UMA
ESTRELA BRILHANTE
CAPÍTULO
TREZE
O ano seguinte passou rápido e as
feridas de Benjamim fecharam. Ele ficou dois meses no hospital e depois foi
levado para a casa do médico, que o deixou aos cuidados da família do caseiro.
Ele precisava de acompanhamento de fisioterapia e retornos semanais ao
hospital, por isso não poderia voltar para sua casa na zona rural.
O Dr. Catena estava muito atento a tudo o que
acontecia com o menino. Ele tinha uma afeição especial, que o aproximava de
Benjamim. Alguma coisa dizia para ele ajudar aquele menino:
- Deve ser coisa de Deus! Pensava
olhando para o céu.
O médico vivia em uma bela casa com
sua mãe idosa, depois que sua esposa faleceu de câncer de mama. A mãe e o filho
se juntaram na solidão e um apoiava o outro. Ele tinha um filho que estudava na
Inglaterra e só voltava para casa nas férias de julho.
Olavo Catena era um médico famoso,
ortopedista de valor e muito rico.
-“Um Semideus”, diziam seus subordinados, com
admiração.
Ficava pouco em casa, vivia dando palestras em
simpósios e congressos, além de seu trabalho no hospital, onde era o maior
acionista. Era fino,
carismático e elegante; muito respeitado por todos. Os atendimentos eram, em sua maioria, gratuitos.
Quando voltava para casa logo
mandava chamar o Benjamim; queria saber de seus progressos nos estudos. O
menino frequentava a escola juntamente com o filho do caseiro, ambos se
tornaram amigos. A vida ali era simples e confortável, tinham acesso a piscina,
campo de futebol, sala de jogos e a biblioteca da casa grande.
Dona Aurora, a mãe do médico era
bondosa e prestativa, tratava o menino como se fosse seu neto. E nas horas de
folga, ela ensinava o menino a tocar piano. Ele e Miguel, o filho do caseiro,
terminaram o ano letivo e Benjamim não queria voltar a morar com seus pais. O
menino da roça queria estudar na cidade grande; tornara-se um cidadão urbano.
Dirceu foi buscar os dois meninos
para passar férias no sítio, mas percebeu que seu filho estava se afastando
deles, tinha outros interesses. O doutor, quando viu Dirceu, o chamou para uma
conversa e lhe pediu permissão para colocar seu filho em um colégio
interno. Ele foi claro dizendo:
- Se ele se empenhar eu financio
seus estudos. Faremos dele um bom médico para cuidar de todos nós, na velhice.
Teresa chorou, os irmãos ficaram
com inveja, mas Benjamim seguiu seu caminho; tinha um futuro promissor. Dirceu
ficou espantado e surpreso, mas não poderia negar essa oportunidade ao filho.
Então, o abençoou desejando-lhe muita sorte.
No começo foi difícil, mas cada vez que o
menino ia visita-los, eles agradeciam a Deus pela oportunidade de ter um filho
estudado e muito educado. Teresa fazia orações, todas as noites, de
agradecimento ao médico que cuidava de seu filho.
Benjamim
tornara-se um rapaz alto e forte, admirado por todos. Tinha bons princípios,
era humilde e nunca abandonou seus pais. Chamava o doutor Catena de tio e o
respeitava muito.
Os
pais estiveram em sua formatura e choraram de felicidade ao ver o filho ser
chamado de doutor. Rui se casou com uma moça das redondezas e continuou a trabalhar
com seu pai. Marília estava noiva de um soldado da vila e logo se casaria
também.
Benjamim
foi trabalhar com o doutor Catena, a quem estimava como a um pai. O médico o
introduziu na sociedade local e ficou feliz quando ele começou a namorar uma
moça de família conhecida.
Em
pouco tempo, Benjamim conquistou novos amigos, casou-se com Mariana e tornou-se
um médico requisitado. O velho doutor já não viajava muito, retirava-se de suas
atividades gradualmente. No entanto, estava sempre pronto a discutir casos com
Benjamim, sempre orientando e esclarecendo dúvidas do jovem médico.
Dona
Aurora faleceu em uma véspera de Natal, a idade a levou e deixou o médico mais
solitário. O filho do doutor Catena fixou residência em Londres e visitava o
pai uma vez no ano.
Benjamim era seu filho de fato, Dirceu era o
pai biológico que recebia a visita do filho, de vez em quando. Teresa estava
conformada e orgulhosa de seu menino, que agora iria ser papai.
Os anos continuaram em seu galope e os cabelos
brancos cobriram a cabeça do doutor, que se isolava, cada vez mais, da vida em
sociedade. Seus passos ficaram lentos, seu corpo pesado e sua fala mansa; agora
ele passava o tempo lendo e meditando.
Parecia um Semideus mesmo, sentado em sua
cadeira de balanço vendo o Sol se por. Uma figura nostálgica de alguém que deu
tudo de si com firmeza, para reger a vida de todos que o rodeavam. Era rígido e
fascinante, sabia dar o tom na música da vida.
Benjamim
ocupava seu lugar com muita eficiência e humildade. Assim se apresentava a vida
para todos na virada do ano dois mil.
E, no dia primeiro do ano,
enquanto todos dormiam, o Dr. Olavo Catena deixou o corpo velho e cansado para
subir aos céus, tornando-se mais uma estrela brilhante nas noites escuras. E,
na terra deixou sementes de amor e determinação no coração das pessoas que o
conheceram.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa