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quarta-feira, 26 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA DO BRASIL" "FONTE DE AMOR E LUZ, ESTRELA QUE CONDUZ AONDE VAI A ESTRADA. A FÉ QUE ALIMENTA A ALMA E O PODER DA PALMA, QUEM NÃO CRER EM NADA. É A FORÇA DE UMA ORAÇÃO, É A PROVA DO PERDÃO, SEU MANTO AZUL ANIL. É A SALVAÇÃO A TODA HORA, É LÁGRIMA DE QUEM NÃO CHORA, NOSSA SENHORA DO BRASIL" (...) PADRE MARCELO ROSSI

POR ENTRE OS DEDOS

CAPÍTULO ONZE
    Marcelo, com seu melhor traje de peão de boiadeiro e com toda a fé do mundo, aguardava sentado no lombo de seu cavalo Jiló, a abertura do portão para sua apresentação. Seu coração batia forte e seus pensamentos se embaralhavam a ponto de ele sentir-se fora da realidade. Sabia que era uma chance única de marcar muitos pontos e sair vencedor.

 Pensou em sua santa de devoção e balbuciou uma oração, no entanto, misturou o Pai Nosso com a Ave Maria, estava confuso. Que ela o desculpasse, pensou, pois precisava muito de sua proteção. Em seguida, fez o sinal da cruz. Não conseguia pensar em mais nada.

            Angel e os pais do rapaz estavam apreensivos, a mãe rezava com o terço na mão, pedindo a ajuda de Nossa Senhora. Quando o narrador disse o nome de Marcelo Magalhães, Angel cobriu os olhos com as mãos. Era tudo ou nada, poderiam ir aos céus ou baixar aos infernos, em apenas alguns segundos. Não havia mais tempo, então ela fechou os olhos, como se fecha uma cortina da janela.

             O cavalo saiu desembestado, pulando, corcoveando e girando sobre si mesmo, parecia possuído por alguma coisa estranha. Marcelo estava pregado em seu lombo, acompanhava os saltos de Jiló com o braço esquerdo levantado, parecia impassível. Nem o chapéu caiu da cabeça. Aquele boneco de pano resistiu aos sacolejos intensos, até ultrapassar o tempo necessário.  

            Por entre os dedos, Angel espiava temerosa. Abria e fechava suas janelas de visão de mundo, parecia flutuar, tamanha era sua emoção. Oito, dez segundos, uma eternidade e a campainha tocou, para que os cavaleiros salva-vidas o apoiasse para descer. Marcelo desceu e se ajoelhou na arena em agradecimento a Santa. A plateia aplaudiu freneticamente gritando:

                - É campeão, é campeão!

            O peão ficou por alguns minutos concentrado de cabeça baixa, com o chapéu nas mãos e os olhos cheios de lágrimas. Seus pais gritavam desesperados o seu nome e Angel tirou as mãos dos olhos para aplaudir.

             Então ela gritou:
            - Acabou? Marcelo venceu? A sogra chorando aquiesceu com a cabeça.

            Em seguida, a moça abraçou a futura sogra e chorou de escorrer lágrimas dos olhos. Depois de alguns minutos, saiu a nota oficial do peão Marcelo Magalhães, noventa e um pontos, se tornara o líder da competição. No entanto, era cedo para cantar vitórias, pois ainda faltavam os dois melhores competidores daquela modalidade.

Dando prosseguimento ao evento, foram apresentados os últimos competidores, que obtiveram oitenta e oito e noventa pontos. Mas, não alcançaram os pontos de Marcelo, que venceu a competição, entre choros e risos, abraços e beijos. Até o Jiló recebeu beijos de Marcelo, pela sua excelente performance.

               Angel não se continha, parecia inacreditável que seu amor se consagrara o campeão de Barretos, depois de ter sofrido um acidente tão grave, há seis meses apenas. Agora era só esperar a hora da entrega do prêmio, para abraça-lo e comemorar.

               Com muita festa e fogos de artifício, Marcelo recebeu as chaves da caminhonete, das mãos do organizador do evento. Mas, ficariam na arena para assistir à final da montaria em touros. Agora já calmos e felizes, apenas observando os competidores.

           Marcelo ficou na plateia com sua família e acompanhou o desempenho de seus companheiros. E, entre uma prova e outra, contava histórias dos rodeios para sua namorada.

             - Angel, houve nessas arenas um touro que foi considerado invencível durante oito anos. O maior mito dos rodeios brasileiros, o touro Bandido, vou lhe contar essa história.

               Então, saíram da arena e foram pegar o veículo, que foi ganho na competição. Uma caminhonete possante e brilhante, onde os quatro foram dar uma volta. A noite era apenas uma criança e depois de deixar os pais no hotel, saíram para namorar.

               Sentaram-se em uma mesa reservada de uma lanchonete e Marcelo, entre um carinho e outro, começou a contar a história do touro Bandido.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa
MEU MUNDO REINVENTADO.

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