UM
RAIO DE LUZ
CAPÍTULO SEIS
Serena ganhara alguns quilos,
estava mais bonita, com um viço diferente. Seu sorriso irradiava felicidade
e seu olhar apresentava uma ternura diferente. Toda mulher, quando seu corpo
acolhe um novo ser para uma gestação, fica mais sensível e emotiva. Serena, agora chorava atoa, assistindo a um filme, lendo um livro ou vendo um jornal na
Televisão.
Vitor estava impaciente, queria
notícias de Serena quase todos os dias. Mandava mensagens diárias e escrevia
cartas contando fatos sobre o dia a dia, que observava no Haiti. Agora seu foco eram
as crianças, pois, logo seria um pai muito amoroso.
O dia marcado para a ecografia
chegou e Serena, acompanhada de sua mãe, foi conhecer o sexo do bebê. A
expectativa era grande e quando chegou o momento, duas lágrimas rolaram do
rosto da futura mamãe. O médico sorriu e disse:
- Está claro para mim, é uma
menina perfeita; está tudo bem.
Serena saiu dali muito feliz, era tudo o que ela queria. Carregava uma
princesa em seu ventre, que crescia normalmente e não apresentava nenhum problema.
A futura mamãe tratou de avisar Vitor de que ele seria pai de uma menina.
Ele, então, lhe escreveu contando
que lá no Haiti havia uma menina que sempre o acompanhava. Parecia que ela
pressentia que ele seria pai de uma outra menina. Seu nome era Mary Claire, uma
criança esperta, com cerca de seis anos e com grandes olhos negros. Magérrima,
maltrapilha e, em busca de comida o tempo todo.
Vitor gostava daquela
criança, que sofria a desgraça da orfandade e tinha um futuro incerto. De vez em quando, ele olhava para trás e lá estava ela observando-o. Era uma criança carente de pai e precisava de proteção.
Agora, sabendo que havia uma
princesa a caminho, ele se apegava a menina e as outras crianças, que viviam
nas ruas do acampamento. Em cada uma delas ele procurava ver o rostinho de sua
filha, vivia com muito mais sensibilidade depois da notícia recebida. A carta
de Serena, onde era informado de que seria pai, parecia estar transformando seus
sentimentos de homem rígido do exército.
Em um outro dia, ele percebeu que a
menina estava gripada e ao se abaixar para pôr a mão na testa de Mary Clarie,
percebeu que ela estava, além da febre, cheia de piolhos nos cabelos. Pegou em
sua mãozinha pequena e suja e a levou para a enfermaria da Cruz Vermelha. Ela
precisava de cuidados especiais.
Enquanto Serena preparava outra
pessoa em seu ventre, o pai, muito distante, se preparava emocionalmente para
ter duas mulheres em sua vida, seu amor e uma princesa como filha. Um sargento
Boina Azul, que estava muito mais sensível e humano, aprendendo a olhar o mundo
de uma maneira diferente.
A pequena criança já fazia a
diferença para todos os familiares, que passaram a aguardar ansiosamente pela
sua chegada. E, para Serena o pequeno ser significava um raio de luz na
escuridão de sua solidão, que agora já não doía tanto.
Um texto de Eva Ibrahim