NAS LUZES DA RIBALTA
CAPÍTULO SETE
A plateia estava animada com a
ressurreição do boi, era hora de continuar a festa. O apresentador seguiu
chamando cada personagem para sua performance. Muitos são destaques: o
levantador de toadas, o porta estandarte, a sinhazinha da fazenda, a
cunhã-poranga, o amo do boi, a rainha do folclore, são estes que permanecem o tempo todo
em evolução. Ocorre também, a apresentação do pajé, dos guerreiros indígenas, das
dançarinas, dos figurantes e dos brincantes, que fazem pano de fundo para a apresentação
do tema.
São muitas cores, carros
alegóricos enormes, saias coloridas, penas, adereços, figuras de animais da
floresta, aves amazônicas, cavalos com seus cavaleiros, efeitos especiais de sons,
fogos, luzes e névoas, que compõem o cenário, para a apresentação da história
pinçada na floresta Amazônica. Em destaque, o boi dançarino, que dentro de sua
carcaça abriga o tripa humano, incansável para abrilhantar a festa e gerar
alegria.
- Celina, o que é o tripa humano do
boi? Perguntou Rodolfo, na sua incansável descoberta de coisas típicas de
Parintins.
- É o homem que fica dentro do
animal e é responsável pela evolução e dança do boi. São pessoas especiais,
treinadas exaustivamente para carregar o peso e aguentar o calor, que faz dentro
da carcaça do boi. Esses homens estão nessa profissão, podemos chamar assim,
que vem de pai para filho e orgulhosamente abraçam essa carga, para ajudar a
comunidade e dar brilho a apresentação do seu grupo.
-
E, o que é a cunhã-poranga? Eu nunca tinha ouvido falar nesse nome até hoje.
Disse o rapaz, muito interessado.
A moça sorriu e falou:
-
Cunhã-poranga é a moça mais bonita da aldeia indígena, aquela que seduz quem
chega perto. Pode ser a chefe indígena ou a mulher do cacique. Ela se apresenta
vestida como uma representante da aldeia, com muitos acessórios artesanais,
penas e peles de animais.
Rodolfo
e Lorena estavam encantados com toda aquela festa. A moça era de Manaus, mas
estava em Parintins pela primeira vez e aquele cenário servia para embalar seu
novo amor. Os dois turistas estavam apaixonados e viviam o amor em um ambiente
cheio de magia.
As apresentações ocorreram em clima de muita
animação e as horas passaram sem que eles percebessem. Quando terminou,
ouviu-se aplausos por mais de cinco minutos, estava aprovada a apresentação do
boi Caprichoso.
Os três amigos estavam felizes e seguiram
para a casa do irmão de Celina, teriam que descansar para assistir, na noite
seguinte, a apresentação do boi Garantido. Eles tinham ingresso, eram pagantes,
mas os nativos que tinham entrada franca, já ficavam na fila para conseguir
ingresso, para o dia seguinte.
O
boi preto com uma estrela azul na testa, não saia da cabeça do rapaz. Dormiu e
sonhou com o boi dançando. A festa foi incrível, para nunca mais esquecer, mas
ainda não tinham visto tudo.
- Amanhã veremos a apresentação
do vermelho, será a apresentação do boi Garantido. Então teremos definido o
ganhador do prêmio de Parintins. Celina disse sorrindo, sabia que muita coisa
boa, ainda estava por vir.
- A apresentação do Caprichoso
foi maravilhosa, será que o contrário vai conseguir superar? Disse Rodolfo
emocionado.
- Eu sou do boi Caprichoso, completou Lorena. Se aconchegando ao namorado.
O dia passou rápido e quando a
noite chegou, os três companheiros estavam aguardando a entrada do boi
Garantido. Nessa noite, era o vermelho que imperava e o azul deveria ficar
calado. Os três estavam vestidos com roupas neutras, pois queriam desfrutar da
apresentação do contrário e aplaudi-lo também.
Depois de montado o enorme carro
alegórico e todas as peças colocadas em seus lugares, a música começou a tocar. Depois, com um acorde forte a música parou e para surpresa de
todos, saiu de dentro do carro alegórico, o boi do Garantido pulando alegremente. Era um boi faceiro, tinha o
corpo todo branco com um coração vermelho na testa.
As duas moças ficaram
encantadas com as evoluções e danças do boi Garantido. Então, Lorena falou:
- Meu coração está dividido, até
o final da apresentação eu decido se sou Caprichoso ou Garantido.
Todos sorriram, viviam o mesmo dilema.
De fato, era difícil tomar partido.
Um texto de Eva Ibrahim
Sousa.
Com consultas a Wikipédia e ao Youtube