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quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

"ESTÃO VOLTANDO AS FLORES" - EMILIO SANTIAGO - "VÊ, AS NUVENS VÃO PASSANDO, VÊ, UM NOVO CÉU SE ABRINDO. VÊ, O SOL ILUMINANDO, POR ONDE NÓS VAMOS INDO." COMPOSIÇÃO: PAULO SOLEDADE

A LUZ DO LUAR

                                          CAPITULO DOIS

          Laura sentia-se mais leve, alguma coisa havia mudado dentro do seu coração. Voltou para sua casa e fez uma limpeza geral, precisava organizar a casa, para armar a árvore de Natal. Queria reunir sua família na ceia, espantar o vírus e todas as doenças de uma vez por todas, estava decidida.

              A terça-feira amanheceu com tempo nublado, mas não estava chovendo, assim, a mulher saiu cedo para comprar novos enfeites para a árvore. Era costume, a cada ano acrescentar novas bolas ou luzes, diziam que dava sorte. Quando voltava das compras, resolveu sentar-se novamente sob o Flamboyant, queria descansar um pouco e olhar as formigas cortadeiras.

              Aquele era um lugar mágico, onde ela podia soltar sua imaginação e relembrar o passado. Fechou os olhos e as imagens da manhã daquele Natal tão esperado, começaram a tomar vida em seus pensamentos.

               A menina acordou e pulou da cama:

               - Será que o papai Noel passou por aqui? Perguntou gritando e acordando seu irmão.

               Os dois se abaixaram para olhar debaixo das camas e lá estavam os presentes. Rapidamente pegaram e abriram as caixas, estavam ansiosos demais, para esperar os pais acordarem. José, o irmão, pegou os soldadinhos de chumbo e ela abriu a caixa de maquiagem, para ver se estava tudo ali.

               Ficou maravilhada, era uma caixa cuja tampa tinha um espelho redondo e estava cheia de coisas para promover a beleza da mulher. Sua avó e seus pais prepararam seu presente direitinho, mas os louros foram para o bom velhinho.           

               Laura estava muito feliz e aquela sensação tomou conta do seu coração. Depois de muito tempo, ainda podia sentir aquela sensação de felicidade.

             A mulher parecia embevecida pelas lembranças daquele dia de Natal, no qual ela tinha apenas nove anos. À noite, sua mãe e algumas vizinhas sentaram-se em frente as casas e as crianças ficaram brincando na rua, enquanto as mulheres conversavam. Era noite de luar, os meninos brincavam de pique esconde e as meninas sentaram-se na calçada, para falar de seus presentes.

             Uma delas olhou para a lua e disse:

             - Olha lá, o São Jorge está montado em seu cavalo branco. E todos os olhares se voltaram para a lua cheia, que brilhava iluminada de luz prata.

             Era sabido por todas as crianças, que São Jorge morava na lua e naquela noite mágica, ele parecia estar montado em seu cavalo branco. As meninas pareciam encantadas e não tiravam os olhos daquela imagem, enquanto isso, os meninos riam delas, dizendo:

               - Bobas, aquilo são nuvens e não o santo guerreiro.

                Elas protestavam, mas eles não davam trégua, riam para valer. Formada a contenda, as mães interferiram mandando cada filho, para sua respectiva casa, acabara a brincadeira. As meninas saíram chorando, mas tinham a certeza de que era o santo, que estava na lua.

                Laura sorriu, fora uma criança feliz, num tempo em que as coisas simples davam o tom na vida.

             O tempo passou e ela foi para o Ginásio, lá ela descobriu muitas verdades pelas bocas dos meninos mais espertos, que adoravam provocar as meninas. Mas, entre eles havia um que tinha um olhar diferente, chamava-se: Luís Carlos. Quando seus olhares se cruzavam, ele abaixava a cabeça e ela ficava vermelha.

               Essa situação perdurou por dois anos, então veio a ditadura em um mil, novecentos e sessenta e quatro. Tempos difíceis e de muito medo em todos os lugares. Laura já era uma moça com dezesseis anos e acalentava o primeiro amor. Luís Carlos tomou coragem e numa quermesse da escola, através de um correio elegante, declarou seu amor para ela.

              O primeiro encontro aconteceu atrás da barraca da pescaria, em uma noite de luar. Ali eles se beijaram pela primeira vez, um selinho para os padrões de hoje em dia. Mas para os dois apaixonados, foi a maior emoção.

             Com os olhos semicerrados, a mulher estava envolvida pelas lembranças.  De repente, caiu uma flor em cima de sua cabeça, trazendo-a para a realidade. Olhou no relógio e se apressou, fazia duas horas que ela estava ali, revivendo o seu passado. Em seguida, levantou-se e caminhou em direção à sua casa, levava no peito o espírito de Natal.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

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