O ENCONTRO
CAPÍTULO
TREZE
A
sogra foi pegar um litro de álcool para esfregar nos pulsos e dar para a mãe de
sua nora cheirar. Após longos minutos a mulher abriu os olhos e quando se deu
conta da realidade, começou a chorar. Em seguida, Celina pegou um copo com água
para sua mãe se acalmar; precisava saber o teor do telefonema.
Com
as mãos cobrindo os olhos de onde corriam lágrimas de horror, a mulher disse
que o genro estava morto. Então, as outras duas mulheres se abraçaram e gemeram
juntas. Uma perdera o marido e a outra o filho, era muita dor naqueles
corações. Logo depois, os pais e irmão chegaram para amparar aquelas mulheres
aflitas.
As
três choravam sua dor com pequenos gemidos e soluços contidos, estavam
desoladas. Entretanto, em um momento de lucidez a mãe do rapaz quis saber como
ele morrera e onde estava o corpo. O pai de Celina abraçou a filha e sentou-se
com a moça no sofá, enquanto a mãe do rapaz esfregava as mãos de ansiedade, o
homem começou a contar a pior parte.
Fernando
se suicidara e fora encontrado no depósito dos fundos da serralheria do tio
Nélio, irmão da mãe de Celina. Estava
muito perto e ninguém pensou em procurar ali, foi um funcionário da firma que
encontrou o rapaz quando foi pegar as ferramentas, para iniciar os trabalhos na
segunda feira.
A
polícia estava preservando o local à espera do carro do Instituto Médico Legal.
Demorou uma hora para o veículo encostar ali na frente, onde já havia uma
aglomeração de pessoas curiosas. Depois das fotos e primeira avaliação, o corpo
fora levado para a autópsia e só seria liberado no final da tarde. Celina
queria ir até lá, porém, seu pai disse que a área estava isolada aguardando os
peritos.
A
moça chorando, perguntou como ele fizera aquilo e seu pai respondeu que havia
uma embalagem de veneno para ratos ao lado do corpo. Estava lá já fazia algum tempo,
pois o corpo estava inchado e o local cheirando mal. A filha deveria ser forte,
porque o corpo de Fernando voltaria em caixão lacrado, devido ao estado de
decomposição que se apresentava.
Celina
não queria ver ninguém, entretanto, a cada pouco chegavam os parentes e amigos.
Ela queria sumir dali e depois de tomar um calmante, que seu pai lhe deu, se
isolou no quarto trancando a porta com chave. Deitada na cama chorou até os
olhos ficarem inchados, depois adormeceu. A viúva perdera a noção do tempo,
somente voltou à realidade quando seu irmão bateu na porta chamando pelo seu
nome. Celso trazia o laudo do IML nas mãos e leu para sua irmã.
O
laudo médico dizia que fazia, pelo menos, três dias que ele estava morto, isto
é, sexta-feira, sábado e domingo. E a causa da morte foi envenenamento por
raticida. Acabava ali o sonho de amor de Celina, agora começava o pesadelo; o
velório e o enterro do corpo de seu amado.
Quando a moça foi pegar os
documentos do marido para seu irmão providenciar o enterro, ela encontrou uma
folha de papel dobrada dentro da carteira. Celina abriu e leu a carta que era
para ela. Fernando dizia que a amava muito e não queria que ficasse presa a um
homem enfermo. Estava desanimado com sua doença e a vida perdera o encanto, por
isso preferia deixar este mundo. Lhe pedia perdão e a seus pais também. Que ela
prosseguisse sua vida e procurasse ser feliz.
Não havia assinatura e parecia inacabada, era tudo que sobrara de seu
amor; um pedaço de papel.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.