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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

"NÃO ENTENDO, APENAS SINTO. TENHO MEDO DE UM DIA ENTENDER E DEIXAR DE SENTIR". CLARICE LISPECTOR


O ASSÉDIO

CAPÍTULO QUATRO
          Com uma motivação real, Marília mergulhou nos livros; estava empenhada em garantir um trabalho digno. Passar no concurso tornou-se uma obsessão, raramente saia de casa. Leandro não se conformava com a ideia de que a sua mulher pudesse sobreviver sem ele. Comprava o essencial, isto é, uma cesta básica e mandava entregar, dizendo que era para as crianças. Pagou a água, luz e a deixou sem nenhum dinheiro.

           - Que ela fosse trabalhar, dizia para quem quisesse ouvir.

         Em um domingo de manhã, Leandro apareceu bêbado e estava acompanhado de um amigo, também embriagado. Parecia determinado a mostrar para sua ex-mulher, quem mandava ali. Estava irado por ter descoberto que ela trocara a fechadura. Entrou dizendo que iria fazer um churrasco e foi para o quintal com uma sacola na mão. Jairo, o amigo, o seguia com um riso irônico.

          Antes de acender a churrasqueira, Leandro tirou um revolver de dentro da sacola e começou a atirar em direção a um pé de mamão. Conseguiu derrubar uns dois mamões verdes e furou outros. Marília, então, foi pedir para ele parar com aquilo, que estava assustando as crianças e ele rindo alto respondeu:

           - Você quer ver? Agora vou matar aquele gato que anda sobre o muro, é só ele aparecer.

          A mulher viu um prazer mórbido no olhar do ex-marido. Ele poderia matá-la também. Pensou e logo tratou de entrar, estava com o coração nas mãos, temia por ela e pelos filhos.

         Durante toda a manhã, os dois homens permaneceram ali, aterrorizando a mulher, que tentava disfarçar para os filhos não perceberem a situação. O revolver em cima da mesa e a churrasqueira a gás ligada, dourando os espetos de carne, dava um ar de tragédia ao local.

          As crianças comeram carne que o pai havia dado, mas Marília não almoçou, estava muito nervosa. E, quando eles começaram a juntar as coisas, ela respirou fundo; estavam de saída. Naquela noite ela chorou desesperadamente; estava com medo do futuro.

         - O que seria de sua vida dali para a frente? Como se livrar daquela situação?

           Ela sabia que não poderia esmorecer e lembrou-se do ditado que dizia: “Colhemos, infalivelmente, resultados proporcionais aos nossos esforços”, ela estava focada naquilo. Mas, não seria fácil, muita coisa ainda iria acontecer até ela conseguir o que pretendia.

         Um mês inteiro decorreu e Leandro vigiava a casa onde estavam sua ex-mulher e os dois filhos. Durante a noite, muitas vezes bêbado, costumava andar pelo quintal da casa, assustando sua família.

 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
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