CORAÇÃO ALADO
CAPÍTULO SEIS
A mulher saiu do hospital com o
coração revigorado. O seu menino estava bem cuidado, embora ela ficasse muito
triste em vê-lo contido em uma cama. Teresa queria ver Benjamim correndo pelos
campos, montado em seu cavalo Corisco; ela sonhava com isso. Dirceu também
ficou contente e melhorou seu humor em relação a sua mulher. Eles ainda teriam
mais um dia para visitar o filho querido.
Finalmente, o casal teve uma noite
de paz e puderam dormir profundamente. No sábado de manhã, saíram à procura de
uma igreja para agradecer a Deus o fato do filho estar bem. Depois do almoço
voltaram ao hospital. Ficariam ao lado de Benjamim até a hora em que a sineta
tocasse, encerrando as visitas no hospital, naquela tarde.
O menino estava sentado na poltrona
com a perna esticada e protegida com talas, para que ficasse imóvel. Parecia
alegre e sorriu ao ver seus pais. Benjamim queria saber quando eles voltariam
para vê-lo, já que os médicos avisaram que sua internação se daria por um longo
tempo.
Benjamim parecia conformado em ficar
ali, estava contente com a hospitalidade do local. Lá havia um médico que o
paparicava bastante. Tinha alguns livros em cima de seu criado-mudo, doces e
frutas também. Teresa ficou olhando, no fundo estava estranhando.
- Quem trouxe tudo isso para você?
Então, o menino explicou para
sua mãe, porque aqueles livros estavam ali. Disse que o Dr. Catena queria que
ele estudasse para ser um médico também.
– Como pode ser isso? Não temos
recursos para mantê-lo em uma escola de médicos. Disse o pai bastante preocupado.
Teresa ficou assustada e disse:
- Esse médico vai roubar o
Benjamim de nós, faz alguma coisa homem!
Em seguida, a porta se abriu e um
médico sorridente, alto, com seus cabelos louros revoltos, entrou, depois
estendeu a mão para o pai do menino se apresentando.
– Meu nome é Olavo Catena e
sou o médico responsável por Benjamim. Fiquem tranquilos, que ele irá se
recuperar totalmente desse agravo à sua saúde. Vamos ver como ele se comporta
no tempo em que ficar conosco, isso será definitivo para o seu futuro. Esse
tipo de fratura tem que ser tratada no hospital ou ficará, para sempre, com
sequelas.
– Quanto tempo doutor? Perguntou,
timidamente o pai.
– Não sabemos, pois, a fratura foi bastante
grave e teremos que aguardar o osso crescer e fechar o vão deixado. Coçou a cabeleira e continuou:
- Enquanto isso vamos incentivar à
leitura e acompanha-lo nos deveres escolares. Não permitiremos que perca o ano
e fique atrasado, para isso temos professores voluntários, que darão a
assistência devida à todas as crianças da ala pediátrica. Em seguida, sorriu
para ambos, deu uma tapinha na cabeça do menino e saiu batendo a porta.
Pai e mãe ficaram mudos, não
tiveram argumentos para discordar do médico, que era uma figura única,
envolvente e simpático. Aquele homem convenceria qualquer pessoa a fazer o que
ele quisesse; era puro carisma.
Teresa sentiu medo, ele poderia
tirar o menino dela, tinha poder para isso. Dirceu também ficou apreensivo,
havia naquele homem um magnetismo estranho, uma luz que o diferençava das
outras pessoas. E, aquela história do filho estudar medicina os deixava
inquietos. Eram pessoas simples, que queriam os filhos para ajudar a família na
roça, apenas isso.
Despediram-se de Benjamim, que
ficou com os olhos cheios de lágrimas, para tristeza dos pais que saíram
chorando dali. A mãe sabia que deveria retornar à sua casa, lá deixara os seus
outros filhos, Rui e Marília, que também precisavam da mãe.
Teresa, novamente sentada na
jardineira, que já não lhe dava medo, estava mais calma e os seus pensamentos
se dividiam entre o hospital e sua casa. Na verdade, ela trazia no peito um
coração alado, que voava, o tempo todo, de um lugar ao outro
Ela sempre dizia: - “Os filhos
são pedaços de nós e todos têm o mesmo valor”. Com tudo isso, Teresa tornara-se
uma mulher sem sossego, com um coração dividido.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa