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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

"...NUNCA SE ENTREGUE, NASÇA SEMPRE COM AS MANHÃS, DEIXE A LUZ DO SOL BRILHAR NO CÉU DO SEU OLHAR. NÓS PODEMOS TUDO, NÓS PODEMOS MAIS, VAMOS LÁ SABER O QUE SERÁ..." GONZAGUINHA


MANHÃ DE LUZ

CAPÍTULO SEIS
Os dias eram todos iguais e depois de uma semana, a mulher, desolada, procurou o médico que atendia o seu marido naquela unidade de recuperação. Precisava conversar e ouvir o médico responsável, para entender algumas coisas ou ficaria doida com tantos maus pensamentos.

A UTI era um grande salão com onze leitos: a sala de espera, o posto de enfermagem, o expurgo, o almoxarifado, a copa e quatro sanitários.  Dez leitos eram dispostos dos dois lados do salão em boxes individuais.

Ali ficavam distribuídos os pacientes graves, que precisavam de cuidados intensivos. Era uma UTI para pessoas adultas de ambos os sexos e patologias diferentes. O décimo primeiro era um boxe destinado a pacientes com patologias que exigiam isolamento. Um lugar limpo, amplo e impessoal; podia-se ouvir apenas o barulho dos aparelhos ligados nos pacientes. Deles saiam sons cadenciados, que formavam uma música tristonha e sem fim.

 No horário de visitas havia muitas pessoas aflitas, querendo a atenção do médico intensivista. Ele era solicitado o tempo todo por familiares dos pacientes, para dar esperanças ou tirá-las de uma vez. Suas palavras tinham o poder de colocar um sorriso no rosto ou, provocar lágrimas de dor.

O médico, que estava conversando com o familiar de outro paciente, atendeu prontamente o chamado e explicou à Marília, que seu marido estava em sono profundo. Um coma induzido por drogas, para descansar e estabilizar o cérebro. Procedimento muito usado em casos semelhantes, com bons resultados.

Fernando não estava em coma pelo trauma recebido, mas em coma necessário à sua recuperação, induzido por sedação.

- Amanhã de manhã, se ele estiver mantendo o quadro, será iniciado o desmame das drogas e ele deverá acordar lentamente. O médico afirmou com um olhar preocupado e depois de um minuto de silêncio prosseguiu.

 - Assim, quando ele acordar ficaremos sabendo, se ele ficará bem ou não. Tudo o que for dito antes disso, será pura especulação. Estamos empenhados em seu restabelecimento, mas precisamos de tempo para isso. Explicou o médico calmamente.

Marilia não conseguiu dizer nada, o médico disse tudo com firmeza e segurança, que ela apenas aquiesceu com a cabeça, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Outra pessoa solicitou a presença do profissional, que se afastou deixando a mulher envergonhada.

     Ela que sempre fora desenvolta e falante, agora se transformara em uma mulher chorona. Na última semana já despejara um rio de lágrimas no mundo. Então, voltou para perto do marido, que permanecia estático.

A visita na UTI foi encerrada e Marília precisou deixar o recinto. Saiu com a cabeça baixa, estava desolada; não sabia o que esperar de tudo aquilo.

               Chegou em sua casa e foi se deitar, estava com dor de cabeça, mas, antes tomou um analgésico. O seu sono foi cheio de pesadelos e acordou assustada, havia sonhado que Fernando tinha morrido. Então, esperou o dia clarear e o plantão diurno ser iniciado para telefonar para Eloisa. Queria pedir a ela que fosse saber de Fernando, queria notícias dadas pela amiga.

               - Marília, foi iniciado o processo de desmame do aparelho de respiração. Seu marido deverá acordar nas próximas horas ou mais tardar em um ou dois dias. Explicou a moça, com alegria.

               A mulher não conseguiu responder, começou a chorar novamente. Mas, agora o choro era de esperança em ver o seu esposo acordado novamente. Esperaria o horário de visitas com alegria no coração.

             Aquela manhã, já podia ser considerada uma manhã de luz. Tudo o que Marília desejava era levar seu marido para casa e, viver novamente sem aquelas nuvens negras no horizonte. Esquecer todos aqueles dias de muitas dores, incertezas e valorizar a vida cada dia mais. Precisava sair da escuridão e voltar para a luz.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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