MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

"O QUE QUER QUE ACONTEÇA NAS ESTAÇÕES DE NOSSAS VIDAS, A GLÓRIA QUE VAI SER REVELADA PARA NÓS UM DIA, VAI OFUSCAR AS DORES DE HOJE, COMO SE ELAS NUNCA TIVESSEM ACONTECIDO". ROMANOS 8:18

UMA ESTRELA BRILHANTE

CAPÍTULO TREZE
           O ano seguinte passou rápido e as feridas de Benjamim fecharam. Ele ficou dois meses no hospital e depois foi levado para a casa do médico, que o deixou aos cuidados da família do caseiro. Ele precisava de acompanhamento de fisioterapia e retornos semanais ao hospital, por isso não poderia voltar para sua casa na zona rural.

             O Dr. Catena estava muito atento a tudo o que acontecia com o menino. Ele tinha uma afeição especial, que o aproximava de Benjamim. Alguma coisa dizia para ele ajudar aquele menino:

             - Deve ser coisa de Deus! Pensava olhando para o céu.

            O médico vivia em uma bela casa com sua mãe idosa, depois que sua esposa faleceu de câncer de mama. A mãe e o filho se juntaram na solidão e um apoiava o outro. Ele tinha um filho que estudava na Inglaterra e só voltava para casa nas férias de julho.

           Olavo Catena era um médico famoso, ortopedista de valor e muito rico.

             -“Um Semideus”, diziam seus subordinados, com admiração.

           Ficava pouco em casa, vivia dando palestras em simpósios e congressos, além de seu trabalho no hospital, onde era o maior acionista. Era fino, carismático e elegante; muito respeitado por todos. Os atendimentos eram, em sua maioria, gratuitos.

             Quando voltava para casa logo mandava chamar o Benjamim; queria saber de seus progressos nos estudos. O menino frequentava a escola juntamente com o filho do caseiro, ambos se tornaram amigos. A vida ali era simples e confortável, tinham acesso a piscina, campo de futebol, sala de jogos e a biblioteca da casa grande.

            Dona Aurora, a mãe do médico era bondosa e prestativa, tratava o menino como se fosse seu neto. E nas horas de folga, ela ensinava o menino a tocar piano. Ele e Miguel, o filho do caseiro, terminaram o ano letivo e Benjamim não queria voltar a morar com seus pais. O menino da roça queria estudar na cidade grande; tornara-se um cidadão urbano.

            Dirceu foi buscar os dois meninos para passar férias no sítio, mas percebeu que seu filho estava se afastando deles, tinha outros interesses. O doutor, quando viu Dirceu, o chamou para uma conversa e lhe pediu permissão para colocar seu filho em um colégio interno.  Ele foi claro dizendo:

           - Se ele se empenhar eu financio seus estudos. Faremos dele um bom médico para cuidar de todos nós, na velhice.

               Teresa chorou, os irmãos ficaram com inveja, mas Benjamim seguiu seu caminho; tinha um futuro promissor. Dirceu ficou espantado e surpreso, mas não poderia negar essa oportunidade ao filho. Então, o abençoou desejando-lhe muita sorte.

            No começo foi difícil, mas cada vez que o menino ia visita-los, eles agradeciam a Deus pela oportunidade de ter um filho estudado e muito educado. Teresa fazia orações, todas as noites, de agradecimento ao médico que cuidava de seu filho.

Benjamim tornara-se um rapaz alto e forte, admirado por todos. Tinha bons princípios, era humilde e nunca abandonou seus pais. Chamava o doutor Catena de tio e o respeitava muito.

Os pais estiveram em sua formatura e choraram de felicidade ao ver o filho ser chamado de doutor. Rui se casou com uma moça das redondezas e continuou a trabalhar com seu pai. Marília estava noiva de um soldado da vila e logo se casaria também.

Benjamim foi trabalhar com o doutor Catena, a quem estimava como a um pai. O médico o introduziu na sociedade local e ficou feliz quando ele começou a namorar uma moça de família conhecida.

Em pouco tempo, Benjamim conquistou novos amigos, casou-se com Mariana e tornou-se um médico requisitado. O velho doutor já não viajava muito, retirava-se de suas atividades gradualmente. No entanto, estava sempre pronto a discutir casos com Benjamim, sempre orientando e esclarecendo dúvidas do jovem médico.

Dona Aurora faleceu em uma véspera de Natal, a idade a levou e deixou o médico mais solitário. O filho do doutor Catena fixou residência em Londres e visitava o pai uma vez no ano.

 Benjamim era seu filho de fato, Dirceu era o pai biológico que recebia a visita do filho, de vez em quando. Teresa estava conformada e orgulhosa de seu menino, que agora iria ser papai.

 Os anos continuaram em seu galope e os cabelos brancos cobriram a cabeça do doutor, que se isolava, cada vez mais, da vida em sociedade. Seus passos ficaram lentos, seu corpo pesado e sua fala mansa; agora ele passava o tempo lendo e meditando.

 Parecia um Semideus mesmo, sentado em sua cadeira de balanço vendo o Sol se por. Uma figura nostálgica de alguém que deu tudo de si com firmeza, para reger a vida de todos que o rodeavam. Era rígido e fascinante, sabia dar o tom na música da vida.

 Benjamim ocupava seu lugar com muita eficiência e humildade. Assim se apresentava a vida para todos na virada do ano dois mil. 

  E, no dia primeiro do ano, enquanto todos dormiam, o Dr. Olavo Catena deixou o corpo velho e cansado para subir aos céus, tornando-se mais uma estrela brilhante nas noites escuras. E, na terra deixou sementes de amor e determinação no coração das pessoas que o conheceram.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.