SOU TODO SEU
CAPÍTULO CINCO
A situação ficou tensa, mas Clara, a
filha de Milena, que observava tudo com surpresa, levantou-se e pegou as flores,
para colocar no vaso grande da sala de jantar. A moça ficou com o cartão na mão
e finalmente conseguiu perguntar:
- O que está acontecendo, qual o
significado disso tudo?
Otávio levantou-se, estava nervoso;
no entanto, conseguiu falar em meio a gaguejos e pausas.
- É tudo o que está escrito aí,
estou apaixonado por você e resolvi lutar para ter uma chance. Faz seis meses
que eu fico olhando você da janela do meu apartamento. Abaixou os olhos, estava
mais tímido do que de costume, mas precisava se fazer entender.
Milena não esperava viver
aquela situação inusitada e não sabia o que dizer diante da sinceridade do
rapaz. Então, fez uma cara de surpresa, precisava sair dali e respirar ar puro.
Em seguida, pediu licença, foi até a cozinha e tomou um copo de água gelada.
Depois de algum tempo, voltou
trazendo uma toalha, uma faca e alguns pratos de sobremesa com garfos. Arrumou
tudo e colocou o bolo para ser cortado, depois, chamou o filho para comerem
juntos. Aquela reunião, parecia a de uma família tradicional, sentados à mesa comendo bolo. Milena
percebeu isso.
Não havia muitas coisas para
serem ditas, mal se conheciam. Otávio perguntou ao garoto se gostava de futebol
e este sorriu fazendo comentários sobre os jogos mais recentes. Clara comia
prazerosamente e Milena curtia um pedaço do bolo, enquanto observava toda
aquela cena. Fazia tempo que estava sozinha e quase nunca recebiam visitas.
A moça estava com uma sensação
estranha, não sabia se era boa ou ruim; era, no mínimo, surpreendente. Estar
sentada em sua sala de jantar com um estranho, que dizia estar apaixonado por
ela, a transportava ao passado. As lembranças de seu casamento, o amor que
sentia por Leandro e toda a decepção que lhe causara. Não queria nenhum
relacionamento, estava, ainda, muito ferida.
Queria perguntar muitas coisas
para o vizinho, no entanto, não poderia falar diante das crianças, poderia
assusta-las. Milena manteve-se calada, enquanto observava o entrosamento de
Otávio com seus filhos. Ele era uma pessoa comum, ela nunca havia reparado nele
como homem; era apenas o vizinho da janela. Jamais poderia imaginar que ele
ficava na janela para vê-la.
Nos últimos cinco anos, ela não
tivera nenhum relacionamento, temia pela segurança dos filhos. Entretanto,
aquele homem parecia deixar a casa e seus filhos muito mais seguros. Estavam
alegres e sorridentes; o bolo estava uma delícia e as flores enfeitavam o
ambiente. Otávio fizera daquela noite, uma data especial.
Ficaram entretidos em frente à
televisão, enquanto Milena abria uma garrafa de licor, que estava guardada
fazia tempo. Era uma bebida doce e todos poderiam tomar, até mesmo as crianças.
Então, beberam e brindaram pela saúde de todos, depois, o rapaz levantou-se e
disse que iria deixá-los descansar. Mas, antes de sair queria seu número de
celular para poder conversar.
Milena sorriu e disse o número pausadamente,
estava gostando daquela situação inesperada. Queria que ele saísse logo, pois, precisava ficar sozinha. Tinha
muito o que pensar naquela noite; estava viva para o amor e não se dera conta
disso. Otávio saiu deixando um leve perfume de colônia masculina no ar, aquele cheiro mexia com os sentimentos de Milena.
Depois de uma hora, ela e as crianças já estavam deitadas; seria uma
longa noite dos namorados. Então, o celular tocou. Ela pegou e havia uma
mensagem:
- Sou todo seu... Otávio
A moça sorriu, sua noite dos namorados estava
salva.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa.