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terça-feira, 23 de março de 2021

" SE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO PENSAMENTO DO SEU DIA FOR PARA ESSA PESSOA, SE A VONTADE DE FICAR JUNTOS CHEGA A APERTAR O CORAÇÃO, É O AMOR!" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE


           RUMO AO DESERTO

              CAPÍTULO SETE
      Para piorar o quadro melancólico em que Tereza estava inserida, o tempo fechou. Caiu uma chuva forte, seguida de muitos ventos. Em consequência disso, podia-se constatar quedas de árvores e alagamentos por toda a cidade.
     
      Mãe e filha seguiram para o hospital, mais precisamente, para o Pronto Socorro, ali aconteceria a internação de Tereza, por indicação dos residentes da cardiologia. 

      Infelizmente, naquele local, puderam constatar a veracidade das reclamações que o povo, em geral, fazia contra o atendimento oferecido ao público.

      Um local rústico, com cadeiras insuficientes, que abrigava cerca de cinquenta pessoas. Todas aguardando uma triagem para definir o atendimento, depois de fazer a ficha. A espera era longa e indefinida. Essa situação ocorria  em uma entrada junto à  via de acesso.

     Naquele dia estava chovendo, de vez em quando a chuva apertava e molhava as cadeiras das primeiras filas, fazendo com que as pessoas se amontoassem no fundo. 

      O banheiro ficava distante uns cinquenta metros, dentro de um container pouco iluminado. Com chuva era de  difícil acesso, todos reclamavam.

      Naquele recinto, havia algumas pessoas em cadeiras de rodas, uma moça que andava de um lado para outro, com uma toalha suja de sangue enrolada no braço, apoiando com a outra mão enquanto chorava. Dos seus olhos escorriam lágrimas pelo rosto aflito. Parecia ter sofrido um acidente e  aguardava, ansiosamente, pelo atendimento. 

      Em destaque, notava-se uma menina de cerca de dez anos, muito magra, com náuseas,  que não parava de chorar e a mãe, nervosa, tentava acalma-la. Ali, havia, também, uma senhora idosa aguardando internação, que discutia com o filho, que parecia estressado.   
    
       A todo momento chegavam mais pessoas com ambulâncias de cidades vizinhas, outras com o serviço de atendimento móvel de urgência, SAMU, e algumas com o carro dos bombeiros. 

       Observaram, também, que muitos chegavam em veículos particulares. Os acidentados, com gravidade, vinham de helicóptero. Havia, também, uma porção de pessoas que chegavam a pé, usuários do transporte público. Todos passavam por ali, aquela era a única entrada para o PS.
   
       Na porta de acesso ao interior e aos guichês  ficavam dois guardas, sendo que um deles se postava sentado em uma cadeira e quando alguém se aproximava ele esticava a perna, travando qualquer investida ao interior, no qual ficava o guichê.

      Ali estava estabelecida uma situação caótica, na qual era impossível ter acesso a qualquer informação. A única coisa que diziam era: " Tem que aguardar" 

      Do lado de fora dava para ver, que no interior havia muita gente em macas e cadeiras, era uma lotação além do razoável. 

      Nesse contexto chegaram Tereza e sua filha, que ao dizer para a enfermeira, que estavam ali para uma internação de Cardiologia, foram recebidas com ironia.

      - "Que internação? Aqui não é lugar para internação eletiva". Disse com ar desafiador.

     - É urgência, foram os residentes da cardiologia que nos mandaram vir aqui. Argumentaram.

     Então, houve uma risada sarcástica, com a qual, a referida enfermeira concluiu: -"Eles dizem isso para todos, vão ter que aguardar."

      As duas mulheres chegaram as quatorze horas naquele local e durante o restante da tarde insistiram varias vezes para saber o motivo da demora e a resposta era a seguinte:   "Estão vendo seu  caso."
       
      Ficaram durante sete horas esperando serem chamadas para um atendimento. Já passava das vinte e  três horas, quando o guarda da noite deixou Tereza entrar, para falar com a enfermeira. 

      Essa profissional era bem receptiva, uma estrela na escuridão. Com simpatia disse que iria tomar providências. Realmente, fez contato com a Unidade Coronariana e pediu para o enfermeiro  receber a mulher, que estava cansada e passando mal. 

      A paciente foi conduzida  
 de cadeira de rodas para a UTI, já era quase meia noite. Precisava descansar depois de uma longa espera e sua filha, então, pode voltar para casa. 

      E quando o residente apareceu para o primeiro contato, disse que fora informado de que a paciente, que ele estava aguardando,  tinha ido embora. 

      Essa foi a mais cruel mentira proferida por pessoas insensíveis, para prejudicar alguém debilitada, que estava  precisando de ajuda.

      Naquele local foram encontradas pessoas alheias  ao sofrimento humano. 

     O desgaste foi grande e a realidade chocante. Com certeza, aquele foi um dia para ser esquecido para sempre.

      Na unidade Coronariana, Tereza foi bem recebida por um enfermeiro e um técnico de enfermagem.  

      Pela primeira vez na vida, a mulher estava internada em uma unidade de terapia intensiva. Sentia-se amarrada com tantos fios conectados ao seu peito. 

      Recebeu uma punção venosa na mão esquerda com uma torneirinha, que enroscava nos lençóis e cada vez que isso ocorria, a mulher gemia. 

      O enfermeiro chegou e disse para a paciente, que ela estava em repouso absoluto. Essa palavra fez a mulher tremer.

      - Como assim? Xixi na comadre? Cocô na comadre?

 Não vou suportar. Disse Tereza assustada. Parecia um pesadelo a que ela estava sendo submetida. 

      O restante da noite foi de pequenos pedaços de sonos cheios de pesadelos. O dia amanheceu e  começou  a jornada de Tereza rumo ao seu deserto. 

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 17 de março de 2021

"O MUNDO É UM ESPELHO QUE DEVOLVE A CADA PESSOA O REFLEXO DE SEUS PRÓPRIOS PENSAMENTOS. A MANEIRA COMO VOCÊ ENCARA A VIDA É QUE FAZ TODA A DIFERENÇA." LUÍS FERNANDO VERISSIMO

              
                 A MÁSCARA
 
  

  
            CAPÍTULO SEIS
  
      Os dias perderam o brilho, apesar do Sol intenso, pareciam escuros. Tereza andava como se tivesse uma espada sobre sua cabeça,  pronta a decepa-la. 
  

      Mantinha todos os seus medos confinados no lugar mais profundo do seu coração. Para o mundo, havia criado uma personagem cheia de vida e força, disposta a enfrentar tudo o que viesse pela frente. Uma máscara protetora.
   

     A mulher permaneceu em sua casa, aguardando o dia marcado para a consulta em seu setor de apoio à saúde. Sentia que havia muitas dúvidas, que precisavam ser esclarecidas. Sabia que somente a cardiologista tinha condições de esmiuçar o seu caso.
      

      O dia marcado chegou e Tereza se dirigiu ao local indicado. Aguardou na sala de espera e quando foi chamada, subiu dois lances de escadas. Chegou ao 
Consultório ofegante e  mal conseguia falar.
 Demonstrou o seu pior lado para a cardiologista,  que a tratou com carinho.
  
  
     Depois de verificar  os exames e cumprir o protocolo de uma consulta cardíaca,  a conversa foi dura e  incisiva. A médica, preocupada, disse:
  
 
     -Você é a paciente ideal para fazer duas pontes de safena e uma mamária, assim poderá viver mais trinta anos.
  
  
     Tereza riu e  completou: 
 

     - Bastam mais dez, quero ver meus netos  casarem.
   
 
     A paciente saiu dali com uma porção de exames agendados: exames de sangue, urina, ecografia da carotida, além de um encaminhamento para o hospital de referência da região, seu local de trabalho.  
   
 
      Foram tantas informações se confirmando, que ficou desenhado um quadro típico de doença coronariana e  pouco restou para questionar.

      A mulher voltou para casa, com uma sensação de caminhar para um poço sem fundo, sem alternativas para evitar a queda. 
    
  
      Descansou no final de semana e na terça-feira foi, juntamente com sua filha, entregar o encaminhamento no ambulatório de Cardiologia do referido hospital. 


       A atendente mandou voltar na sexta-feira de manhã, pois ali aconteceria a reunião da Cardiologia, na qual decidiriam se aceitavam o caso ou não. 
     

       Mais alguns dias se passaram e novamente estavam ali, mãe e filha.

       O encaminhamento foi levado para a reunião e logo veio a notícia  para ir a outro local e fazer os procedimentos de praxe, para a admissão no sistema  informatizado.  
  
 
      A mulher,  que era funcionária do local, já  tinha registro anterior e ficou para ser atendida em outra consulta. 
   
 
       A consulta foi realizada por um residente e logo veio outro e mais outra, desta vez uma residente cheia de pose. Todos foram incisivos:
     

 - O professor  mandou internar a paciente imediatamente, pois, corre risco de morte iminente.  
 

     Tereza ficou pálida e  resmungou: 
   

      - Não,  eu não  posso ficar agora, preciso ir até  minha casa e pegar minhas coisas. 
 

     - De jeito nenhum,  a senhora  pode morrer no caminho. Assim houve uma discussão acalorada. A paciente passou mal e começou a tremer. 
   

      - Vocês estão me assustando e pressionando, vou até minha casa e no final da tarde estarei de volta para internar.
    

     A residente mais eloquente a ameaçava com a perda da vaga, dizia que teria que entrar pelo  Pronto  Socorro, se não internasse naquela hora e tudo seria mais difícil. 
  
  
      Mesmo assim, Tereza foi até  sua casa para retornar mais tarde.
     

      A tristeza tomou conta de seus sentimentos, estava apavorada e com a sensação que iria morrer. Não sentiu os trinta e cinco quilômetros percorridos e quando adentrou à sua casa, queria se esconder e desaparecer.
     

     Entrou em seu quarto e  quedou-se no vaso sanitário, ali abriu o compartimento mais profundo do seu coração. No qual, depositou mais uma carga de temores e frustrações.    
 
     Depois, desabou em lágrimas por um longo tempo. Somente voltou à realidade quando sua filha bateu na porta. A moça, aflita, perguntou se estava tudo bem. 
  
   
      A mulher lavou o rosto, passou um batom vermelho, colocou seus óculos escuros, pegou sua máscara de mulher  forte, que estava depositada sobre a cômoda e colocou de volta no rosto sofrido. 

      Em seguida, abrindo a porta disse:

       - Estou pronta, vamos.

      Assim, saíram rumo ao seu deserto.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


quarta-feira, 10 de março de 2021

"NÃO, MEU CORAÇÃO NÃO É MAIOR QUE O MUNDO. É MUITO MENOR. NELE NÃO CABEM NEM AS MINHAS DORES. " CARLOS DRUMOND DE ANDRADE



O ESPELHO DA VIDA

 CAPÍTULO CINCO 
    
      A mulher trazia no peito uma angústia, que a oprimia e deixava tudo escuro ao seu redor. Não quis jantar, não sentia fome, estava com muito medo de tudo aquilo. O jeito era dormir e esquecer os últimos acontecimentos, no entanto, a noite foi cheia de pesadelos.

 As palavras do médico calaram fundo em seu íntimo e a deixaram inquieta. Por tudo que havia pesquisado, ela sabia que seu caso era grave. Pressentia que estava prestes a viver dias terríveis. Enfrentar a verdade que durante tanto tempo tentou camuflar,  a deixava triste e desolada.
 
        O dia amanheceu e  Tereza foi de encontro ao temido exame de esteira. Foi colocada  no aparelho e o teste de esforço foi iniciado.  A medida que o exame se desenvolvia a mulher sentia as pernas pesadas, pareciam ter cinquenta quilos cada uma; chegou a pedir para parar, tamanho foi o esforço dispendido.

      A cardiologista que fez o exame ficou assustada e disse à paciente que seria necessário repouso, enquanto aguardava a ecografia, que estava marcada para o dia seguinte. A mulher saiu dali sentindo que o cerco se fechava ao seu redor.

      No dia seguinte, ela voltou  à clínica para fazer o exame de ecografia e o diagnóstico foi: insuficiência Mitral leve. 

      De volta ao consultório, o médico disse que havia indicação de fazer o exame de cateterismo, para fechar diagnóstico. Disse também, que ela estava certa em seu diagnóstico precoce, era, verdadeiramente, um quadro de Angina estável.

      O cateterismo foi realizado no Hospital do Coração e o diagnóstico foi o seguinte: três artérias coronárias entupidas, sendo que o tronco estava comprometido também, deixando o caso mais grave, pois sua função é mandar sangue para todos os outros órgãos. 

      O médico responsável pelo exame fez o diagnóstico e indicou cirurgia,  mais precisamente duas pontes de Safena e uma mamária. 
      Tereza ficou pálida, teria que se submeter a uma cirurgia de peito aberto e isso era mais que um pesadelo,  era uma situação indesejável, que a deixava prostrada.

      Essa reviravolta na vida da mulher aconteceu em apenas uma semana e quando retornou ao consultório médico, viu desenhado seus próximos passos.

      A paciente saiu dali com vários papéis nas mãos. Atestado para permanecer em repouso, receitas e  encaminhamento para o serviço de apoio do seu trabalho e muito medo no coração. 

      Entrou em seu automóvel como se fosse um robô,  parecia flutuar dentro de uma nuvem negra pesada.
Tudo o que mais temia estava projetado em seu futuro próximo.

      Como um automato entrou em seu quarto, fechou a porta com a chave e foi até o espelho. Olhando a figura ali projetada, sentiu pena de si mesma.

     - Onde estaria a guerreira, que enfrentava um leão por dia? 
Naquele momento mais parecia uma fera domada e acuada pelos próprios medos.

      A mulher, pálida, desfigurada, levou a mão ao coração, que batia desesperadamente, parecia pedir socorro, antes de sua falência.  Seus lábios apertados mantinham os dentes em riste, demonstrando uma situação limite.

      O espelho refletia uma figura tomada pela raiva de tudo aquilo. O seu lado frágil estava aflorado, então, as lágrimas caíram inundando seu rosto e salgando sua boca.

      Tereza sentou -se no vaso sanitário e colocando a toalha no rosto permitiu que o mundo desabasse sobre ela.

      Ficou ali por um longo tempo,  estava sozinha em sua casa. Depois, seu instinto de preservação falou mais alto e ela entrou debaixo do chuveiro com roupa e tudo.

      A água quente lavou suas lágrimas e acordou a mulher indomável que existia naquele corpo. 

     Quando saiu do quarto, deu de cara com a filha, que acabara de chegar. A moça, preocupada, foi logo perguntando se estava tudo bem. 

      Tereza, então respondeu:

       - Sim, está tudo bem, apenas preciso fazer uma cirurgia de ponte de Safena.

A filha arregalou os olhos e a mãe completou:

       - Não se preocupe, é coisa simples. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

      



 

quarta-feira, 3 de março de 2021

"SE SEU CORPO PRECISA DO MEU, MEU CORAÇÃO PRECISA DO SEU. O NOME DISSO É SAUDADE! VOLTA LOGO QUE SEM VOCÊ, SOU SÓ UMA METADE. O QUE FALTA PARA MIM É VOCÊ!" VINÍCIUS LOBO

                NA BERLINDA

            CAPÍTULO QUATRO
      
       O Natal chegou com todo o seu esplendor, apesar da pandemia, o seu significado permaneceu intacto. Para Tereza a reunião familiar era o ponto alto do feriado natalino. E nesse ano atípico, a reunião aconteceu, com menos pessoas é  verdade, mas todos ficaram felizes. 

      As férias de Tereza se foram com o Natal e o feriado de ano Novo estava despontando no horizonte, era hora de retornar.  

       Assim, a mulher voltou ao trabalho, estava feliz, no entanto, havia toda uma expectativa de mudança de local de trabalho. As férias não conseguiram mudar a sua condição de saúde e ela sabia que estava no limite.  

       Suas dores e ardores continuavam em franca ascensão. A semana passou rápido e, em meio a muitas correrias, as festas de final de ano chegaram ao fim. 

      Tereza olhava o calendário e percebia que tinha um ano inteiro para escrever uma nova história. Esta teria a prioridade de cuidar de sua saúde. A mulher, fragilizada, tinha uma estranha sensação de poder gerenciar novos passos, ou pelo menos, alguns deles.

      Depois de tempos disfarçando os sinais e sintomas que seu corpo dava, resolveu revelar ao seu grupo de trabalho, as  dificuldades físicas, que a atormentavam.

      As colegas de equipe foram compreensivas com a exposição de suas queixas e prontificaram-se a colaborar no que fosse necessário. 

       A mulher, aparentemente saudável, trazia no peito um coração machucado,  literalmente ferido. Uma bomba com suas correias danificadas a ponto de estourar, porém, antes disso iria marcar consulta com o cardiologista. 

      No dia marcado, ela se dirigiu a clínica médica. Com a sensibilidade desenvolvida e a  intuição aguçada, Tereza sabia que havia chegado a hora da verdade. Seu peito ardia em chamas, era necessário uma atitude para acalmar seu chacra cardíaco.

      Trazia no peito um coração sofrido, amargurado, que agora emitia sinais de sofrimento fisico em sua bomba mantenedora da vida. A mulher tinha uma história familiar de mortes por colapso na bomba, em linhagem ascendente próximas. Portanto, era necessário olhar com cuidado para os sinais que recebia.

      O médico era jovem, na faixa dos trinta anos, o que deixou Tereza apreensiva, esperava uma pessoa mais velha. No entanto, ele se dispôs a ouvir suas queixas de maneira respeitosa, com um olhar profundo e atento.

      A paciente começou a falar, disparou com sinais e sintomas cheios de detalhes, aquilo tudo estava preso em sua garganta. Finalmente, Tereza terminou dando seu diagnóstico, encontrado em suas pesquisas.

      0 médico, de nome Pedro, sorriu e se ajeitou na cadeira. Então, demonstrou todo o seu conhecimento, esclarecendo as dúvidas e explicando a necessidade de exames, para confirmar ou não o diagnóstico precoce, encontrado pela profissional de saúde, que era: Angina estável.

      A paciente, então, perguntou:

      - Se nada disso for confirmado,  serei encaminhada ao psiquiatra?

      - Provavelmente, foi a resposta recebida, acompanhada de um sorriso misterioso.

      Depois de um exame físico rotineiro, a paciente ouviu do médico a gravidade de todos aqueles sintomas relatados e saiu dali com três pedidos de exames nas mãos. Esteira para fazer no dia seguinte,  ecografia para dois dias após e o Holter em seguida. 

      A mulher deixou o consultório e caminhou  com a sensação de estar correndo um perigo iminente. Sabia que tudo o que foi dito naquele naquele local, era a mais pura verdade e que estava na berlinda da vida.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"DA OBSERVAÇÃO" "NÃO TE IRRITES, POR MAIS QUE TE FIZEREM. ESTUDA A FRIO, O CORAÇÃO ALHEIO. FARÁS, ASSIM, DO MAL QUE ELES TE QUEREM, TEU MAIS AMÁVEL E SUTIL RECREIO." MÁRIO QUINTANA


           DORES E ARDORES 

             CAPÍTULO TRÊS

      As férias de Tereza, tão sonhadas, chegaram em meio a uma frente fria intensa. Setembro amanheceu gelado e chuvoso, com cara de final de inverno, que só aconteceria na terceira década do mês.

       O tempo fechado pedia aconchego e era tudo o que ela queria, curtir suas férias em casa. Levantar-se cedo, fazer café e degusta-lo em frente à televisão, assistindo o jornal da manhã. Este era um desejo que ela acalentava nos dias de sufoco no trabalho. Estar em casa sem compromisso para sair, já era motivo de satisfação para Tereza. 

      Ela tinha em mente cuidar de sua  casa limpando, organizando e descartando coisas desnecessárias. 
Esses afazeres cotidianos faziam parte de desejos antigos e  fonte de prazer para a mulher trabalhadora, que se queixava de não ter tempo para cuidar de seu lar.

        As vezes, quando fazia um esforço a mais, ela sentia -se cansada com uma sensação ruim dentro do peito. Um ardor sufocante, que pressionava a área cardíaca, deixando o braço esquerdo enfraquecido, a ponto de não poder segurar uma sacolinha com um lanche dentro. 

        Quando isso acontecia, ela precisava parar, sentar-se e esperar melhorar, o que ocorria em alguns minutos. 
Vivendo esse sufoco, a mulher procurou na internet respostas para o que estava sentindo. 

       No YouTube ela encontrou muitos vídeos descrevendo todas aquelas sensações, pressões e ardores dentro do seu peito. Os médicos cardiologistas diziam que era um quadro de Angina estável. Essa condição requer  acompanhamento médico especializado, pois ocorre em um pré infarto. 

       Tereza, então, procurou um cardiologista, que fez um eletrocardiograma e disse, que o resultado do exame estava dentro de padrões normais. 
 Assim, o médico receitou um calmante dizendo que poderia ser cansaço e nervosismo. Em seguida, com um sorriso, orientou observação e retorno se necessário. 

      A mulher voltou ao trabalho, estava relativamente bem, vez ou outra sentia aqueles ardores pressionando seu peito. Tinha a intenção de voltar ao  cardiologista, entretanto, na correria do dia a dia tentava marcar consulta no serviço de apoio de sua empresa e nada conseguia.
       Entre muitas correrias, o tempo foi passando e a vida seguindo seu curso.

      Por ser idosa do grupo de risco para o Covid dezenove, ficava  em alguns plantões no ambulatório, onde o trabalho não exigia grandes esforços físicos. 

      No entanto, nos finais de semana e feriados continuava atuando na porta de entrada, sofrendo com deveres, que não eram compatíveis com sua idade e situação de saúde. 

      Ela tentou argumentar, que por ser idosa não poderia ficar em área exposta ao Covid, inclusive fez um pedido, por escrito, de transferência de setor. Não obteve resposta, nem positiva, nem negativa. Ao questionar diziam que precisava ter laudo médico, para ter alguma mudança em seu trabalho.

      Não houve, em nenhum momento, a sensibilidade de perceber a situação ali estalecida, por algum integrante da equipe de saúde.

      Havia sofrimento em toda aquela situação e ao invés de tomarem alguma providência, resolveram dar o restante das férias da funcionária. 

      Dessa maneira parecia que o problema estaria resolvido. Só que não, a história estava apenas começando. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

"SEM TEMER A PRÓXIMA PORTA OU JANELA QUE IRÁ SE ABRIR, SIGO COM UMA ÚNICA EXPECTATIVA: QUE SEJA BOM O QUE VIER." DIEGO VINÍCIUS

 
                   SEM RUMO 

              CAPÍTULO DOIS
        Aquela situação inusitada deixou a mulher apreensiva, precisava procurar um cardiologista com urgência. As palavras do médico ginecologista ficaram bailando em sua cabeça. "Essa arritmia tem que ser investigada, pode ser alguma coisa séria." 

       Durante vários dias, ela tentou marcar consulta com o médico do serviço de apoio ao funcionário daquela instituição. Depois de muitas tentativas, conseguiu uma data para dali a quarenta dias. Sentia-se bem e resolveu esperar até o dia marcado. 

      O mês de março surgiu, como sempre, quente e chuvoso, fazendo a despedida do verão e das águas trazidas por ele. Um mês poético, as vezes quente demais, as vezes friorento, abrindo caminho para o outono.

       Entretanto, o mundo vivia momentos difíceis, com muitos rumores assustadores sobre um vírus descoberto na China. As notícias diziam que o vírus era portador de uma doença de grande letalidade, que naqueles dias assolavam a Itália. O país estava em choque, com grande número de mortos e doentes graves. 

       Havia uma apreensão geral pelo temor que a doença se espalhasse pelo mundo. O Brasil também estava alerta pela possível chegada do tão repugnante vírus   matador.

        As mídias estavam alertas e quando se teve notícia do primeiro caso no Brasil, foi uma explosão  de reportagens ruins, que geraram muito medo na população. As notícias tomavam conta dos meios de comunicação e eram péssimas. O vírus pipocava, de maneira assustadora, em todos os continentes.

       Com esse cenário destruidor,  aconteceu o que ninguém poderia imaginar, por mais pessimista que fosse. A Organização mundial de saúde decretou um estado de pandemia
 mundial, deixando o mundo de boca aberta.

       Cada país tratou de se organizar para enfrentar a doença letal e desconhecida, trazida pelo vírus.

       No Brasil não foi diferente e diante de uma população estarrecida, resolveram parar tudo, mandando as pessoas ficarem em casa.

       Somente os serviços essenciais poderiam permanecer abertos. A humanidade estava em cheque. Dessa maneira, todas as consultas foram canceladas e Tereza perdeu a oportunidade de se cuidar adequadamente. 

       A mulher continuou seu trabalho, que era essencial, apesar de pertencer ao grupo de risco, não foi dispensada
. Procurou um médico na emergência é este lhe receitou um remédio que mantinha sua frequência cardíaca controlada.

        Os meses foram se sucedendo e as pessoas se adaptando a nova realidade. Nesse cenário ameaçador o  acessório que mudou a paisagem mundial foi a máscara, de uso obrigatório surgiu de todos os tipos e cores nos rostos de toda a população.

       O prejuízo foi geral, todos foram prejudicados de alguma maneira, principalmente na área financeira.

       Mas o tempo não parou e quando Setembro chegou, a pandemia parecia estar sendo controlada. Daí a vida que segue e Tereza tirou férias.

       Durante as férias ela começou a perceber certas limitações, que sentia ao caminhar em terrenos de aclives ou quando fazia algum esforço físico.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

"SE UM DIA VOCÊ TIVER QUE ESCOLHER ENTRE A RAZÃO E CORAÇÃO, ESCOLHA O CORAÇÃO...POIS NÃO É A RAZÃO QUE BATE PRA VOCÊ VIVER!" - PENSADOR.

 

O TRONCO

CORAÇÃO ALADO

         CAPÍTULO UM
     A mulher sentada em seu leito na enfermaria, passava o tempo folheando uma revista, que alguém largou sobre a mesa auxiliar. Havia uma reportagem sobre o meio ambiente, cujo foco principal eram as queimadas e o que restou delas. 
     Uma vasta área cheia de troncos, a maioria torrados e retorcidos pelo fogo, abria a reportagem. Apenas alguns conseguiram ficar inteiros, embora suas folhagens tenham sido consumidas pelo fogo, estes demonstravam força para se recuperar. A mulher coçou a cabeça, aquelas fotos mexiam com seu emocional.
     Tronco, essa palavra presente no dia a dia das pessoas nunca foi destaque, ou teve alguma importância para Tereza. Um substantivo de valor igual a tantos outros. Sempre ao ouvi-lo, nos  conduz e a ela também, a visualização de uma árvore, ou parte dela. Também pode ser lembrado, devido ao contexto da conversa, à  uma parte do corpo humano. No entanto, essa palavra modificou toda a vida dessa pessoa. 
    Uma mulher de setenta  anos, que sempre trabalhou na área da saúde, cuidando dos pacientes com muito carinho, essa é Tereza. Nunca aparentou a sua idade cronológica, é forte e saudável.  Sempre se orgulhou de sua saúde, mas certo dia, o médico cardiologista  pronunciou essa palavra e tudo mudou em sua vida.

    Essa história tem seu início em fevereiro de dois mil é dezenove no local de trabalho de Tereza. Ela estava no banheiro e  quando abriu a porta para sair sentiu uma tontura, em seguida  seu coração disparou. Parecia que seu peito iria explodir.
    Atordoada e surpresa com a situação, a mulher entrou em uma sala vazia e sentou -se, para ver se o seu coração se acalmava. 
    Ele Batia desesperadamente, parecia ter enlouquecido, a sensação era de que aquilo terminaria em morte, tamanha a angústia que gerou. Como não passava ela levantou-se, precisava de ajuda.
    Assustada, saiu dali e foi ao posto de enfermagem. Então Ana, a colega que se encontrava no setor, vendo que Tereza não estava bem, a conduziu até o multiparametrico, queria verificar seus sinais vitais. Assim, ela  constatou que a frequência cardíaca de Tereza estava altíssima, acusando cento e setenta batimentos por minuto. 
    Aquilo era muita coisa para seu pobre coração, que segundo a dona, nem apaixonado estava. Apenas se encontrava carregado de carinho por seus familiares e semelhantes. 
    Apavorada, Ana chamou o médico, que veio prontamente. Depois de certificar-se do que fora informado, ele insistiu para que Tereza se submetesse a um eletrocardiograma. No entanto, ela estava sentindo -se muito mal e se recusou a se deitar, para que o exame fosse feito. 
    Ficou sentada na copa esperando o coração se acalmar. O médico, que era um ginecologista, sem entender muito da situação, fez uma cartinha para que a funcionária procurasse o médico  cardiologista. 
    Em seguida, juntos aguardaram o coração recolher suas asas. Devagarinho seus batimentos cardíacos voltaram ao normal, minimizando a sensação de morte iminente. 
    Seu coração alado pousou lentamente em repouso e se acalmou dentro do peito de Tereza.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

"FOGO E PAIXÃO"- WANDO- "(...) QUANDO TÃO LOUCA, ME BEIJA NA BOCA, ME AMA NO CHÃO. ME SUJA DE CARMIM, ME PÕE NA BOCA O MEL, LOUCA DE AMOR, ME CHAMA DE CÉU." COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS

OLHANDO O RIO

CAPÍTULO SEIS

           O rapaz foi bem recebido pela família de Gilda, pai mãe e irmão. A moça tinha sofrido um trauma com o assalto e precisava de apoio. Pedro dormiu no quarto de Lionel, o irmão mais novo da moça. Conversaram bastante antes de dormir, tinham afinidades. Ele estava feliz por estar tão perto dela, separado apenas por uma parede. Demorou a pegar no sono, estava muito emocionado, não conseguia relaxar.

          Como era verão, não foi surpresa o temporal que caiu à noite. Muitos relâmpagos e trovões ocasionaram a perda da energia elétrica, que perdurou até o amanhecer. Pedro teve pesadelos na escuridão da noite, reviveu todo o assalto, acordou sobressaltado.

           O domingo amanheceu ensolarado e depois do café ficou combinado, que todos iriam almoçar peixe na beira do rio Piracicaba, mais precisamente, na Rua do Porto

            Ao meio dia, a família entrou no automóvel em direção ao restaurante. Margearam o rio, que estava cheio, majestoso, com suas águas barrentas por causa das chuvas dos últimos dias. A rua estava em festa com a fartura de peixes e nas suas margens havia muitos pescadores, com varas, tentando fisgar algum para o almoço.

            O rio, cheio, caminhando revolto sobre seu leito de pedras, enchia os olhos dos turistas ali presentes. A umidade deixada pela chuva, brilhava com o Sol da manhã, dando esplendor à natureza.

             Gilda escolheu um restaurante, que proporcionava a vista do rio de uma maneira panorâmica. Era uma paisagem de encher os olhos pela sua grandeza. A família se acomodou em uma mesa próxima do parapeito protetor, dali podiam ouvir o barulho das águas. Pedro, então levantou-se da mesa e deixando sua timidez de lado, disse:

            - Com todo o respeito que Gilda e todos merecem, eu peço licença para fazer um pedido.

            - Queria pedir permissão para namorar, oficialmente, esta moça bonita, que aqui se encontra. Estou apaixonado por ela, que me encantou com esses lindos olhos verdes.

              A moça corou, não esperava aquela declaração de amor diante da sua família. E como todos os olhares estavam fixados nela, ela se manifestou dizendo:

             - Pedro! Não se usa mais pedir as pessoas em namoro, namora-se simplesmente. Você é jovem e está se comportando como um homem de antigamente. 

               Ele deu um leve sorriso e retrucou:

           - Gilda, eu sou mineiro e gosto das coisas bem claras, fui criado dessa maneira e não quero mudar, você aceita namorar comigo?

            - Para mim, eu já estava namorando, mas eu digo sim, se você preferir.

            Todos riram pela maneira que ela disse isso e concordaram com o rapaz, estava oficializado o namoro.

           Uma enorme travessa com um peixão assado foi colocada no centro da mesa e os acompanhamentos ao redor. Um perfume convidativo saia daquela comida maravilhosa, então, todos se concentraram no consumo do alimento.

            Cerca de quarenta minutos se passaram entre olhares furtivos de um para o outro. O clima era de alegria e o domingo de festa da natureza. Na mesa restou somente a espinha do peixe, que foi servido e degustado com prazer.

          Sentados e satisfeitos ficaram olhando o rio Piracicaba, enquanto esperavam a sobremesa. Um lindo lugar para marcar o início da felicidade do novo casal.

          De mãos dadas, os dois saíram dali, estavam felizes e Pedro não se cansava de olhar nos olhos da sua amada. Eram olhos profundos e brilhantes, como se fossem duas esmeraldas, que o enfeitiçaram para sempre.

 Um Texto de Eva Ibrahim Sousa


 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

"FOGO E PAIXÃO" - WANDO- "(...) VOCÊ É LUZ, É RAIO ESTRELA E LUAR. MANHÃ DE SOL, MEU IAIÁ, MEU IOIÔ. VOCÊ É "SIM" E NUNCA MEU "NÃO". QUANDO TÃO LOUCA ME BEIJA NA BOCA, ME AMA NO CHÃO." COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS.

                   A MARCA QUE ENCANTA

CAPÍTULO CINCO

             Pedro ficou desconsolado até o final da semana, não tinha vontade de trabalhar, pois sabia que Gilda não estaria lá. Os dias pareciam nublados, faltava brilho, animação, na verdade ele estava deprimido. Nunca havia passado por algo parecido, estava completamente apaixonado e seria capaz de fazer loucuras, para estar com sua amada.

            Finalmente, a manhã de sábado surgiu cheia de Sol. Um dia luminoso, que enchia a alma do rapaz de esperança. Naquele momento, encontrar-se com Gilda era a meta de sua vida. Seu coração disparava só em pensar nela, tinha urgência em encontrá-la.

              Pegou o ônibus na rodoviária, que se dirigia à cidade de Piracicaba, estava animado e eufórico, iria se encontrar com seu amor. Ficava imaginando o que diria para os pais dela, teria que ser convincente ao se expor, para pedi-la em namoro. A ansiedade não deixava ele relaxar, seus pensamentos controversos vinham como um temporal, deixando-o aflito.

              Em uma das melhores rodovias do país, o veículo parecia voar, o tempo correu rápido e quando viu, estavam passando ao lado de um rio enorme. O passageiro que estava sentado ao seu lado, disse:

            -  Veja, aí está o famoso rio Piracicaba, cheio de peixes deliciosos.

 Andaram um bom pedaço margeando as águas do rio e foram para a rodoviária.

           Pedro concordou com a cabeça, já tinha ouvido falar nesse Rio. O ônibus parou, os passageiros começaram a descer e para surpresa de Pedro, Gilda estava esperando por ele. O pai da moça aguardava encostado em um pilar do local, distante uns cinco metros do casal.

           O coração do rapaz acelerou, ele se aproximou da amada e lhe deu um beijo no rosto de raspão, a presença do pai o deixava cauteloso. No entanto, sua vontade era agarrá-la e beijá-la muito. Porém, ela estava ferida, não poderia se esquecer desse fato. Depois, dirigiu-se ao pai dela e lhe estendendo a mão, cumprimentou-o.

         Instintivamente, o casal sentou-se no banco de trás, tinham muito que conversar. Parecia que Pedro estivera na guerra por longos meses, tamanha era a ansiedade de ambos. Segurando na mão de Gilda, aquela do braço bom, ele disse:

            - Como você está? Ainda tem dores? Eu estava muito preocupado com você.  Pedro, queria penetrar nos pensamentos dela, tamanha era sua ansiedade em saber.

           - Estou melhor agora, minha cabeça ainda dói, a pancada foi forte, mas no braço não sinto quase nada, está imobilizado. Ela respondeu tranquilizando o rapaz, que não tirava os olhos dela. Os olhos verdes de Gilda brilhavam com uma profundeza, que o hipnotizavam.

          O pai olhava pelo retrovisor e percebia que havia algo muito forte entre os dois jovens. Ali existia carinho e interação nas palavras ditas. Homem experiente, olhou com bons olhos aquele início de relacionamento, daria seu apoio. Pensou com carinho.

              Seu maior desejo era ver a filha feliz e quando ela falou que gostava do colega que havia conhecido, ele percebeu que havia verdade em suas palavras. Porque os olhos de sua menina brilhavam como duas pedras preciosas, era sua marca de sinceridade, desde pequena.

           Chegaram a casa e entraram como um casal de pombinhos, arrulhando felizes.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

"FOGO E PAIXÃO" - WANDO - "(...) ME SUJA DE CARMIM, ME PÕE NA BOCA O MEL. LOUCA DE AMOR, ME CHAMA DE CÉU. OH! OH! OH! OH! OH!. E QUANDO SAI DE MIM, LEVA MEU CORAÇÃO. VOCÊ É FOGO, EU SOU PAIXÃO. (...) COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS"

 SOLIDÃO

CAPÍTULO QUATRO

             O rapaz ficou no hospital até escurecer, não queria deixar sua namorada sozinha no Pronto Socorro. Mas, não teve jeito, acabaram por dar um ultimato a ele, ou saia ou chamariam a segurança do local. Contra a vontade, ele se retirou e voltou para a casa da prima, estava desolado.

            Pedro não jantou e foi direto para seu quarto, se jogou na cama e chorou, como a muito tempo não fazia. A prima foi ver o que estava acontecendo e o convenceu a comer alguma coisa antes de dormir.

             Foi uma noite de pesadelos, acordou várias vezes assustado, não se conformava com a situação. Amanheceu, o despertador tocou e ele deu um pulo, tomou banho e saiu apressadamente, queria passar no hospital antes de ir trabalhar.

             Chegando ao Pronto Socorro, ele encontrou a enfermeira, que os atendera no dia anterior e conseguiu entrar, por cinco minutinhos, em companhia dela.  Lá encontrou a namorada acordada:

            - Minha cabeça dói, parece que está inchada, mas estou melhor, disse ela.

             Com dez pontos no couro cabeludo e o braço engessado, Gilda deu a seguinte notícia:

             - Eu terei alta após o almoço e o meu pai virá me buscar. Vou me recuperar no interior. Pedro ficou pálido:

               - Como? Eu quero estar perto de você e preciso trabalhar. Não, por favor.

             - Não posso fazer nada, meu pai virá me buscar e minha mãe vai cuidar de mim. Mas, você poderá ir me visitar no final de semana, vou falar de nós dois para eles.

             O rapaz ficou pensativo, estava visivelmente contrariado. Seu semblante se fechara e depois de algum tempo disse:

             - Sim, eu irei sem falta, me aguarde, estava mais conformado.

               Beijou a namorada e voltou ao trabalho. Não conseguia se concentrar, pensava no assalto e na amada, que acabou levando a pior. Pedro conseguiu sair mais cedo do trabalho e foi correndo para o hospital, queria ver Gilda, antes que ela fosse embora.

            Os pais da moça e a tia estavam aguardando a alta, para levar a moça para Piracicaba. Pedro se apresentou como colega de trabalho da filha deles, deixaria ela dar a notícia do namoro. Precisava ter cautela para não parecer intrometido.

            A paciente apareceu de cadeira de rodas, estava acompanhada de um profissional da saúde, que lhe desejou melhoras. Gilda levantou-se e deu um abraço no Pedro, depois subiu no automóvel. Estava abatida com os acontecimentos recentes, não estava em condições de explicar nada naquela hora.

            De dentro do veículo, ela disse que esperava por ele, no final de semana. Sua mãe olhou espantada, mas não disse nada. Desconfiou que ali havia alguma coisa além de amizade.

           O veículo partiu deixando Pedro com os olhos cheios de lágrimas, sentia-se frustrado. Não conseguira proteger seu amor, do ataque dos bandidos. Agora a solidão o esperava. Uma nuvem escura se abateu sobre ele, que seguiu cabisbaixo.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

"FOGO E PAIXÃO" - WANDO - "(...) E QUANDO SAI DE MIM, LEVA MEU CORAÇÃO, VOCÊ É FOGO EU SOU PAIXÃO. VOCÊ É LUZ, É RAIO ESTRELA E LUAR, MANHÃ DE SOL, MEU IAIA, MEU IOIÔ, VOCÊ É "SIM" E NUNCA MEU "NÃO". QUANDO TÃO LOUCA ME BEIJA NA BOCA, ME AMA NO CHÃO. (...) COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS"



NERVOS DE AÇO

CAPÍTULO TRÊS

          Na sexta-feira, Gilda saiu mais cedo do trabalho e Pedro não pode se despedir dela. Na verdade, ele queria combinar algum programa, para poder encontrá-la no final de semana. No entanto, passou o sábado e o domingo desconsolado, não tinha seu endereço e nem o telefone. O rapaz não sabia quase nada de sua musa, a tratava com cuidado, pois temia espantá-la.

           Demorou uma semana para Pedro criar coragem e dizer que queria namorá-la. Gilda sorriu, já sabia que isso iria acontecer, ele trazia escrito na cara que gostava dela. Os colegas da moça já estavam fazendo piadinhas sobre os dois, diziam que ele parecia um guarda costas, sempre atrás dela.

              Ela lhe disse que, no final de semana, fora para o interior, na casa de seus pais. Durante a semana, ela ficava na casa da tia, que era irmã do seu pai e na sexta-feira voltava para sua casa.

             O rapaz ficou animado, queria conhecer a família dela. Parecia que tudo corria bem, mais uma semana e ele iria até a casa de Gilda, no interior do Estado. O local ficava distante dali, teriam que viajar de ônibus durante duas horas. A cidade era Piracicaba e distava pouco mais de cento e cinquenta quilômetros da capital. 

            Entretanto, ninguém contava com uma invasão indesejada. Quatro bandidos, com armas em punho, adentraram o escritório da empresa, quando o último funcionário voltava do almoço. Eram elementos mascarados, que estavam ali para o "tudo" ou "nada".          

             De armas em punho, demonstrando agressividade e nervosismo, foram acuando as pessoas num canto. Queriam dinheiro, sabiam que haveria pagamento no local. Um deles agarrou o gerente e sob a mira do revolver exigia, que mostrasse onde estava o cofre. Na entrada, ficara outro bandido que rendera o guarda e tomara sua arma. Os outros dois ficavam aterrorizando as pessoas, que já estavam assustadas.

              O gerente pedia calma, iria fazer o possível para tudo acabar bem.

             O que eles não sabiam, era que o cofre ficava atrás de um quadro, no canto onde estavam os funcionários acuados. O gerente olhava para aquele local e temia um alvoroço com consequências imprevisíveis. Mas, teria que se submeter aos bandidos, que a cada minuto que passava, ficavam mais nervosos.

              Pedro puxou a namorada para perto de si, iria protege-la de qualquer jeito. Houve um começo de tumulto, uns empurrando os outros e os bandidos ameaçando com os revolveres.

            Um colaborador da empresa levou uma coronhada na cabeça, quando tentou se esgueirar para fora. Gilda viu o sangue escorrendo pelo rosto do rapaz e se assustou ainda mais. Ela não sabia o que fazer e se agarrou em um móvel, estava a ponto de ter um colapso nervoso. Pedro permanecia ao seu lado, mas nada podia fazer.

            Enquanto um bandido pressionava o gerente, o outro ficava de olho na porta e o terceiro puxava as pessoas para longe do cofre. Precisavam de espaço para correr com o malote de dinheiro.

            Foi tudo muito rápido e na correria, um bandido puxou o braço de Gilda torcendo-o, para tirá-la da frente. Depois a empurrou e ela caiu batendo a cabeça na quina da escrivaninha. Ficou no chão desacordada e Pedro desesperado.

           Os bandidos saíram em desabalada carreira, derrubando quem estivesse no caminho deles. Alguns funcionários da empresa tiveram pequenas escoriações, além da coronhada na cabeça, que rendeu um galo para o rapaz. Entretanto, o caso mais grave foi o de Gilda. Ela foi socorrida pela ambulância e permaneceu no Pronto Socorro para exames. Ficaria em observação por, pelo menos, vinte e quatro horas.

            Pedro ficou ao lado da namorada o tempo todo permitido. E, quando foi pegar em sua mão, viu que o braço esquerdo estava inchado. Com o seu toque ela gemeu alto, sentia dores no local. O médico, então, disse que iria pedir um Raio X para ver se havia fratura no local.

 Pedro respirou fundo, o dia estava difícil, queria que terminasse logo, pois, precisava ter nervos de aço para suportar tantos problemas.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

"FOGO E PAIXÃO" - WANDO - "(...) QUANDO TÃO LOUCA, ME BEIJA NA BOCA, ME AMA NO CHÃO. ME SUJA DE CARMIM, ME PÕE NA BOCA O MEL. LOUCA DE AMOR, ME CHAMA DE CÉU, OH!, OH!, OH!, OH!, OH!. (...)" COMPOSITORA: ROSE MARIE BURCCI ALVES D. REIS

                                      TOQUE DE AMOR

CAPÍTULO DOIS

          O mundo estava diferente, tinha um brilho nunca antes percebido por aquele rapaz, que queria dançar, abraçar as pessoas, brincar com os animais; estava eufórico. Quando entrou na casa de sua prima, admirou uma rosa no jardim.

             – Quem colocou essa flor aí? Não estava aí antes! Parou e contemplou sua beleza.

            Em seguida, com um sorriso diferente de contentamento, entrou e foi para seu quarto, precisava pensar. Jogado na cama, esquecera-se de tudo, seu pensamento estava longe.

           A prima foi chama-lo para o jantar. Pedro estava deitado sobre o leito olhando para o teto, então, ela percebeu que ele estava diferente e foi logo perguntando:

            - Está tudo bem? Você entrou direto para o quarto, está se sentindo mal?

              O rapaz sorriu, estava em transe, nem ele sabia o que estava sentindo, mas gostava da sensação inebriante, que se alojara em seu peito. Ao pensar em Gilda seu coração disparava, precisava daquela mulher em sua vida.

           - Não se preocupe Lola, conheci uma moça que está me tirando do sério. Acho que estou apaixonado, não consigo tirá-la do pensamento.

          Em seguida, sentou-se na cama e viu que ainda estava com a roupa do trabalho.

             - Vou tomar banho e já desço para o jantar.

             A prima saiu dali sorrindo, o sintoma de amor era igual para todos. Lembrou-se de quando se apaixonara por Vitório, ainda gostava dele, mas aquela sensação eletrizante dos primeiros tempos, já não existia mais. Estavam acostumados um com o outro e o fogo se apagou, ficou a certeza da presença constante de cada um.

           Dando na vista, Pedro queria ficar sozinho, para rever os momentos em que estivera perto daqueles olhos verdes. Tinha muitas coisas para perguntar a ela, mas teria que ir devagar para não assusta-la, não queria perde-la. Ligou a Televisão, mas não conseguia se concentrar, depois sentou-se em frente ao computador e, não sabia o que queria ali.

            Assim, apagou a luz e ficou deitado no escuro, precisava pensar em como agir com aquela deusa. Dormiu e sonhou que ela estava acompanhada de outro rapaz, acordou suando.

              - Ainda bem que foi somente um sonho, pensou e foi lavar o rosto na pia do banheiro. Estava realmente perturbado, nunca sentira nada parecido com aquilo

           O dia amanheceu e ele tratou de tomar um banho caprichado, queria ficar bonito para rever sua musa. Saiu antes da hora, precisava guardar lugar para ela, que subia no metrô uma estação depois dele.

             Quando ela entrou, seu coração disparou, ela estava mais linda ainda, como se isso fosse possível. Ele sorriu e ela retribuiu, depois sentou-se no lugar dele e na hora de sair, ele, instintivamente, tocou no braço dela. Sentiu um arrepio, aquele fora um toque de amor. Ela não fugiu, apenas aceitou normalmente. Gilda parecia gostar da presença dele, que se mostrava solícito com ela.

             Seguiram juntos até a empresa, cerca de um quilômetro, mas quando entraram, ele lamentou baixinho.

            - Poderia ser mais distante. Não tive tempo de conversar quase nada.

            Depois disse:

            - Até mais tarde, desejando estar com ela o tempo todo.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


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