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quarta-feira, 1 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO O MUNDO OUVIR. TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER. E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ. SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO". "(...)' COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                                   O DESPERTAR

CAPÍTULO DEZ
              As curtidas e inscrições no canal de Alana foram surpreendentes, em uma semana ela acumulava vinte mil inscritos e quase trinta mil curtidas. Era evidente que muita gente tinha curiosidade em saber, o que estava acontecendo com os pacientes dentro dos hospitais, que acolhiam os infectados por Coronavírus.

              Ela ficou contente com o sucesso do relato sobre sua doença, acometida pelo vírus desconhecido. Os fatos relatados ocorreram antes dela estar entubada, num leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por mais que tentasse, não se lembrava de nada, parecia que aqueles dez dias não existiram.

             Em certo momento, a moça levou a mão aos lábios, no qual havia uma ferida no canto esquerdo da boca. Antes de sair do hospital, ela perguntou para a enfermeira o que havia ferido a sua boca e a resposta a surpreendeu:

              - O tubo foi amarrado desse lado de sua boca e deve ter ficado esfregando enquanto você respirava, por isso acabou causando o ferimento. Havia muitos pacientes para serem cuidados, que quando perceberam sua boca já estava ferida. Logo vai sarar, fique tranquila. Afirmou a enfermeira responsável pela UTI. A paciente resignada percebeu, que nada poderia ser feito.

                  Estava cicatrizando, mas era um ferimento marcante, então, depois da explicação, Alana iniciou seu relato final:

            - Essa ferida é apenas uma amostra, de tudo que eu passei durante vinte e cinco dias no hospital. Além de algumas coisas ruins, muitas outras boas aconteceram. Sou agradecida a todos os funcionários daquele estabelecimento, que contribuíram para me manter viva.

             Parou por um momento, estava emocionada e depois de um suspiro continuou:

                - É um esforço continuo e enorme de todos eles, são pessoas dedicadas, que apesar do medo de contaminar suas famílias, continuam na luta diária. São médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e além deles, temos também que nos lembrarmos do pessoal da nutrição, do pessoal da higiene, do pessoal da manutenção, do pessoal da recepção e do pessoal do transporte, todos merecem serem reconhecidos como mantenedores de vidas.

           -Muitos deles perderão a própria vida, por estarem na linha de frente da pandemia, mesmo assim continuam em suas lutas solitárias. Muitos terão a marca da máscara, para sempre, crivadas em seus rostos, pois quebraram cadeias de músculos faciais, por uso contínuo da proteção contra o famigerado vírus.

            Alana parou de falar e levou um copo de água à boca, tinha a garganta seca do esforço exagerado e emocionado, ao citar tantos heróis anônimos. Depois continuou:

           - Quando abri os olhos, não sabia onde estava e custei a me lembrar quem eu era. Acordei de um pesadelo mortal, inanimado, profundo e inexplicável. Onde eu estivera durante aqueles dias? Não sei dizer, estava inerte para o mundo conhecido.

            - Mas, aos poucos fui retornando a vida e voltei a ser a mulher que está aqui. Fragilizada, no entanto, inteira e pronta para recuperar a saúde e continuar a lutar pela vida. Quero falar dos últimos doze dias, que passei me recuperando no hospital.

                – Foram dias difíceis, pois eu sentia uma fraqueza extrema, meus membros não me obedeciam, estava prostrada no leito. Qualquer esforço, até o ato de abrir a boca, me cansavam. Eu pensava que estava condenada a ser um vegetal na cama. Entretanto, eu estava enganada, havia um exército de pessoas para me tirar daquela letargia.

              Alana parou para enxugar algumas lágrimas, que teimavam em cair e salgar seus lábios, provocando dor na ferida. Depois continuou:

              -Aos poucos fui recuperando as forças através da alimentação por via oral e venosa. Pelo esforço constante das fisioterapeutas, assistência psicológica, a competência dos médicos e enfermeiros que estiveram ao meu lado o tempo todo, fizeram com que eu recuperasse parte de minha antiga vitalidade..

          - Foi muito difícil, mas estou me restabelecendo bem. Faz dois meses que tudo começou, ainda falta muito para eu voltar a ser a mulher, que eu era antes do Coronavírus.

         - Mas tenho certeza de que serei uma pessoa muito melhor, quando tudo isso acabar. Serei mais humana e consciente de que todos temos que ser mais solidários com o próximo.

            - A vida é tênue e precisamos entender o que move o mundo, que é o amor fraterno. Esse amor esteve por detrás de tantas máscaras, que foram colocadas nos rostos de profissionais de saúde do mundo inteiro. Eu acredito que essa tenha sido a mensagem, que Deus nos enviou, mais solidariedade e amor fraterno entre os seres humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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