HOMEM
DE ALUGUEL.
Era verão e o calor
abafado deixava as pessoas mais lentas e nervosas; quase todas as tardes caia
uma chuva torrencial, que alagava as principais ruas da cidade. Durante aquela semana
a chuva comparecera todos os dias. As paredes já mostravam sinais verdes de
bolor; a umidade estava por toda parte.
Sara acordou cedo, estava
preocupada, não sabia o que fazer para acabar com um vazamento de água que a
estava atormentando há dias. A água vertia da parede e escorria pelo chão, era um
vazamento no registro do lado de fora da cozinha. Olhou e entrou desolada, que
falta fazia um homem prendado, isto é, aquele que quebra todos os galhos de uma
residência; conserta chuveiro, ferro de passar roupas, troca lâmpadas, faz
pequenos consertos em fechaduras, pinta paredes e limpa o quintal, sem chiar.
Animal em extinção nos dias de hoje.
Ela se apoiou na pia da
cozinha e fitando o dedão do pé sentiu pena de si mesma; não tivera sorte. Seu
marido nunca foi chegado em fazer consertos, não gostava de sujar as unhas, se
julgava chique para tais afazeres. Agora que estava separada tinha que resolver
tudo sozinha; a filha casada morava com ela, mas o marido, um rapaz jovem e sem
nenhuma habilidade, era carta fora do baralho; podia piorar ainda mais a
situação do vazamento.
Não conhecia ninguém que
consertasse encanamentos obsoletos, tinha que pensar...
Uma frase não saia de sua cabeça: “você não é quadrada, se vira”, dizia
sua mãe, quando Sara era criança. Agora ia se virar como soubesse ou pudesse.
Decidida, pegou uma lista telefônica e sentou-se no sofá, tinha que
achar uma solução urgente.
Folheando a lista deparou
com uma loja de materiais de construção e pensou que era ali que estava á
solução, discou o número e aguardou para ser atendida. Uma voz feminina do outro
lado perguntou o que ela desejava e Sara disse:
- Preciso de um homem de aluguel. A moça horrorizada disse um palavrão e desligou. A mulher ficou atônita. Onde foi que errou? Sara estava assustada, mas não iria desistir, teria que tentar novamente, talvez a moça da loja tenha interpretado errado o que ela disse. Não queria um homem para programas escusos, mas para consertos de encanamentos.
- Preciso de um homem de aluguel. A moça horrorizada disse um palavrão e desligou. A mulher ficou atônita. Onde foi que errou? Sara estava assustada, mas não iria desistir, teria que tentar novamente, talvez a moça da loja tenha interpretado errado o que ela disse. Não queria um homem para programas escusos, mas para consertos de encanamentos.
Procurou outra loja de materiais de construção e ligou, agora seria mais explicita, precisava dar certo.
Foi um rapaz que a atendeu e ela explicou o problema dizendo que precisava
de um encanador; O homem se mostrou compreensivo e lhe deu um número de
telefone para ela ligar e tentar contratar o serviço.
Finalmente o encanador fêz o trabalho e por um serviço de duas
horas levou uma grana preta, mas acabou com o vazamento.
-Que alívio! Estava satisfeita, resolvera o problema.
-Que alívio! Estava satisfeita, resolvera o problema.
Depois de alguns dias ao
acender a luz da cozinha percebeu que estava queimada, era uma luz de mercúrio;
- E agora? - O que fazer?
Sara precisava de outro homem de aluguel, um eletricista, mas já era
tarde; deixaria para o dia seguinte.
Foi dormir com aquele
pensamento, ligaria para uma loja de ferragens, daria certo novamente.
A tensão era grande e ela sonhou que em frente á sua casa havia um
enorme cartaz com letras pintadas em vermelho:
”PRECISA-SE
DE UM HOMEM DE ALUGUEL”.
No portão, vestidos com uma sunga preta, estavam cinco
homens musculosos se oferecendo para o serviço; a mulher corou e entrou
rapidamente, fechando a porta.
- O que a vizinhança
pensaria dela? Que horror! Era honesta e não gostava de desfrutes, porque
aquela situação estava acontecendo? Será que a moça da loja havia mandado
aqueles homens ali?
Sara começou a suar em bicas, se via nua em frente á filha, o genro e os
netos; queria morrer. Não suportaria tamanha afronta.
De repente uma campainha soou e ela acordou, era o despertador; Surpresa e aliviada ela percebeu que estava sonhando. Levantou-se rapidamente e respirou profundamente, não
fora exposta a maledicência pública.
Sara jurou para si mesma,
que nunca mais diria que precisava de um “Homem de aluguel” e sim de um eletricista,
encanador, pedreiro e outros. A mulher havia compreendido o poder da palavra.
Um texto de Eva Ibrahim