MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 1 de abril de 2020

"FIO DE CABELO" "(...) E HOJE, O QUE ENCONTREI ME DEIXOU MAIS TRISTE, UM PEDACINHO DELA QUE EXISTE, UM FIO DE CABELO NO MEU PALETÓ. LEMBREI DE TUDO ENTRE NÓS, DO AMOR VIVIDO. AQUELE FIO DE CABELO COMPRIDO JÁ ESTEVE GRUDADO EM NOSSO SUOR. (...)" COMPOSITORES: DARCI ROSSI/ MARCIANO. CANTORES: CHITÃOZINHO E CHORORÓ

VIVER A VIDA

CAPÍTULO NOVE
           A segunda-feira foi longa e angustiante, Lívia aguardou alguma notícia de Murilo, mas ele não deu sinal de vida. A noite chegou e ela foi dormir sem jantar. Chorou até pegar no sono, ainda não acreditava, que ele se esquecera da família por um rabo de saia; estava confusa, não sabia o que fazer. Mas, pelo menos ela e os filhos ficariam protegidos, pois, as fechaduras foram trocadas.

            Como esposa de Murilo sentia-se ofendida, pensava em ir até a oficina, fazer um escândalo e envergonhar o marido traidor. Em seguida, vinha no pensamento o seu amor próprio, não poderia se rebaixar ao nível dele, não queria envergonhar os filhos. Então, levou as crianças para a escola e na volta passou na Igreja, para desabafar com o padre Giovane.

             Foi acolhida com carinho e ouvida com olhos de bondade. Depois dessa conversa, ela sentiu-se aliviada, precisava recuperar seu amor próprio. Tomou banho, escolheu um vestido novo, que ganhara do marido, passou batom, perfume e calçou sandálias de salto alto, depois saiu para fazer compras no supermercado.

             Chamou o Uber, que chegou rapidamente e ela sentou-se no banco traseiro, com ares de rainha. Era assim que ela iria se comportar dali para a frente. Nunca mais iria chorar por um marido canalha, mostraria sua garra.

Demorou pouco mais de uma hora e quando virou a esquina, viu o automóvel de Murilo em frente à sua casa. Ele andava de um lado ao outro, parecia impaciente e quando a viu, ficou espantado. O Uber encostou e ela desceu do veículo com as compras nas mãos, parecia outra pessoa.

Certamente, ele estava pensando encontrar sua mulher inconformada com a situação, desmantelada e triste, mas, ela estava muito bonita e imponente. Os conselhos do padre lhe fizeram muito bem, erguer a cabeça e seguir em frente. Nunca esmorecer, confiar em Deus, sempre.

                 A sogra estava com o filho e explicou que o acompanhara para evitar atritos diante das crianças. Lívia foi buscar forças no fundo do seu coração, para enfrentar aquela situação. Murilo estava irado e perguntou:

                - Por que você trocou as fechaduras das portas?

                 - Porque sou uma mulher sozinha, com três crianças para cuidar e preciso de um mínimo de segurança. Fui abandonada pelo homem que me prometeu amor, segurança e fidelidade, agora vou cuidar da minha vida.

             O homem não acreditava no que estava acontecendo, estava tudo dando errado. Levou a mãe com ele, para não ter que aguentar as lamúrias da mulher, no entanto, ela estava arrumada demais, altiva e inacessível. Então, ele viu que a estava perdendo e perguntou:

              - O que você quer dizer com isso? Disse quase gritando.

             - Que vou arrumar um emprego e pedir o divórcio. É simples assim.

                 Murilo não avançou sobre ela, porque sua mãe estava ali e ela o segurou.

                 - Afinal, o que você quer aqui? Onde está a vagabunda da sua amante? Lívia conseguiu afrontá-lo.

                 O homem estava muito nervoso e entrou no veículo, em seguida, sua mãe sentou-se ao seu lado e, ele arrancou cantando pneus. Não podia acreditar no que ouvira. Ele não queria que os filhos ficassem na creche, Lívia não poderia trabalhar fora.

                 - Murilo, agora ela é uma mulher livre e fará o que quiser, daqui para a frente.

                - Você a abandonou e não pode fazer mais nada.

            Rosa disse pausadamente, para ele compreender o tamanho da atitude que tomara.

                 - Não pode ser, eu vou sustentar a casa e ela terá que ficar cuidando das crianças. Ele retrucou sem convicção, então, percebeu que perdera sua mulher.

                 - Lívia é uma mulher jovem, bonita, poderá trabalhar fora e também arrumar um namorado, pense nisso.

               A mãe falou olhando para o filho, que reagiu imediatamente.

                 - Nunca vou aceitar que outro homem crie os meus filhos. Eu mato essa mulher.

           Ele estava furioso, percebera que cometera um ato impensado. A mulher sorriu, conseguiu atingir os sentimentos do filho, que estava cego e iludido por outra mulher. E num quase sussurro ele disse:

           - Eu só queria viver a vida como ela é, não pensei na reação da minha mulher. Raquel me mostrou outro lado da vida, que muito me atraiu.

           Rosa podia sentir a raiva que exalava do filho. Ele precisava de um presta atenção e pôr a mão na consciência, antes que fosse tarde demais.

           Alguma coisa se quebrou dentro dele, precisava pensar em tudo o que estava acontecendo.  Lívia era a mãe de seus filhos e teria que se comportar como uma mulher de família. Ele não aguentaria ver Lívia com outro homem, disso ele tinha certeza.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.