A VOZ DO CORAÇÃO
CAPÍTULO SETE
Durante
duas horas houve louvor a Deus e cantoria naquele local; alguns testemunhos de
pessoas emocionadas e a pregação do evangelho pelo Pastor. Alda permanecia
quieta e com pensamento fixo em algo maior; um anjo, uma entidade de luz ou o
próprio Jesus. Queria que ouvissem o seu coração, pois era ali que estavam
guardadas todas as amarguras e aflições de sua vida. Ela podia sentir o coração
pulsando acelerado e querendo sair pela boca; estava ansiosa demais.
Não
era religiosa, entretanto, trazia consigo ensinamentos que a levavam a
acreditar que o mundo era regido pelo bem e o mal, o céu e o inferno. Essas
dualidades estavam sempre presentes na vida das pessoas e aquela que fosse
alimentada seria a dominante em cada ser; Alda acreditava nisso.
Estava
cansada e precisava de ajuda dos céus para superar tantos problemas. Queria esquecer
a desgraça que vitimara o menino e recomeçar a vida ao lado do marido e filhos;
a família era um bem precioso. Sentiu-se egoísta com este pensamento:
-
Como poderia pensar desse jeito? E a família da criança morta?
Pediu
perdão a Deus e seus olhos encheram-se de lágrimas.
–
Pobre mãe, deveria estar sofrendo mais do que tudo no mundo. No entanto, a vida
continua e nada poderá trazer o menino de volta.
Pensou
em voz alta, depois abaixou a cabeça, a situação estabelecida fora cruel com
todos. O Deus dos milagres sabia que ela não era maldosa e a perdoaria por
querer ser feliz com sua família.
Seu coração se enchera de
esperanças, a Igreja era um bom lugar e lhe transmitia paz. As crianças
permaneceram quietas e atentas. A Ana, que já era uma mocinha, seguia os
rituais e quando Alda olhou para ela, a filha estava cantando com os demais. A sogra
chorou em vários momentos, queria que seu filho se recuperasse. Todos que ali
estavam foram envolvidos por uma energia dominante.
Sibele sorriu quando o último
acorde foi dado, praticara uma boa ação levando a família da vizinha ao culto
evangélico. Alda até sorriu para ela em agradecimento. O grupo saiu alegre, estavam
no caminho certo. Era a voz do coração que cochichava para Alda, que nem tudo
estava perdido.
Chegando à casa ela sentou-se ao
lado do marido que ainda dormia, então, olhou para ele com novos olhos. E, lá
no fundo do coração ela fez uma promessa a Deus. Vitório também estava sofrendo
e se embriagava para esquecer a cena que provocara.
- Levaria o marido, aquela alma
inquieta, para a Igreja, não importava o tempo; um dia estariam todos lá,
louvando ao Senhor.
Alguma coisa aconteceu e o Vitório
quis saber porque estavam andando com as melhores roupas e não paravam mais em
casa. Alda o convidou para irem juntos a Igreja, porém ele respondeu
grosseiramente:
- Que
Igreja vai tirá-lo daquela situação? Aquele lugar é para quem não tem serviço e
quer ficar bajulando o Pastor.
Depois
saiu rumo ao bar, precisava beber. A mulher ficou orando para que ele ouvisse a
voz da razão, agora tinha fé. Ficaria feliz no dia em que Vitório a acompanhasse
à Igreja.
Voltou outras vezes aquela casa de oração e louvor; estava sempre acompanhada da vizinha, da sogra e dos filhos. E, a cada dia aumentava a certeza de que estava no caminho certo, pois se
acalmava ao ouvir a palavra de Deus. Havia uma esperança de que dias melhores
estavam por vir, o pior já havia passado. Então, Alda aprendera a escutar a voz do
coração.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.