A FUGA
CAPÍTULO
TRÊS
Vitório
chegou depois do jantar, pois havia passado no bar para tomar um aperitivo com
os amigos. Quando resolveu ir para casa já estava bêbado e de mau humor. Deixou
o caminhão em frente à sua residência e entrou gritando o nome da filha. Ana
tremeu de medo.
- Será
que haviam contado para ele sobre o fogaréu no pasto?
No bar não se falava em outra coisa. Elas souberam
no dia seguinte. E, quando ela se aproximou, o pai tirou o cinto e lhe deu
diversas lambadas nas pernas enquanto gritava:
– Menina vagabunda, que me envergonha diante
dos amigos.
Alda ouviu o barulho, então correu para acudir
a filha e, tentando puxa-la das mãos do marido, levou um soco nos olhos. Em
seguida, o homem bêbado cambaleou até o quarto, se jogou na cama sem tomar
banho e logo estava roncando igual a um porco.
Mãe
e filha choraram abraçadas, desejando que ele morresse. Só assim poderia acabar
com o sofrimento de apanhar depois de tantas bebedeiras. Entretanto, Vitório
era um homem forte e tinha muita saúde, elas teriam que se conformar. Alda
queria deixar o marido e sumir com os três filhos. No entanto, ela tinha
certeza que ele iria atrás deles e a mataria.
No
dia seguinte, ele se levantou e como se nada houvesse acontecido se aproximou
de Alda, então, a puxou para um beijo. Ela se esquivou e ele a empurrou.
–
Irá se arrepender, mulher maldita; blasfemou o homem irado.
Depois
ligou o caminhão e saiu para mais uma viagem; dessa vez foi sem dizer até logo.
Ele saia para viajar com o caminhão, quase sempre, na segunda feira, então, mãe
e filha tinham dois ou três dias de paz; depois começava tudo novamente. Com
muita sorte ele demoraria até o fim da semana.
Alda e Ana não tinham vontade de cuidar da beleza, viviam com hematomas pelo corpo; tornaram-se duas mulheres desmazeladas. Os vizinhos já estavam acostumados com as brigas e os gritos daquela família; certa vez precisaram chamar a polícia.
Alda e Ana não tinham vontade de cuidar da beleza, viviam com hematomas pelo corpo; tornaram-se duas mulheres desmazeladas. Os vizinhos já estavam acostumados com as brigas e os gritos daquela família; certa vez precisaram chamar a polícia.
A
menina não estudava, vivia metida em bagunças e brigas; faltava as aulas quando
queria acompanhar a turma em suas traquinagens. O final do ano chegou e Ana foi
reprovada.
-
Era de se esperar, aquele fora um ano muito difícil, disse a mãe à professora.
O
Natal se aproximava, os dois irmãos de Ana estavam eufóricos, iriam ganhar
bicicletas. No entanto, ela não ganharia nada, uma vez que fora reprovada na
escola. A menina estava conformada, detestava o pai.
A
noite de Natal passou com Vitório bêbado, estava cansado e foi dormir antes da
meia noite. Logo depois foi a mãe e os filhos. Ana demorou a pegar no sono,
estava muito infeliz. No dia seguinte acordaram tarde, passava das onze horas.
Vitório bateu a porta dizendo que iria ao bar comprar mais cervejas e saiu com
o caminhão.
Passava
do meio dia quando Vilmar, o irmão mais novo de Vitório, chegou esbaforido gritando para Alda pegar as crianças e acompanha-lo.
- Aconteceu uma desgraça, pega as crianças e
vamos embora, gritava o rapaz.
A
mulher chamou os filhos, pegou a bolsa e entraram no automóvel do cunhado, ela
pensava que o marido tivesse sofrido um acidente. Vilmar corria como se tivesse
fugindo de alguma coisa muito grave; não queria explicar nada.
-
Depois, depois eu digo. Dizia nervoso.
Quando
já estavam fora da cidade Alda pediu para ele parar e contar o que acontecera.
Ele estacionou o automóvel em uma praça da cidade vizinha; depois respirou
fundo para poder se acalmar. Alda estava muito preocupada.
- Afinal, diga logo o que aconteceu?
- Onde está o Vitório?
- Por que estamos fugindo?
Ana e os irmãos estavam de olhos arregalados,
foi uma corrida e tanto. Nunca tinham andado em um automóvel que corresse
daquele jeito. Valmir pediu calma a Alda e saiu do automóvel, depois abriu a
porta para ela e as crianças descerem. A mulher e os filhos sentaram-se no
banco da praça, então, o tio começou a falar.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.