MANHÃ DE LUZ
CAPÍTULO SEIS
Os dias eram todos iguais e depois de uma semana, a mulher, desolada, procurou o médico que atendia o
seu marido naquela unidade de recuperação. Precisava conversar e ouvir o médico
responsável, para entender algumas coisas ou ficaria doida com tantos maus
pensamentos.
A UTI era um grande salão com onze leitos: a sala
de espera, o posto de enfermagem, o expurgo, o almoxarifado, a copa e quatro
sanitários. Dez leitos eram dispostos dos
dois lados do salão em boxes individuais.
Ali ficavam distribuídos os pacientes graves, que
precisavam de cuidados intensivos. Era uma UTI para pessoas adultas de ambos os
sexos e patologias diferentes. O décimo primeiro era um boxe destinado a
pacientes com patologias que exigiam isolamento. Um lugar limpo, amplo e
impessoal; podia-se ouvir apenas o barulho dos aparelhos ligados nos pacientes.
Deles saiam sons cadenciados, que formavam uma música tristonha e sem fim.
No horário
de visitas havia muitas pessoas aflitas, querendo a atenção do médico
intensivista. Ele era solicitado o tempo todo por familiares dos pacientes,
para dar esperanças ou tirá-las de uma vez. Suas palavras tinham o poder de
colocar um sorriso no rosto ou, provocar lágrimas de dor.
O médico, que estava conversando com o familiar de
outro paciente, atendeu prontamente o chamado e explicou à Marília, que seu
marido estava em sono profundo. Um coma induzido por drogas, para descansar e
estabilizar o cérebro. Procedimento muito usado em casos semelhantes, com bons
resultados.
Fernando não estava em coma pelo trauma recebido,
mas em coma necessário à sua recuperação, induzido por sedação.
- Amanhã de manhã, se ele estiver mantendo o
quadro, será iniciado o desmame das drogas e ele deverá acordar lentamente. O médico
afirmou com um olhar preocupado e depois de um minuto de silêncio prosseguiu.
- Assim,
quando ele acordar ficaremos sabendo, se ele ficará bem ou não. Tudo o que for
dito antes disso, será pura especulação. Estamos empenhados em seu
restabelecimento, mas precisamos de tempo para isso. Explicou o médico
calmamente.
Marilia não conseguiu dizer nada, o médico disse
tudo com firmeza e segurança, que ela apenas aquiesceu com a cabeça, enquanto
seus olhos se enchiam de lágrimas. Outra pessoa solicitou a presença do profissional,
que se afastou deixando a mulher envergonhada.
Ela que
sempre fora desenvolta e falante, agora se transformara em uma mulher chorona.
Na última semana já despejara um rio de lágrimas no mundo. Então, voltou para
perto do marido, que permanecia estático.
A visita na UTI foi encerrada e Marília precisou
deixar o recinto. Saiu com a cabeça baixa, estava desolada; não sabia o que esperar
de tudo aquilo.
Chegou
em sua casa e foi se deitar, estava com dor de cabeça, mas, antes tomou um
analgésico. O seu sono foi cheio de pesadelos e acordou assustada, havia
sonhado que Fernando tinha morrido. Então, esperou o dia clarear e o plantão
diurno ser iniciado para telefonar para Eloisa. Queria pedir a ela que fosse
saber de Fernando, queria notícias dadas pela amiga.
-
Marília, foi iniciado o processo de desmame do aparelho de respiração. Seu
marido deverá acordar nas próximas horas ou mais tardar em um ou dois dias.
Explicou a moça, com alegria.
A mulher não conseguiu responder, começou a chorar novamente. Mas, agora o choro
era de esperança em ver o seu esposo acordado novamente. Esperaria o horário de
visitas com alegria no coração.
Aquela manhã, já podia ser considerada uma
manhã de luz. Tudo o que Marília desejava era levar seu marido para casa e,
viver novamente sem aquelas nuvens negras no horizonte. Esquecer todos aqueles
dias de muitas dores, incertezas e valorizar a vida cada dia mais. Precisava
sair da escuridão e voltar para a luz.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa