A LUZ DO LUAR
CAPITULO DOIS
Laura sentia-se mais leve, alguma
coisa havia mudado dentro do seu coração. Voltou para sua casa e fez uma
limpeza geral, precisava organizar a casa, para armar a árvore de Natal. Queria
reunir sua família na ceia, espantar o vírus e todas as doenças de uma vez por
todas, estava decidida.
A terça-feira amanheceu com tempo
nublado, mas não estava chovendo, assim, a mulher saiu cedo para comprar novos
enfeites para a árvore. Era costume, a cada ano acrescentar novas bolas ou
luzes, diziam que dava sorte. Quando voltava das compras, resolveu sentar-se
novamente sob o Flamboyant, queria descansar um pouco e olhar as formigas
cortadeiras.
Aquele era um lugar mágico, onde
ela podia soltar sua imaginação e relembrar o passado. Fechou os olhos e as
imagens da manhã daquele Natal tão esperado, começaram a tomar vida em seus
pensamentos.
A menina acordou e pulou da
cama:
- Será que o papai Noel passou
por aqui? Perguntou gritando e acordando seu irmão.
Os dois se abaixaram para olhar
debaixo das camas e lá estavam os presentes. Rapidamente pegaram e abriram as
caixas, estavam ansiosos demais, para esperar os pais acordarem. José, o irmão,
pegou os soldadinhos de chumbo e ela abriu a caixa de maquiagem, para ver se
estava tudo ali.
Ficou maravilhada, era uma caixa
cuja tampa tinha um espelho redondo e estava cheia de coisas para promover a
beleza da mulher. Sua avó e seus pais prepararam seu presente direitinho, mas
os louros foram para o bom velhinho.
Laura estava muito feliz e aquela sensação tomou conta do seu coração.
Depois de muito tempo, ainda podia sentir aquela sensação de felicidade.
A mulher parecia embevecida pelas
lembranças daquele dia de Natal, no qual ela tinha apenas nove anos. À noite,
sua mãe e algumas vizinhas sentaram-se em frente as casas e as crianças ficaram
brincando na rua, enquanto as mulheres conversavam. Era noite de luar, os
meninos brincavam de pique esconde e as meninas sentaram-se na calçada, para
falar de seus presentes.
Uma delas olhou para a lua e
disse:
- Olha lá, o São Jorge está
montado em seu cavalo branco. E todos os olhares se voltaram para a lua cheia,
que brilhava iluminada de luz prata.
Era sabido por todas as crianças,
que São Jorge morava na lua e naquela noite mágica, ele parecia estar montado
em seu cavalo branco. As meninas pareciam encantadas e não tiravam os olhos
daquela imagem, enquanto isso, os meninos riam delas, dizendo:
- Bobas, aquilo são nuvens e não
o santo guerreiro.
Elas protestavam, mas eles não
davam trégua, riam para valer. Formada a contenda, as mães interferiram
mandando cada filho, para sua respectiva casa, acabara a brincadeira. As
meninas saíram chorando, mas tinham a certeza de que era o santo, que estava na
lua.
Laura sorriu, fora uma criança
feliz, num tempo em que as coisas simples davam o tom na vida.
O tempo passou e ela foi para o
Ginásio, lá ela descobriu muitas verdades pelas bocas dos meninos mais
espertos, que adoravam provocar as meninas. Mas, entre eles havia um que tinha
um olhar diferente, chamava-se: Luís Carlos. Quando seus olhares se cruzavam,
ele abaixava a cabeça e ela ficava vermelha.
Essa situação perdurou por dois
anos, então veio a ditadura em um mil, novecentos e sessenta e quatro. Tempos
difíceis e de muito medo em todos os lugares. Laura já era uma moça com
dezesseis anos e acalentava o primeiro amor. Luís Carlos tomou coragem e numa
quermesse da escola, através de um correio elegante, declarou seu amor para
ela.
O primeiro encontro aconteceu
atrás da barraca da pescaria, em uma noite de luar. Ali eles se beijaram pela
primeira vez, um selinho para os padrões de hoje em dia. Mas para os dois
apaixonados, foi a maior emoção.
Com os olhos semicerrados, a
mulher estava envolvida pelas lembranças. De repente, caiu uma flor em cima de sua
cabeça, trazendo-a para a realidade. Olhou no relógio e se apressou, fazia duas
horas que ela estava ali, revivendo o seu passado. Em seguida, levantou-se e
caminhou em direção à sua casa, levava no peito o espírito de Natal.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa