O
ASSÉDIO
CAPÍTULO
QUATRO
Com uma motivação real, Marília
mergulhou nos livros; estava empenhada em garantir um trabalho digno. Passar no
concurso tornou-se uma obsessão, raramente saia de casa. Leandro não se
conformava com a ideia de que a sua mulher pudesse sobreviver sem ele. Comprava
o essencial, isto é, uma cesta básica e mandava entregar, dizendo que era para
as crianças. Pagou a água, luz e a deixou sem nenhum dinheiro.
- Que ela fosse trabalhar, dizia
para quem quisesse ouvir.
Em um domingo de manhã, Leandro
apareceu bêbado e estava acompanhado de um amigo, também embriagado. Parecia
determinado a mostrar para sua ex-mulher, quem mandava ali. Estava irado por
ter descoberto que ela trocara a fechadura. Entrou dizendo que iria fazer um
churrasco e foi para o quintal com uma sacola na mão. Jairo, o amigo, o seguia
com um riso irônico.
Antes de acender a churrasqueira,
Leandro tirou um revolver de dentro da sacola e começou a atirar em direção a um
pé de mamão. Conseguiu derrubar uns dois mamões verdes e furou outros. Marília,
então, foi pedir para ele parar com aquilo, que estava assustando as crianças e
ele rindo alto respondeu:
- Você quer ver? Agora vou matar
aquele gato que anda sobre o muro, é só ele aparecer.
A mulher viu um prazer mórbido no
olhar do ex-marido. Ele poderia matá-la também. Pensou e
logo tratou de entrar, estava com o coração nas mãos, temia por ela e pelos
filhos.
Durante toda a manhã, os dois homens
permaneceram ali, aterrorizando a mulher, que tentava disfarçar para os filhos
não perceberem a situação. O revolver em cima da mesa e a churrasqueira a gás
ligada, dourando os espetos de carne, dava um ar de tragédia ao local.
As crianças comeram carne que o pai havia
dado, mas Marília não almoçou, estava muito nervosa. E, quando eles começaram a
juntar as coisas, ela respirou fundo; estavam de saída. Naquela noite ela
chorou desesperadamente; estava com medo do futuro.
- O que seria de sua vida dali para a
frente? Como se livrar daquela situação?
Ela sabia que não poderia esmorecer
e lembrou-se do ditado que dizia: “Colhemos, infalivelmente, resultados
proporcionais aos nossos esforços”, ela estava focada naquilo. Mas, não seria
fácil, muita coisa ainda iria acontecer até ela conseguir o que pretendia.
Um mês inteiro decorreu e Leandro
vigiava a casa onde estavam sua ex-mulher e os dois filhos. Durante a noite,
muitas vezes bêbado, costumava andar pelo quintal da casa, assustando sua família.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.