A FAMÍLIA DE ANTONIO
CAPÍTULO 8
O homem tinha três irmãos e uma irmã, mas,
havia tempos que não recebia notícias dos mesmos. Nalva era a única que ás
vezes telefonava para saber como ele estava e que acompanhara o cortejo fúnebre
de sua cunhada Verônica. A irmã chegara pensando em ficar na casa de Antonio
durante dois dias para ver como o irmão estava vivendo e ajuda-lo, se fosse preciso.
A mulher pensava que iria encontrar seu irmão deprimido em meio a muita
bagunça, pois, ele nunca fora chegado em realizar serviços domésticos. Porém, ela
ficou surpresa com a arrumação da casa, com o jardim bem cuidado e até com o
cachorro.
-“Ele
nunca quisera cachorros e agora tinha um!'. Pensou a irmã admirada.
Nalva encontrara o irmão bem disposto e
alegre; na verdade, ele estava ótimo. Com cuidado perguntou se ele tinha
encontrado outra mulher, parecia animado. Antonio negou com veemência, jamais
trairia sua esposa, estava de luto, mas a vida tinha que continuar.
Ele parecia
atento, cuidadoso e havia comida na casa. Estava tudo arrumado e o irmão era amável
com o cão, que ele nunca gostara.
-Será que mudara de ideia?
Com
certeza a morte da cunhada virou a cabeça do irmão. Ao invés de ficar desolado,
ele estava muito bem. Apesar de perplexa, Nalva ficara contente, seu irmão
estava superando a perda da esposa; era isso que importava, concluiu a mulher
com uma ponta de desconfiança; a situação lhe parecia estranha!
Nalva não queria incomodar, ela e a
filha saíram depois do almoço para fazer compras, dizendo que retornaria no dia
seguinte para sua casa, ele não precisava dela; Antonio estava muito bem. O
homem ficou feliz, poderia conviver com Bernardo novamente, sem ninguém para
vigiar.
Antonio levantou-se bem cedo e fez o
café para a irmã seguir viagem o mais rápido possível. Nalva e a sobrinha se
foram antes do almoço e depois de vê-las subirem as escadas do coletivo, o
homem foi para casa. Estava ansioso para retirar o Bernardo da mala.
Chegou e tirou a mala de dentro do
guarda-roupa, queria livrar o amigo do esconderijo. Colocou a mala sobre a cama
e abriu, tirando o boneco e abraçando-o com muito carinho. Bernardo era mais
que um amigo, era um filho muito amado e Antonio precisava dele para ser feliz.
Foram almoçar na copa e depois ver televisão; os dois amigos se bastavam e
Antonio voltara a ser um homem comum e normal, mal se lembrava de Verônica.
Depois de alguns dias, Nalva telefonou para
saber se o irmão queria passar o Natal com a família dela. O Natal estava
próximo e todos estavam em clima natalino.
-Já havia se comprometido com os amigos
do escritório, passaria o Natal com eles, disse Antonio e sentiu alívio;
ficaria em casa com Bernardo.
Á noite o homem saiu cantarolando pelas
ruas do centro, queria fazer compras natalinas; estava feliz.
Comprou uma árvore de Natal e muitos
enfeites, faria a melhor árvore de Natal de sua vida. Com o Bernardo sentado no
sofá, armou a árvore na presença do boneco, a todo o momento olhava para o
amigo e fazia algum comentário, estava feliz, parecia uma criança em seu
primeiro Natal.
Preparou uma mesa com enfeites e
comidas típicas de ceia natalina; a casa estava festiva e sua alma alegre.
Depois tomou banho colocando sua roupa nova e até abusou do perfume. Estava tudo
perfeito.
Para Bernardo comprara roupas novas e um boné de abas largas. Antonio
tivera mais uma daquelas ideias estranhas, mas, somente depois da passagem de
ano poria a ideia em prática. A noite de Natal chegou e encontrou um homem eufórico,
parecia outra pessoa, muito mais alegre.
Um Natal feliz em família, ele, o
Bernardo e o Lobo. Foi dormir contente ao lado de seu amigo e lá no fundo tinha
um plano para começar o ano novo. Durante a próxima semana ele teria que sair e
comprar uma cadeira de rodas e mandar colocar um toldo para proteção solar,
tipo carrinhos de bebê. Não seria fácil, mas ele iria até um local onde havia
de tudo, móveis e coisas usadas. Na sua cabeça tinha tudo planejado, seria o
presente de Natal de Bernardo.
Estava transformado, era um homem
completo e contente com sua família. No trabalho agia normalmente, apenas
falava menos e os colegas atribuíam o fato ao luto que ele estava passando. O
segredo que mantinha o tornava poderoso; era uma vida só sua e ele não
permitiria nenhuma intromissão. Quando saia era o Antonio de sempre, mas,
quando entrava em casa era outra pessoa; ele desenvolvera outra personalidade,
era um misto de pai e amigo; o protetor de Bernardo.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.