NA ESTANTE
CAPÍTULO QUATRO
Lorena
se atirou aos pés de Anselmo, chorou, esperneou, mas nada adiantou, ele estava
determinado; se ela insistisse ele a abandonaria e adeus ao namoro. Teriam que
amadurecer a ideia para, então, depois pensarem em noivado.
-
Era muito cedo para um compromisso tão sério, afirmou o rapaz com convicção.
O
encontro terminou em lágrimas e com o rapaz saindo abruptamente. A moça,
desesperada, adentrou ao seu quarto com muita raiva no coração, pela decepção
sofrida. Não queria falar com ninguém e se jogou na cama; estava em prantos.
Depois
de muitas lágrimas ela lembrou-se da galinha e pegando-a com raiva disse que a
culpa era dela, que não fizera o serviço direito, isto é: não protegera o seu
namoro como devia. Em seguida, pensou em jogá-la na lata do lixo, porém, achou
melhor lhe dar uma chance; poderia precisar dela posteriormente.
A
galinha teria um castigo até que o Anselmo fizesse as pazes com ela. Pensou e
resolveu coloca-la na estante até a sua situação melhorar, estava muito magoada
para deixa-la em seu lugar de honra.
–
Vai ficar abandonada entre os livros esquecidos na estante, assim aprenderá a
cuidar melhor dos interesses de sua dona.
E,
com ar vitorioso voltou para a cama, estava vingada. Acordou no dia seguinte
com os olhos inchados, os cabelos eriçados e uma grande dor de cabeça. Quando
olhou para o espelho, quase desmaiou, estava horrível; ninguém poderia vê-la
daquele jeito.
Correu
para o chuveiro para tentar melhorar sua aparência. Amenizou apenas, as marcas da noite mal dormida
continuaram em seu rosto; demoraria dias para voltar ao normal.
A
galinha continuava jogada entre os livros esquecidos na estante, era seu
castigo.
- Que espécie de amuleto era aquele que não a
protegera da decepção? Pensava Lorena, desconfiada.
A moça estava visivelmente magoada com tudo e
com todos. O dia se foi lentamente e quando a noite chegou ela resolveu ligar
para o Anselmo, que não dera sinal de vida durante todo o dia. Ele atendeu
secamente e disse que tinha combinado jogo com os amigos e não poderia
encontrá-la.
Lorena
ficou furiosa, pois ele estava frio e distante, então pensou que era coisa da
galinha. Foi até a estante e a chacoalhou gritando furiosa:
-
Se o Anselmo não retornar para mim eu vou coloca-la na lata do lixo.
Em
seguida a jogou sobre os livros, deixando-a caída na estante de qualquer jeito.
Depois, a moça deu-lhe as costas e saiu pisando duro. Pelo jeito a galinha
ficaria ali por muito tempo, pois o Anselmo não queria saber de noivado tão
cedo.
Atribuir
poder a um objeto e depois cobrar dele atitudes, faz parte de mentes crédulas
no invisível.
Um
texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.