

 Samuel já não podia encarar a sogra, estava cheio de culpas.  Com Celi ele conversava somente o que ela perguntava e logo tratava de se esquivar para não ouvir as lamúrias da mulher. Tudo o que ele queria era se livrar do casamento e daquela casa. Gostava da filha, porém, tinha medo de machuca-la. Luana era pequena e delicada, precisava de cuidados especiais.

Certo dia, a vizinha de Samuel estava no Supermercado e deu de cara com ele e sua amante, fazendo compras. A mulher ficou surpresa e deu um passo para trás. Ele estremeceu:

- Será que a vizinha iria contar para sua sogra que ele estava com outra mulher?

Lá no fundo, ele sabia que as mulheres são solidárias, e que logo ele estaria encurralado. Pensava em uma estratégia para se livrar da culpa, porém seus argumentos eram fracos demais. Passados dois dias a sogra o interpelou, queria saber quem era a mulher com quem ele fora visto.

 – Estaria traindo sua filha, que se encontrava em tratamento psiquiátrico? 

Samuel perdeu a cor e não pode negar. Ouviu uma porção de desaforos e saiu em desabalada carreira; nada retrucou.

Celi melhorou de seus delírios e se aproximou do marido novamente; ainda o amava. No entanto, muito tempo se passara e Samuel estava distante demais de sua mulher; não a queria mais. Rejeitada, a moça se fechou novamente; a depressão voltou forte com seus sintomas acentuados.

Certo dia, o marido dormia no quarto de visitas e ela se arrumou para sair. Procurava a chave do automóvel quando foi surpreendida por ele, que tentou dissuadi-la de dirigir; ainda não estava curada e podia ser perigoso. Momentaneamente a situação foi contornada e ela voltou para seu quarto. Samuel ficou preocupado, precisava esconder a chave do automóvel; Celi não estava bem.

No entanto, depois de alguns dias, ele já nem se lembrava do ocorrido e quando ouviu o ronco do automóvel deu um pulo da cama. Saiu do jeito que estava somente de cuecas e conseguiu entrar no automóvel antes que ela alcançasse a rua.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

"HOJE, NA SOLIDÃO, AINDA CUSTO A ENTENDER COMO O AMOR FOI TÃO INJUSTO, PRA QUEM SÓ LHE FOI DEDICAÇÃO". CHICO BUARQUE - VOCÊ NUNCA SABE A FORÇA QUE TEM. EVA IBRAHIM.

VIVENDO NA ESCURIDÃO

CAPÍTULO CINCO.
            A depressão tomou conta da puérpera, rejeitava a pequena Luana e se desentendia com o marido quando ele a procurava para conversar. Selma, a mãe de Celi, se mudara para a casa da filha, pois a neta precisava de cuidados que a mãe, em sua insanidade, não poderia dar.

Luana estava crescendo e já tinha a aparência de um bebê saudável. A menina estava com cinco meses, era pequena para sua idade, entretanto, já respondia as brincadeiras dando pequenos gritinhos e sorrisos. Tinha belos olhos escuros, que sobressaiam em sua pele alva. Era uma criança miúda e muito bonita.

No entanto, Celi estava vivendo seus piores dias; num mundo escuro e sem saída. Um sintoma particularmente importante de depressão é pensar na morte e suicídio, ou até mesmo prejudicar o bebê com agressões, que podem ser fatais. A avó não deixava Luana com a mãe por temer algum ato intempestivo contra a pequena criança.

A moça estava recebendo tratamento em uma clínica especializada, porém não apresentava melhoras, vivia trancada no quarto. Tornara-se uma pessoa desmazelada, agressiva e arredia, vivia em um mundo fora da realidade; não queria ver ninguém.

Certo dia, Celi não se levantou no horário de costume e sua mãe foi acordá-la, porém, ela estava desmaiada, não respondia aos chamados; parecia dopada. Então, Selma desesperada saiu pedindo ajuda. O vizinho chamou a ambulância para leva-la ao Hospital, onde ficou internada. O médico disse que ela havia tomado uma carga excessiva de medicamentos.

 Depois de uma semana tivera alta para sua casa. Na verdade ela tentara contra a própria vida, não conseguira o intento porque fora encontrada a tempo de ser socorrida. O médico foi categórico ao afirmar que foi tentativa de suicídio e, que os medicamentos não estavam controlando sua doença. Foi necessário fazer lavagem estomacal para que ela tivesse uma chance de sobrevivência.

Foi realizada nova carga de exames e receitados novos medicamentos. Depois de alguns dias, Celi parecia estar melhor, até pegou a Luana no colo e brincou com ela; estava bem disposta. Samuel ficou contente, com a mudança dos medicamentos, provavelmente, ela teria uma melhora no seu estado geral. Então, ele estava com esperança de ter sua esposa de volta. 
           
Celi era uma jovem alegre e brincalhona e Samuel se apaixonara por ela logo de cara. E, com o tempo, ela também foi conquistada por ele. O casamento foi uma união de dois corações apaixonados. No entanto, durou muito pouco, pensava Samuel. Logo nasceu Luana com todos aqueles problemas e sua esposa caiu em depressão. O rapaz suspirou fundo, queria sua amada com saúde e alegre como antes; sentia-se injustiçado pela vida. Ele também estava sem rumo.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

"TODA MULHER MERECE TER UM HOMEM QUE DIGA COM ORGULHO, PARA TODO MUNDO OUVIR; ELA É ÚNICA E LINDA. ELA É MINHA E SÓ MINHA". AUTOR DESCONHECIDO-- HÁ, SEMPRE, UM POUCO DE TRISTEZA EM CADA UM DE NÓS. EVA IBRAHIM

DEPRESSÃO PÓS-PARTO 
CAPÍTULO QUATRO

       Luana, apesar de estar com quatro meses de idade, era um bebê com apenas 2.800 quilogramas e tinha a saúde frágil. Não poderia tomar vento, chuva ou qualquer tipo de friagem; seu pulmão era pequeno e debilitado. Não poderia pegar outra pneumonia ou não resistiria. Dissera o médico no momento da alta.

      Celi cuidava da filha dia e noite; no entanto, nem percebera que estava ficando doente também. Muitas vezes, se esquecia de comer, outras não tomava banho e nem se importava com Samuel. A vida naquela casa estava ficando solitária; o marido saia cedo e a mulher passava o dia com a filha nos braços. Vez ou outra aparecia alguém da família e Celi dizia que estava tudo bem.

Certo dia, o vizinho levantou-se e fez o café, depois saiu para o quintal para olhar os passarinhos. Estava distraído e, enquanto degustava o líquido quente ficara encostado no canto da casa observando um canário, quando ouviu um barulho na casa da vizinha.

Olhou e o que ele viu gelou sua alma. Celi estava com a criança nos braços e ia colocar a filha dentro do tanque cheio de água; Luana iria ser afogada pela própria mãe. O rapaz, de nome Claudio, jogou a xícara e tratou de pular o muro, que separava as duas casas e rapidamente arrancou a criança das mãos da mãe. Celi deu um passo pra trás e assustada começou a chorar.

Claudio ficou parado com a criança nos braços sem saber o que fazer. De uma coisa ele tinha certeza, não poderia deixar a mãe pegar a filha. Então, ele ligou para sua namorada, que veio para ajudar e logo foi tratando de acalmar a puérpera. Claudio, então chamou a mãe de Celi. Foi uma correria, a mãe da moça pegou a menina no colo e temerosa pediu para chamarem Samuel.

O marido levou a esposa ao Pronto Socorro e aguardou a consulta médica, que depois de alguns exames, diagnosticou como sendo depressão pós-parto, que havia acometido a moça. Uma patologia, que muitas vezes é severa e pode levar a transtornos, delírios e alucinações.

No caso de Celi ela colocou a vida da filha em risco em um momento de delírio. A depressão pós-parto quando acomete a puérpera pode ser incapacitante, afetando a vida da família e pondo em perigo o bem estar da mãe e do bebê.

A família precisa ser alertada e ficar o tempo todo presente para evitar que ocorram tragédias provocadas pela psicose puerperal. A mãe de Celi, diante da situação crítica, pediu licença do serviço público e passou a cuidar da filha e da neta. Celi ficava a maior parte do tempo fechada em seu quarto; não queria ver ninguém.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

" A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS; QUANDO VOCÊ DÁ UM PASSO À FRENTE, INEVITAVELMENTE ALGUMA COISA FICA PARA TRÁS". AUTOR DESCONHECIDO.-- OS DIAS BONS TE DÃO FELICIDADE E OS MAUS TE DÃO EXPERIÊNCIA. EVA IBRAHIM.

                    DESENCONTROS

                                       CAPÍTULO TRÊS
         A chegada de um bebê, em geral, traz alterações na vida de uma família. O pós-parto compreende um prazo de três meses de adaptação, onde a ansiedade e angustia tomam conta dos pais. E, se ele for prematuro, tudo se torna duplamente difícil. O casal não consegue pensar como poderá levar aquele ser pequenino cheio de aparelhos para casa.

Começam a se estranhar com perguntas do tipo:

          - Como isso pode acontecer conosco?
         – Você não se cuidou como devia. Fez esforço desnecessário.  Samuel dizia em tom alterado.

        Celi começou a chorar...
         – Não tivera culpa de nada. O médico dissera que estava tudo bem.

          A mãe da moça precisou intervir para que a filha pudesse descansar, pois ainda estava de resguardo e aparentemente fraca.

O marido estava visivelmente decepcionado com a pequena filha, aliás, tinha medo de se aproximar dela. E, também estava criando uma rejeição em manter contato com sua mulher. Ficava o menor tempo possível no Hospital e quando Celi ia para casa trocar as roupas ou pegar alguma coisa, ele inventava uma desculpa para escapar dela.

Luana estava com 28 dias quando teve um agravamento de sua saúde, que já não era boa. Estava com pneumonia e os médicos disseram que dificilmente ela sobreviveria. No entanto, Celi ficou ao lado da filha durante todo o tempo pedindo a Deus por ela e este ouviu suas preces. A pequena criança se mostrou guerreira e resistiu, apresentando melhoras.

Celi estava emagrecida e com os olhos fundos; carecia de alimentação e descanso. Depois foi encaminhada para o Pronto Socorro para tomar soro, precisava ficar forte para cuidar da filha.

Samuel, algumas vezes, aparecia ali no Hospital, no entanto, logo sumia. Não queria ver as duas mulheres, mãe e filha definharem; preferia ficar na rua com os amigos. A vida fora ingrata com ele, pensava constantemente.

Assim, os dias foram passando e depois de três meses a menina teve alta. Celi levou a pequena criança para casa com uma porção de restrições. Luana precisava de cuidados 24 horas por dia; a mãe era só dela. A moça passou a viver em função da filha, vivia cansada e não se importava com o marido.

 Samuel sentiu na pele o descaso que Celi impusera a ele, ou cuidava da criança ou da casa. A comida nem sempre estava pronta, a roupa raramente estava limpa e a casa se tornara uma bagunça. A mãe ou a sogra, algumas vezes, iam dar uma mão, mas não era rotina e Samuel não queria ajudar em nada. Dizia que era o provedor e pronto, não tinha deveres domésticos.

Celi passou a dormir com a filha, pois tinha medo que ela se afogasse. Passava o tempo dentro de casa olhando a menina para ver se estava respirando, parecia desnorteada e solitária. O marido vivia nos bares com os amigos.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"COM O TEMPO, NÃO VAMOS FICANDO SOZINHOS APENAS PELOS QUE SE FORAM, MAS VAMOS FICANDO SOZINHOS UNS DOS OUTROS". MÁRIO QUINTANA -- O IMPORTANTE É LUTAR SEMPRE. EVA IBRAHIM


LUANA

A PEQUENA FLOR

                                       CAPÍTULO DOIS
            O novo lar estava preparado para que o casal pudesse iniciar a vida em comum. As famílias dos noivos se empenharam para que tudo ficasse pronto antes da data marcada, queriam muito o primeiro neto. Fora encomendado de maneira pouco responsável, isto é, sem estrutura de família, porém era muito bem-vindo, diziam as avós.

           Havia no ventre de Celi uma semente de amor sendo gerada e ela merecia todo cuidado do mundo. Samuel colocou a esposa delicadamente na cama; amava os dois que estavam ali e faria tudo para protegê-los. Naquele momento eles perceberam a diferença em estar casados, agora teriam que assumir as responsabilidades para cuidar da casa e futuramente do bebê, que estava a caminho.

             Na hora do amor, Samuel ficou olhando para o ventre de Celi, que já despontava levemente do seu leito natural. Logo saberiam o sexo da criança. Dormiram abraçados, estavam felizes.

         Os dias corriam rapidamente, então, souberam que teriam uma filha, a quem chamariam de Luana. Tudo correu normalmente até o sétimo mês e Luana nasceu prematuramente depois de muita correria.

           A bolsa de águas se rompeu dentro do Supermercado e a moça ficou paralisada no meio do corredor de frios. A água escorria por suas pernas sem que ela conseguisse segurar. As pessoas foram se juntando ao redor da gestante, que parecia assustada. Então, a segurança do estabelecimento trouxe uma toalha e Samuel enrolou no corpo de Celi, colocando-a no automóvel. Depois saiu dirigindo feito louco até o Hospital.

          O rapaz adentrou à emergência gritando que o bebê estava nascendo, entretanto, a situação se apresentou bem mais complicada e precisou de uma intervenção cirúrgica para que Luana pudesse sobreviver. A menina, que era prematura, nasceu com baixo peso, problemas respiratórios e foi para a Unidade de Terapia Intensiva.

          Samuel sentiu-se perdido, não estava preparado para enfrentar aquela situação. A mãe com uma cirurgia na barriga e a filha pequenina em meio a uma porção de aparelhos para poder respirar. Estava decepcionado, pensava que seria igual aos seus conhecidos, isto é, sairiam dali com a Luana no colo linda e cheirosa.

           Nos primeiros dias, Samuel ficava no Hospital com Celi, depois passou a dizer que tinha que trabalhar e foi se afastando lentamente. Celi teve alta, entretanto, passava a maior parte do tempo no alojamento da UTI neonatal, pois, deveria amamentar a filha e aguardar que ganhasse peso para poder leva-la para casa.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"A SAUDADE É UM LUGAR ONDE SÓ CHEGA QUEM AMOU". Pe. FÁBIO DE MELO - ACREDITE E TUDO DARÁ CERTO- EVA IBRAHIM

SAUDADES DE VOCÊ
FESTA NA ROÇA

CAPÍTULO UM
          A ambulância encostou em frente ao necrotério, que estava lotado. Parentes, amigos, conhecidos e curiosos estavam ali para ver a defunta e o desenrolar do velório. Samuel foi retirado de dentro do veículo e colocado sobre a cadeira de rodas, estava com as duas pernas engessadas. Trouxeram-no para se despedir de sua esposa, que estava morta e, em um ataúde lacrado.

Tudo começou em uma festa de peão de boiadeiro. Uma festa muito badalada do interior paulista. Samuel fora participar com uma turma de amigos e já estava bêbado quando trombou com Celi. Derrubou toda cerveja, que segurava displicentemente na mão, sujando a roupa da moça, que saltou para trás blasfemando.

Rapidamente ele a puxou para um canto tentando amenizar o mal feito. Nada deu certo, todas as tentativas de esfregaços não surtiram efeitos; só piorou a situação. No entanto, no final das contas caíram na risada e passaram o resto da noite juntos, fedendo a cerveja.

Moravam em cidades diferentes, porém, próximas o suficiente para se verem outras vezes. Foram meses de agarramento, estavam apaixonados; eram jovens e inconsequentes. Certo dia ela apareceu toda tímida e chorosa dizendo que estava grávida. Samuel, então, foi colocado contra a parede e ambos foram contar aos pais dela.

 - Ou casa ou some, se voltar eu mato, foi o que o pai da moça disse a Samuel.

Leonel era um sitiante muito conhecido e não estava para brincadeiras. Estava decidido a manter a honra da família a qualquer custo. A mãe, coitada, se pôs a chorar.

- A minha filha não pode ser mãe solteira, se lamentava desesperada. No que o pai concordava com a cabeça.

Samuel não estava pronto para se casar, mas também não queria sumir e nem morrer, então, disse sim.  O casamento aconteceu na Igreja Matriz da cidade mais próxima ao sítio de Leonel. Os irmãos de Celi, juntamente com os cunhados aprontaram com os noivos; eram alegres e brincalhões.

Os noivos chegaram à Igreja em um carro grande do ano e na hora da saída encontraram uma carroça toda enfeitada com cipó de São João para transportá-los. Havia um sino que tocava insistentemente seguindo o compasso do andar do animal. Até as orelhas do burro estavam com as flores penduradas. A farra estava armada.

 Surpresos, não tiveram saída e desceram a rua principal da pequena cidade, sentados na carroça puxada pelo burro. Além da carroça bizarra, enfeitada com muitas flores de cipó de São João, foram acompanhados por fogos de artifícios.

Foi uma descida triunfal, para ninguém esquecer do mico que o casal pagou. Depois seguiram para o local da festa, que distava alguns quilômetros da Igreja e os noivos chegaram cobertos de poeira da estrada de terra.

Foi uma festa na roça, com muita música sertaneja. Os convidados dançavam no antigo terreiro de café, que fora enfeitado com bandeirinhas de festas juninas. A alegria era contagiante, depois de se fartarem com o churrasco regado a cervejas, promovido pelo pai da noiva, que sacrificou um garrote para o evento, todos se propunham a dançar.

A casa do sítio era grande e as pessoas se perdiam umas das outras por ali, então, aproveitando a ocasião, o casal fugiu da festa com a cumplicidade do padrinho, tio da noiva. 

Quando chegaram à casa, Samuel pegou a esposa nos braços e adentrou ao novo lar; estavam muito felizes.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

"FELICIDADE NÃO DEPENDE SÓ DOS CAMINHOS QUE ESCOLHEMOS SEGUIR, MAS TAMBÉM DAS PESSOAS QUE ESCOLHEMOS PARA NOS ACOMPANHAR". AUTOR DESCONHECIDO. - EU CREIO NA MAGIA DO NATAL. EVA IBRAHIM

FELIZ NATAL
CAPÍTULO DEZ.
            Valmir arrumou uma casa em outro bairro para a família do irmão morar. Um lugar onde ninguém soubesse do drama vivido por Vitório; ali entre pessoas desconhecidas ficaria mais fácil recomeçar. Alda estava feliz em ter outra casa e sua família unida novamente; daria todo o apoio ao marido.

            As crianças voltariam à escola e a Igreja evangélica, que tão bem os acolhera. Ela tinha certeza que o Deus dos milagres estava agindo em sua vida e nunca mais se perderia dos ensinamentos recebidos ali.

A escola do bairro era grande e bonita, Ana ficou feliz em seu primeiro dia de aulas. Ficara para trás a turma complicada, da qual ela fazia parte e, que sempre se encontrava em apuros. Foi recebida pelos novos colegas e logo simpatizou com Larissa, que se tornou sua companheira inseparável. A menina era amiga para todas as horas, viviam juntas a maior parte do tempo.

 A Ana Banana ficara para trás, agora era uma garota de quatorze anos, que juntamente com Larissa cantava no coro da Igreja e despertava o interesse dos meninos. Consequentemente passou a se cuidar melhor, tornando-se uma bela e moderna garota.

                O pai voltara a trabalhar e a vida parecia tomar seu rumo. Alda cuidava da casa, dos filhos menores e ajudava a cuidar da Igreja; tornara-se uma irmã de fé. Nas horas vagas fazia artesanato para vender e ajudar o marido. No entanto, ainda não cumprira sua promessa de levar o marido para a Igreja, sentia-se em dívida com Deus. Vitório sempre arrumava uma desculpa para não ir; já a Ana gostava de cantar no coro.

                O ano passou rápido e Vitório cumpriu todas as atividades comunitárias, que lhe foram impostas. Ana tornara-se cantora do coro da Igreja e o pai lhe prometera que na Noite de Natal ele iria assistir ao culto para ouvi-la cantar. E, aproveitaria para pedir perdão a Deus pelos seus pecados. Alda ficou feliz, finalmente iria pagar sua dívida e ficar quites com Deus. No entanto, mais um ano inteiro se passou e o marido se esquivou da promessa feita; dizia que iria no Natal. 

            Naquele Natal faria dois anos do trágico acontecimento, que envolvera a família. Alda e as crianças foram à Igreja, era noite de Natal, entretanto, o marido estava viajando e não chegara a tempo; por isso havia uma insatisfação no ar. Ana não queria se apresentar, pois o pai não estaria presente. E, ela se esforçara tanto para vê-lo orgulhoso dela; tornara-se uma moça bonita e bem cuidada.

           Com o drama vivido pela família muita coisa mudou; o pai ficou mais tolerante, a mãe aumentou sua fé em Deus, tornando-se uma pessoa melhor. A Ana ficou longe das más companhias e passou a ver sua família com mais amor. Os dois meninos ficaram mais obedientes e estudiosos.

               A menina estava triste, ficara sentada em um canto aguardando o início do culto. Nada tinha graça, queria sua família reunida; agora ela sabia que amava o pai e que era amada por ele. Depois de duas apresentações de cantores louvando a Deus, Ana estava absorta, revivendo toda aquela história do acidente. Então, uma mão se apoiou em seu ombro. Ana virou-se imediatamente e um sorriso saiu de seus lábios, depois veio o grito:

            – Pai, você veio?

            - Corri como um louco para assistir à apresentação da minha menina. Estou aqui Ana e sempre estarei aonde vocês estiverem; sem a minha família não sou ninguém.

A menina levantou-se, abraçou o pai e seguiu para sua apresentação no palco. Vitório foi reunir-se ao resto da família. Enquanto a Ana cantava seu louvor a Deus, seu pai abraçava a esposa e lhe dizia:

- Feliz Natal mulher, eu te amo.

Alda sorriu com o coração, cumprira sua promessa, o marido estava na Igreja do Deus dos milagres. Quando o culto terminou saíram abraçados e felizes ao som dos badalos do sino da Igreja matriz; era meia noite. O casal olhou para o alto e uma estrela caiu. Vitório apertou a mulher e disse:

- Feliz Natal para você também pequeno anjo!

Sua voz estava embargada pela emoção, pois pensou no menino que caíra sob a roda de seu caminhão, então, duas lágrimas escorreram pelo seu rosto indo morrer em seus lábios. Alda se aconchegou, ainda mais, junto ao peito do marido; aquilo tudo pertencia ao passado.
 Termina aqui a história de uma família que aprendeu muito com o drama vivido.
 Um texto de Eva Ibrahim.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

"CADA LÁGRIMA ROLADA É UM DESABAFO DA ALMA CANSADA". PROJOTA - É PRECISO CHORAR PARA DIMINUIR O TAMANHO DA DOR. EVA IBRAHIM

A ESPERANÇA ESTÁ NO AR
                                                CAPÍTULO NOVE                                                                                      
             Vitório parecia muito mais jovem depois do banho tomado e a visita ao cabeleireiro. Alda o abraçou com carinho, estava com saudades do marido; fazia tempo que ele não a procurava. Estava vivendo num mundo escuro onde não havia lugar para o amor. Se isolara do mundo, não queria saber de nada que o fizesse se lembrar do acidente. Por isso bebia até ficar entorpecido e impedido de raciocinar.

              Entretanto, com a boa nova, os olhos de Vitório ganharam um brilho diferente, havia uma esperança no ar. O irmão lhe trouxera a melhor notícia do mundo; as testemunhas depuseram a seu favor.

               Naquela noite o jantar foi festivo, havia alegria naquela casa. A Ana também abraçou o pai.

              - Agora está bonito e cheiroso, disse a menina ao beijá-lo.

             O pai ficou surpreso ao receber tamanha manifestação de carinho, pois a filha era arredia e parecia não gostar dele.

            – Eu também sou grosso com ela, pode ser apenas uma maneira dela se proteger de minha estupidez e do mundo. Pensou o pai cismado, porém feliz.

Valmir acompanhou o irmão e o advogado até o fórum da cidade. Vitório precisava de apoio naquele momento crucial em sua vida. Enquanto isso, Alda orava ajoelhada no chão do quarto da casa da sogra. Se agarrava a esperança acenada pelo cunhado.  Com toda a fé do mundo pedia a Deus para Vitório ser absolvido. Foram horas de ansiedade, a vida da família dependia da decisão do Juiz; seria o céu ou o inferno.

                Quando Vitório chegou, Alda ficou assustada, pois ele estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela foi logo perguntando qual foi a decisão do Juiz.

                - O Vitório foi absolvido, entretanto terá que prestar serviços para a comunidade porque estava embriagado no dia do acidente. Afirmou o irmão que o acompanhara.

              - E, qual o motivo da tristeza se o melhor aconteceu? Perguntou a mulher aflita.

                 Vitório abraçou a mulher e chorando lhe disse que não sabia consolar a família do menino atropelado; estava desolado.

             - O acidente ficara cravado em meu coração, dói como um punhal. Os pais do menino estavam lá e eu não sabia o que dizer; me deu muita pena do casal. Estavam tristes e desconsolados.

            - Foram vítimas das circunstâncias, ninguém consegue prever ou impedir tais fatos. São desígnios de Deus e temos que aceitar, ponderou a mulher entristecida.

            – Vamos viver nossa vida da melhor forma possível e pedir a Deus que tenha misericórdia daquela família. Alda concluiu abraçando o marido, que voltara à vida.

            Vitório sorriu, estava ansioso para voltar ao trabalho nas estradas. Era um caminhoneiro e ansiava pelo ar puro no rosto; sentia falta do asfalto em sua frente. Perdera seu antigo emprego após o acidente, entretanto, era experiente e logo conseguiria outro lugar para trabalhar.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

"TER FÉ É ASSINAR UMA FOLHA EM BRANCO E DEIXAR QUE DEUS ESCREVA NELA O QUE QUISER. AUTOR DESCONHECIDO. - CAMINHE, APESAR DOS OBSTÁCULOS. EVA IBRAHIM.


A FÉ MAIOR
CAPÍTULO OITO
Alda estava animada, parecia ter descoberto a saída para todos os seus problemas. A igreja lhe dava forças para acreditar que Vitório voltaria a ser a mesma pessoa de antes do acidente, ou talvez melhor que antes, já que era um homem violento e grosseiro. No entanto, de qualquer maneira seria melhor que aquele que se apresentava no momento.

 A mulher depositava toda sua esperança nessa fé que crescia em seu coração. O Deus dos milagres ouvia todas as preces sinceras e atendia a quem tinha merecimento, dizia o Pastor da Igreja Evangélica. E, ela presenciava os testemunhos dos fiéis, que se emocionavam ao contar as graças recebidas.

Os cultos eram elucidativos e tocantes; a música tocava a alma. Alda tinha consciência de que era uma pecadora, mas pedia perdão a Deus todos os dias e agradecia por tudo que recebia; então, esperava por um milagre em sua vida. No entanto, ela não percebia que o milagre já estava acontecendo, pois, a alegria e a esperança tomaram conta de seus dias.

Ela e as crianças se arrumavam para ir à casa de Deus quando ela ouviu um automóvel parar em frente à casa. Era o Valmir, irmão do marido; ao ver o cunhado descer do automóvel seu coração disparou. Com certeza trazia notícias do Inquérito movido contra Vitório.

                O rapaz estava alegre e trouxera boas notícias; dois homens que presenciaram o acidente depuseram a favor de Vitório. Afirmaram, em depoimento, que o caminhoneiro não vira o menino, que caiu da bicicleta atrás das rodas do veículo. Com esses esclarecimentos, o Delegado dissera que melhorou muito a situação de Vitório e o juiz poderia mandar arquivar o caso. Entretanto, ele poderia ser condenado a prestar serviços à comunidade por estar bêbado.

                Quando Vitório chegou o irmão mal o reconheceu; estava sujo, barbudo e cabeludo. Abrindo os braços, Valmir gritou:

             - De cá um abraço, burro velho, trago boas notícias. Duas testemunhas depuseram a seu favor; ânimo homem.

                Os olhos de Vitório encheram-se de lágrimas, realmente não vira o menino.
              – Foi um acidente, não tive culpa.

                - Depois vamos ao barbeiro para cuidar dessa carcaça velha, quero que fique apresentável. Amanhã você tem uma audiência com o Juiz. Enfatizou Valmir autoritário.

                Finalmente o homem esboçou um sorriso; em seguida agradeceu ao irmão, abraçando-o.
                Alda também abraçou o marido, que estava afastado do mundo desde o acidente. A velha mãe acariciou os cabelos maltratados do filho, que se virou e recebeu um beijo carinhoso. As crianças se aproximaram e abraçaram o pai com amor. Ana se afastou dizendo que o pai estava fedido e todos caíram na risada.

            - É a mais pura verdade, cheira a lixo podre, deve tomar um banho urgente; disse a menina saindo da sala.

Ninguém se importou com a grosseria da filha, estavam felizes com a possibilidade daquela tortura acabar. Valmir saiu dizendo que iria ao mercado fazer umas compras para o jantar. Foi acompanhado das crianças, que queriam comprar guloseimas. Enquanto isso, Vitório tomava banho para tirar a sujeira, que juntara nos dias escuros que vivera.

Alda entrou em seu quarto, se ajoelhou ao lado da cama e agradeceu a Deus, que estava atendendo suas súplicas. Sentia-se em estado de graça, pois, em seu peito existia uma fé maior que tudo. Ela podia perceber a presença do Deus dos milagres em sua vida. 
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

"HABITUE-SE A OUVIR A VOZ DO CORAÇÃO. É ATRAVÉS DELE QUE DEUS FALA CONOSCO E NOS DÁ A FORÇA QUE NECESSITAMOS PARA SEGUIR EM FRENTE". IRMÃ DULCE - SIGA O SEU CORAÇÃO. EVA IBRAHIM

A VOZ DO CORAÇÃO
CAPÍTULO SETE
Durante duas horas houve louvor a Deus e cantoria naquele local; alguns testemunhos de pessoas emocionadas e a pregação do evangelho pelo Pastor. Alda permanecia quieta e com pensamento fixo em algo maior; um anjo, uma entidade de luz ou o próprio Jesus. Queria que ouvissem o seu coração, pois era ali que estavam guardadas todas as amarguras e aflições de sua vida. Ela podia sentir o coração pulsando acelerado e querendo sair pela boca; estava ansiosa demais.

Não era religiosa, entretanto, trazia consigo ensinamentos que a levavam a acreditar que o mundo era regido pelo bem e o mal, o céu e o inferno. Essas dualidades estavam sempre presentes na vida das pessoas e aquela que fosse alimentada seria a dominante em cada ser; Alda acreditava nisso.

Estava cansada e precisava de ajuda dos céus para superar tantos problemas. Queria esquecer a desgraça que vitimara o menino e recomeçar a vida ao lado do marido e filhos; a família era um bem precioso. Sentiu-se egoísta com este pensamento:

- Como poderia pensar desse jeito? E a família da criança morta?
Pediu perdão a Deus e seus olhos encheram-se de lágrimas.

– Pobre mãe, deveria estar sofrendo mais do que tudo no mundo. No entanto, a vida continua e nada poderá trazer o menino de volta.

Pensou em voz alta, depois abaixou a cabeça, a situação estabelecida fora cruel com todos. O Deus dos milagres sabia que ela não era maldosa e a perdoaria por querer ser feliz com sua família.

                Seu coração se enchera de esperanças, a Igreja era um bom lugar e lhe transmitia paz. As crianças permaneceram quietas e atentas. A Ana, que já era uma mocinha, seguia os rituais e quando Alda olhou para ela, a filha estava cantando com os demais. A sogra chorou em vários momentos, queria que seu filho se recuperasse. Todos que ali estavam foram envolvidos por uma energia dominante.

            Sibele sorriu quando o último acorde foi dado, praticara uma boa ação levando a família da vizinha ao culto evangélico. Alda até sorriu para ela em agradecimento. O grupo saiu alegre, estavam no caminho certo. Era a voz do coração que cochichava para Alda, que nem tudo estava perdido.

            Chegando à casa ela sentou-se ao lado do marido que ainda dormia, então, olhou para ele com novos olhos. E, lá no fundo do coração ela fez uma promessa a Deus. Vitório também estava sofrendo e se embriagava para esquecer a cena que provocara.

             - Levaria o marido, aquela alma inquieta, para a Igreja, não importava o tempo; um dia estariam todos lá, louvando ao Senhor.

            Alguma coisa aconteceu e o Vitório quis saber porque estavam andando com as melhores roupas e não paravam mais em casa. Alda o convidou para irem juntos a Igreja, porém ele respondeu grosseiramente:

- Que Igreja vai tirá-lo daquela situação? Aquele lugar é para quem não tem serviço e quer ficar bajulando o Pastor.

Depois saiu rumo ao bar, precisava beber. A mulher ficou orando para que ele ouvisse a voz da razão, agora tinha fé. Ficaria feliz no dia em que Vitório a acompanhasse à Igreja.

Voltou outras vezes aquela casa de oração e louvor; estava sempre acompanhada da vizinha, da sogra e dos filhos. E, a cada dia aumentava a certeza de que estava no caminho certo, pois se acalmava ao ouvir a palavra de Deus. Havia uma esperança de que dias melhores estavam por vir, o pior já havia passado. Então, Alda aprendera a escutar a voz do coração.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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