DE VOLTA PARA CASA
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO OITO
O domingo chegou rapidamente e a
família pegou a jardineira para retornar ao lar. Os irmãos de Benjamim adoraram
o passeio, na verdade, foi a primeira viagem de jardineira que fizeram na vida.
Sábado à noite, os pais e os dois
filhos caminharam pelo centro da cidade e ficaram extasiados com os prédios, as
luzes, o movimento de pessoas e veículos. Não se cansavam em admirar as luzes, que piscavam em anúncios coloridos em toda a extensão das avenidas.
Para eles, que moravam na roça,
tudo era novidade, a cidade, a igreja matriz, o cinema, as escolas, os jardins,
os parques, tudo muito grandioso. Dirceu fez questão de mostrar um pouco da
cidade grande para os filhos; não sabia quando teria nova oportunidade.
Mas, o que mais chamou a atenção dos adolescentes, foram as lambretas,
muito em moda na época. Rui e Marília ficaram extasiados ao vê-las passar
correndo por eles.
Entretanto, no semblante da mãe
havia uma ruga de preocupação, que teimava em vincar na carne. O pai também
trazia no coração uma dúvida crescente.
– Será que o Benjamim, ao voltar
para casa, vai sentir a diferença gritante, que há entre a vida simples da roça
e os luxos que o tal médico lhe proporcionou? Até que ponto ele fora
contaminado com as novidades? Colocou o pai, apreensivo.
Na verdade, os dois
perceberam que havia no ar uma sensação de perda do filho, para alguma coisa
nova e que tinha pouca explicação. Muitas perguntas pairavam no ar, que
martelavam na cabeça do casal. Então, Teresa soltou a pergunta, que a estava
sufocando:
- Por que um homem tão poderoso se
interessara por um menino pobre da roça? Qual será sua real intenção? Estou
preocupada homem!
- Sim, você tem razão, na próxima
visita vou conversar com o doutor Catena.
Depois, Dirceu se fechou, aquela
história o deixava nervoso, não sabia direito como agir sem prejudicar o filho.
Nunca estivera em uma situação tão difícil, não sabia se era boa ou ruim a
afeição do médico para com o Benjamim.
Mais
dez dias se passaram e logo após o almoço, uma ambulância adentrou a porteira
do sítio. Nela estavam um enfermeiro, o motorista e o paciente Benjamim.
O veículo trazia o menino de volta para casa;
fora liberado para passar o Natal com a família. Trazia consigo uma mochila com todos os
presentes que ganhara no hospital e uma pasta cheia de recomendações médicas a
serem seguidas. Tinha, inclusive medicamentos para tomar durante sua
permanência ali.
Teresa
ficou feliz ao receber o filho de volta, seu Natal estava salvo. Quando Dirceu
chegou, também ficou entusiasmado com a volta do menino. Faltava apenas uma
semana para o Natal e todos ficaram felizes com a família reunida.
Benjamim
contou que o Dr. Olavo Catena fora viajar e dissera, que achava justo ele
passar as festas com sua família. Trazia consigo uma carta orientando a sua
reinternação no início de janeiro.
O
paciente tinha várias restrições, sua perna estava imobilizada com gesso, mas
no local da fratura havia uma abertura onde deveriam trocar o curativo. A
fratura estava se consolidando, mas havia sinais de infecção. Por isso, todas
as recomendações e os antibióticos para serem tomados em horários
pré-determinados.
A mulher franziu a testa, nada sabia sobre cuidados de enfermagem, remédios e curativos. Na roça os cuidados se resumiam a água, sabão, mercúrio-cromo ou merthiolate. Teresa sentia medo em mexer na perna de Benjamim, precisava de ajuda urgentemente.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa