BATE
CORAÇÃO!
CAPÍTULO
SEIS
Logo depois do almoço, Celina, o
irmão, a cunhada e os dois amigos, foram para a fila do Bumbódromo. Uma fila
enorme debaixo de um Sol escaldante, no entanto, as pessoas não reclamavam,
queriam garantir um bom lugar, para assistir o evento teatral. No estádio havia
trinta e cinco mil lugares, mas somente cerca de cinco mil eram pagantes, o
restante era composto da torcida dos dois grupos de bois, que tinham entrada
franca.
Os cinco torcedores do boi
Caprichoso foram abrindo caminho até o local de destino, nas arquibancadas.
Rodolfo abraçado com Lorena conseguiu um bom lugar, logo chegava o restante do
grupo. Levavam água e salgadinhos, pois pretendiam assistir a tudo que
acontecesse naquele local. Estavam vestidos a caráter, com camisetas azuis, cocares,
braçadeiras, bandeiras nas mãos e muita energia para gastar. Era dia de festa e
a alegria imperava no local.
Por sorteio, a primeira apresentação seria do
boi Caprichoso, o grupo estava empolgado para adentrar ao palco. Na arena do Bumbódromo iniciou-se a
apresentação do boi da cor azul, o grupo contava com mais de mil participantes,
carros alegóricos, fantasias, dançarinos, ritmistas e outros.
O duelo da primeira noite do
desafio iria começar. A apresentação dura cerca de duas horas e meia em céu
aberto; todos torcem para não chover, ou a festa ficará arruinada. Depois,
ainda haverá a apresentação do Garantido, o boi da cor vermelha.
A arquibancada do boi que está
se apresentando pode se manifestar com aplausos, gritos e movimentos espontâneos,
enquanto a arquibancada do contrário deve ficar no escuro e calada. Se houver
qualquer tipo de manifestação do contrário, o grupo será penalizado com a perda
de pontos. É um respeito admirável, que existe entre as duas agremiações. Não
são inimigos, apenas adversários no duelo dos bumbás.
Entre beijos e abraços, Rodolfo
sussurrou para Lorena:
- Nunca vou esquecer desse
momento mágico, estou muito feliz.
Ela sorriu e se aconchegou a ele
dizendo:
- Eu te amo, estamos vivendo um
grande amor no paraíso.
Na arena é contada uma
história envolvente sobre a floresta e suas lendas, mas a figura principal é o
boi, que nesse caso, tem uma indumentária preta com uma estrela azul na testa.
A apresentação possui um enredo e se desenvolve como uma peça teatral, com
personagens definidos.
O carro alegórico trazia um enorme
boi preto, símbolo do Caprichoso, que imperava sobre todos, com uma estrela azul na testa. Ele
chacoalhava a cabeça e o público aplaudia gritando:
- Já ganhou, já ganhou!
De seu enorme carro alegórico saem
alguns personagens, que atuam contando a história. No fundo, a bateria rítmica
dá sustentação ao levantador de toadas, cantadas durante todo o tempo da
apresentação. O público referente ao boi apresentado acompanha a evolução do
tema, com muita animação. Nesse momento o apresentador anuncia, que em primeiro
lugar haverá a encenação do auto do boi.
Rodolfo ficou curioso e perguntou
para Celina:
- O que quer dizer o auto do
boi?
- É o acontecimento que deu
início a toda essa veneração ao boi bumbá. Você vai gostar! A moça respondeu
com um sorriso no rosto.
O rapaz trocou um beijo com sua
namorada, estava pronto para admirar aquela festa do folclore amazonense.
Então, o apresentador passa a contar
a história do boi.
- Em uma grande fazenda de gado
havia um boi valente e altivo, era o melhor e mais valioso animal daquelas
bandas. O seu dono tinha o maior cuidado com ele e já havia recusado várias
ofertas de venda.
Enquanto isso no palco, o boi que
dançava alegremente, era de tamanho real. Corria para todos os lados em meio as
dançarinas e cavaleiros presentes.
– Mas, o capataz da fazenda
estava em apuros, sua esposa engravidara
e tinha um desejo incontrolável, de comer a língua daquele boi. Nada fazia a gestante
desistir daquela ideia. O marido já estava preocupado, pois a mulher definhava
a olhos vistos. Então, em um momento de loucura, ele pegou a espingarda e
atirou no boi. Quando o animal caiu, o capataz pegou uma faca e arrancou a
língua dele, levando-a para sua mulher grávida.
A plateia se cala, o boi está
morto, caído na arena. O apresentador continua a contar o auto do boi. O enorme
foco de luz fica centrado no animal inerte.
- O fazendeiro queria acabar com a
vida do seu empregado. Este se desespera arrependido e sai à procura de ajuda,
precisa reviver o animal. Todas as benzedeiras das redondezas correm em socorro
do pobre homem, mas nada devolve a vida ao boi. Somente quando chega o pajé e
inicia suas danças com ervas milagrosas, renasce as esperanças.
O público observa atentamente qualquer movimento do animal.
O público observa atentamente qualquer movimento do animal.
- Algum tempo se passou e diante da
expectativa da plateia, o boi deu sinal de vida. Ele começou a mexer os olhos e
depois lentamente se levantou. Houve um grande suspiro de alívio na plateia e
debaixo de muitos aplausos, o boi começou a dançar.
A plateia foi ao delírio, era
muita emoção, e quando Rodolfo olhou para Lorena, ela estava chorando.
- O boi voltou à vida, por isso a festa
continua. Disse o apresentador.
De repente, surge um homem voador
sobre um aparelho estranho e dá uma rasante no centro da arena. A plateia
silenciou por um momento e, em seguida rompeu em aplausos contínuos. Muitos
outros efeitos especiais são presenciados de tempos em tempos, na arena do Bumbódromo. A história se
desenrola sob os versos temáticos das músicas cantadas e da plateia animada. Enquanto isso, o contrário se cala
na escuridão, a espera de sua vez de delirar.
Rodolfo e Lorena se beijam,
aquele é um lugar para curtir a emoção, onde o coração bate forte e a alegria
contagia.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa
Consultas a Wikipédia
e ao Youtube