BELEZA
PURA
A
DECISÃO
CAPÍTULO
UM
O calor castigava toda aquela região
e, debaixo de um Sol escaldante Clara desceu do automóvel com um pacote nas
mãos, trazia pães, presunto e queijo para o café da tarde. Ela tinha três
filhos, Ana, Celso e Valentina, com diferença de um ano cada um. A convivência
das crianças se tornou difícil, a partir do momento em que a caçula passou a
engordar exageradamente. Os dois maiores estavam na piscina e Valentina, amuada,
deitada no chão.
Ana era uma menina linda, magra,
loura e Celso um garoto comum, magro de grandes olhos verdes, porém, Valentina
era a mais morena, olhos castanhos e rechonchuda; a beleza passara longe dela,
diziam as más línguas. Porém, ela parecia não se importar, até que começou a se
mostrar rebelde na escola e briguenta em sua casa. Se vestia igual aos meninos,
nunca queria por um vestido ou um biquíni, por mais que Clara insistisse.
Com os cabelos desgrenhados, a
menina adentrou a porta da cozinha e sem lavar as mãos pegou um pão do pacote
que a mãe colocara sobre a mesa. Clara gritou com ela, que saiu chutando a
porta. Rui, o pai, entrou perguntando o que havia acontecido ali e depois de se
assuntar do ocorrido, foi pegar as mãos de sua menina e a trouxe de volta para
comer; ele era se defensor. Rui nutria um carinho especial pela filha, que lhe
inspirava cuidados.
Valentina comeu um pão, dois e no
terceiro a mãe ficou brava novamente; iria se transformar em uma bola se não
parasse de comer daquele jeito. Todos os dias havia brigas naquela casa por
causa da gula da menina.
E, com o passar dos meses ela se tornou
uma adolescente obesa, estava com cento e quinze quilos. Cada dia mais
relaxada, mais rebelde e comendo desesperadamente. A mãe tentou leva-la ao
psicólogo e à nutricionista, porém, sem sucesso. Certo dia, Valentina chegou da
escola suja, com as vestes rasgadas e sangrando no lábio superior. Sua mãe não
teve dúvidas, partiu para cima dela e a agrediu gritando:
- Você
só me faz passar vergonha, eu não aguento mais. Depois foi para o quarto chorando.
Clara estava decepcionada com a vida.
Valentina não respondeu, entrou em seu
quarto e se jogou na cama chorando, a mãe não gostava dela, iria se matar. A
decisão fora tomada; ela queria que sua família sofresse de remorsos,
principalmente sua mãe, que vivia dando broncas nela.
Quando
todos foram dormir, ela foi até o armário onde sua mãe guardava os remédios e
pegou duas cartelas com comprimidos.
- Aqueles deveriam servir. Pensou entre
lágrimas.
Não se deu ao trabalho de ler o nome deles, qualquer um servia. Tomou
todos com coca cola e depois foi se deitar para esperar a morte chegar.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua
na próxima semana.