CORAÇÃO
ALADO
CAPÍTULO
QUATRO
Otávio ficou parado em frente ao
portão, então Júlia o convidou a entrar e ficaram se olhando, como se
estivessem hipnotizados. A conversa discorreu entre citações de medos passados,
durante a aterrissagem do avião, e as dores sofridas pelos ferimentos. Havia
ansiedade no olhar do rapaz, queria falar de Liana, mas temia que Júlia se
afastasse dele, então calou-se.
A moça tinha o tornozelo dentro de
uma tala ortopédica e a testa com um curativo fechado. Ela estava mais bonita
com bandagens e aquele ar de carência afetiva, sem dúvida, ansiava por carinho.
O rapaz mantinha o braço esquerdo em
uma tipoia, dizia ter muitas dores aos pequenos movimentos e ao se mexer na
cama, a dor era lancinante. Quando dizia isso, fazia uma cara de horror, que
comovia a todos. Eram dois sobreviventes, que tinham a sorte de ter resistido a
um acidente de avião.
Depois das apresentações, a mãe da
moça convidou o rapaz para o jantar, estava agradecida por ele ter ajudado sua
filha. Queria demonstrar o quanto apreciava seu gesto. Júlia também demonstrou
gosto, pela presença dele no jantar.
Ele concordou dizendo que voltaria
mais tarde, queria conhecer melhor a moça. Na verdade, seu coração já estava
irremediavelmente encantado com a companheira de viagem. Percebeu nos olhares
dela a mesma aceitação, que havia em seu coração.
Otávio saiu dali com uma certeza
incontestável, teria que romper seu noivado, antes de se declarar à Júlia.
Sentia que estava em uma enrascada, não queria sair da situação como um
canalha. Mas precisava de um milagre para Liana aceitar o rompimento. Os
anseios de sua noiva iam na direção contrária, do que ele desejava.
Chegou em sua casa rapidamente,
nem reparou nas coisas que havia pelo caminho; Otávio estava absorto. Foi se
deitar dizendo estar com dores, queria ficar sozinho e pensar em uma solução para
acabar com seu noivado; estava confuso.
Acabou adormecendo e quando
acordou, sua mãe disse que a sua noiva havia ligado três vezes. Então, ele
sentou-se na cama e pediu para sua mãe sentar-se ali perto, queria conversar.
Expôs a ela a situação em que se encontrava. Helena, sua mãe, franziu a testa e
perguntou?
– Que conversa é essa? Como você vai explicar
isso para os pais de Liana?
- Mãe, eu sou jovem e tenho que
pensar no meu futuro, o mundo está lá fora cheio de promessas e eu quero
conquista-lo. Além do mais, conheci a Júlia que me encantou imediatamente, hoje
vou jantar na casa dela.
- Meu Deus! Isso me preocupa
muito, vai ver sua noiva por favor e pense bem, antes de falar qualquer coisa
que possa magoá-la. Retrucou sua mãe.
Otávio foi até a casa de Liana, no
entanto, não queria nenhum contato físico com ela. Mas, a moça estava sedenta por
abraçá-lo e beijá-lo depois de seis meses de separação. Foi agarrado e teve que
corresponder aos abraços, não dava para se esquivar.
O rapaz foi subjugado ao amor de
sua noiva, estava constrangido, mas não conseguiu fugir. Ela não percebeu nada,
pensou que ele sentia dores, por isso se afastava dela. Passou duas horas,
durante a tarde, com Liana e a noite teria o jantar com Júlia. Sentia-se um
verdadeiro traidor, não resistiu ao assédio de sua noiva.
A noite chegou e ele foi ao jantar
na casa de Júlia; estava cheio de remorsos, mas não poderia recusar um convite
tão amável. Tinha o propósito de contar a ela sobre seu noivado, mas lhe faltava
coragem. Depois do jantar, os dois foram sentar-se na sala, queriam ficar a
sós; havia muita coisa no ar.
Ela estava tão bonita e ele a
mantinha encostada em seu ombro, sentia um perfume suave, que exalava de seus
cabelos, deixando-o entregue aos seus desejos mais íntimos. Ali estava a mulher
de seus sonhos, mas era proibida para ele. Seu coração estava alado, pulava de
um lado para outro. Era Liana se impondo e Júlia se insinuando.
-O que fazer? Precisava de uma luz
para sair daquela situação ou estaria perdido.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa