NO
MUNDO DAS FANTASIAS
CAPÍTULO
TRÊS
Murilo estava radiante com os
últimos acontecimentos, saíra ileso da situação em que se encontrava. Leonel o
salvou e agora ele estava livre para curtir o carnaval na Sapucaí. Vestido com
uma bermuda branca, uma camisa florida e colar havaiano, estava pronto para se
divertir.
Adentrou o recinto e procurou um lugar na
pista, do qual ele pudesse ver a evolução da bateria e encher seus olhos de
orgulho. Ele estava feliz, por ter conquistado uma mulher tão bonita, sua musa
do carnaval, Raquel. Iria acompanhar a bateria e sua amada, até a chegada na
dispersão.
Na verdade, Murilo estava muito
apaixonado e não pensava mais em sua condição de homem casado e pai de família.
A rainha da bateria era uma boa mulher, mas fora ferida pela vida e trazia no
peito uma grande mágoa contra a sociedade.
A morte de seu companheiro por bala perdida
criou uma revolta dentro de seu coração.
E, ela não se importava se estava ou não ferindo outras pessoas.
Encontrara em Murilo um bálsamo para suas feridas, era só o que ela buscava.
O
tema da escola de samba era sobre as lendas da floresta amazônica e a música
sugestiva, falava sobre fatos criados ou contados por nativos, que juravam
serem verídicos. A bateria dava o tom para o puxador do samba e Raquel fazia
evoluções na pista do Sambódromo.
A
comissão de frente era formada por indígenas e o carro abre-alas trazia uma
grande onça pintada, que rugia de tempos em tempos. A plateia aplaudia
freneticamente a apresentação, que continha muitos efeitos especiais.
As
letras do samba enalteciam a floresta e sua população de nativos, animais, aves
e toda a vida ali existente. A evolução do tema da escola acontecia no esquema
exigido, pelas regras estabelecidas anteriormente.
Havia luzes piscando, névoas coloridas sendo
lançadas na avenida e sons característicos de cada animal ou pássaro, que
aparecia nos muitos carros alegóricos. As alas formadas por pessoas fantasiadas,
com roupas alusivas ao tema escolhido, ficavam preenchendo os espaços entre os
carros.
A
bateria avançava atrás do carro abre-alas e Murilo a seguia com os olhos
pregados em Raquel. Lá no fundo, ele acalentava a ideia de pedir para ela
abandonar a escola de samba. Ele sentia-se aflito e ansioso ao vê-la rodopiar
na pista, com tão pouca roupa; sentia ciúmes dela. Era sua mulher e ele acalentava
uma fantasia, de abandonar Lívia e viver com Raquel.
Os
carros alegóricos são distribuídos, estrategicamente, entre as alas, compondo o
enredo em consonância com a letra da música tema. Os componentes do grupo, que
dançam e cantam no chão da pista do Sambódromo, vestem as fantasias coloridas
com as cores da escola, para fazer pano de fundo à história desenvolvida na
avenida.
Muitas pessoas seguem a música acompanhando a
escola de samba. Em dado momento, a bateria entra em um bolsão de retirada e
fica aguardando a evolução da escola, depois segue atrás, até a dispersão.
Murilo ficou parado junto da bateria, apreciando Raquel em sua apresentação,
estava vigiando o seu amor.
Os juízes analisam os seguintes quesitos:
bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, conjunto, enredo, alegorias e
adereços. Também serão contabilizadas as notas recebidas sobre as fantasias, desempenho
da rainha da bateria, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeiras, além
de observado o tempo do desfile, que deve ficar em torno de uma hora. Se o
tempo for além do permitido, haverá penalização com perda de pontos.
Muitas
alas são fixas e devem ser apresentadas conforme cronograma pré-estabelecido. As
fantasias são elaboradas, ricas em enfeites, cores, plumas e pedrarias.
Principalmente os destaques de cada carro alegórico, a rainha da bateria e os
casais de porta-bandeiras. A comissão de frente deve surpreender o público,
sempre, com inovações.
A apresentação de cada escola deve
se preparar para cumprir as regras e obrigatoriedades, que foram criadas para
que a avaliação, seja o mais justa possível. A escola que menos erros
apresentar, terá maiores chances de vencer e se tornar a campeã do ano em
curso.
Observando também, que deverá
conquistar o público presente com sua beleza, desenvoltura e consistência no
enredo. A escola que levanta o público, arrancando aplausos e elogios será,
provavelmente, uma das primeiras colocadas.
Podemos tomar como exemplo o casal
de mestre-sala e porta-bandeiras. O mestre-sala não deve ficar de costas para
sua companheira. Deve cortejá-la, rodopiar ao seu redor, dando a entender que é
seu protetor. E, ela não pode deixar a bandeira se enrolar, mas mantê-la sempre
aberta e altiva.
Assim, em meio à multidão euforicamente
agitada, o tempo passava e a apresentação da escola, a qual Raquel
representava, chegava ao seu final.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa.