A CELEBRAÇÃO.
CAPÍTULO DEZ
Gilda estava eufórica, finalmente um
pouco de alegria para colorir a vida naquela casa. Sandro parecia estar vivendo
um sonho, estava alegre e brincalhão. O pequeno menino indefeso, agora, era um
belo rapaz de vinte e cinco anos. Um músico que se mantinha tocando em seu
conjunto, que era formado por cinco músicos e um cantor. Sandro tocava órgão e
acordeão; gostava de teclado, dizia aos companheiros, por isso estudava piano.
Há vinte anos ele estava cego, mal se
lembrava das coisas antes vistas; seu mundo se reduzira ao que podia sentir com
as mãos ou com os ouvidos. O restante ele imaginava lendo livros em braile. Tornara-se
um rapaz culto, porém, perdera o poder de colorir as coisas. Às vezes reclamava
com a mãe que já não se lembrava da diferença de azul ou rosa, vermelho ou
verde; seu mundo era cinzento e só a música o tirava da escuridão.
Sua mãe se anulara como pessoa para
cuidar do filho querido; ela já não se lembrava de como era sair para se
divertir. Estava com cinquenta anos, sozinha desde que Danilo faleceu e seu
maior sonho era ver o filho feliz. Trazia em seu coração a culpa por ele estar
cego e faria tudo para vê-lo contente com o seu amor; era um bom menino e
merecia ser feliz. Sandro nunca acusara a mãe por sua cegueira, embora ela
tenha lhe contado a verdade por diversas vezes.
Sofia também era uma cinquentona e
ultimamente andava saindo com o dono da padaria da esquina, parecia que estavam
namorando; Gilda dava a maior força. Sofia ajudou a prima com o menino e foi o
apoio que ela precisava para sobreviver à tamanha desgraça.
Em
momentos de nostalgia, Gilda pensava na mulher negra e pressentia que Sofia fora
induzida, por uma força maior, para ajuda-la. Agora, a prima poderia refazer
sua vida, já cumprira sua missão. Sandro já era um homem e iria se casar, então, ela poderia seguir o seu caminho.
Gilda queria preparar um jantar com muito
esmero para receber Celina, seus pais e irmãos. A moça também vinha de uma
história triste, era a filha mais velha de três irmãos; sua mãe tivera
“rubéola” na gravidez e a criança nascera com deficiência visual, que se
agravou posteriormente, deixando-a cega.
Celina gostava de música e tocava piano
desde criança, seus pais a incentivavam e lhe deram um piano de presente.
Sandro a conheceu durante as aulas no Conservatório e se apaixonou pela sua
doçura; era uma moça tranquila e sensível. Ao contrário dele ela nunca viu a
luz, nasceu com catarata congênita e não foi possível reverter o quadro.
Os dois jovens formavam um casal muito
bonito, um apoiava o outro, gerando segurança e fortalecendo os laços amorosos.
Era a liberdade que Sandro precisava para construir sua vida, uma companheira
compreensiva que compartilhava de seus projetos.
Houve a reunião das duas famílias e
Celina estava muito bonita; parecia apaixonada por Sandro. Era tudo o que Gilda
sonhara para seu filho, a moça estava aprovada pelas duas mulheres que cuidavam
do rapaz. Antes do início do almoço Sandro pediu para dizer algumas palavras,
queria ficar noivo de Celina. Pegando
nas mãos de sua namorada ele pediu aos pais dela que abençoasse as alianças,
que ele trocaria com Celina. Era a celebração do amor e um pedido de casamento.
Quando Celina e seus familiares deixaram
a casa, ficou a certeza de que aquele acontecimento seria o início de uma nova
vida para todos. Sandro e Celina estavam noivos.
O rapaz dizia estar preparado para se
casar e queria continuar a morar com sua mãe, ainda precisava de sua ajuda e
orientação. Começava, então, um planejamento para acomodar o casal e iniciar os
preparativos do casamento.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.