FELIZ NATAL
CAPÍTULO DEZ.
Valmir arrumou uma casa em outro bairro
para a família do irmão morar. Um lugar onde ninguém soubesse do drama vivido
por Vitório; ali entre pessoas desconhecidas ficaria mais fácil recomeçar. Alda
estava feliz em ter outra casa e sua família unida novamente; daria todo o
apoio ao marido.
As crianças voltariam à escola e a
Igreja evangélica, que tão bem os acolhera. Ela tinha certeza que o Deus dos
milagres estava agindo em sua vida e nunca mais se perderia dos ensinamentos
recebidos ali.
A
escola do bairro era grande e bonita, Ana ficou feliz em seu primeiro dia de
aulas. Ficara para trás a turma complicada, da qual ela fazia parte e, que
sempre se encontrava em apuros. Foi recebida pelos novos colegas e logo
simpatizou com Larissa, que se tornou sua companheira inseparável. A menina era
amiga para todas as horas, viviam juntas a maior parte do tempo.
A Ana Banana ficara para trás, agora era uma
garota de quatorze anos, que juntamente com Larissa cantava no coro da Igreja e
despertava o interesse dos meninos. Consequentemente passou a se cuidar melhor,
tornando-se uma bela e moderna garota.
O pai voltara a trabalhar e a
vida parecia tomar seu rumo. Alda cuidava da casa, dos filhos menores e ajudava
a cuidar da Igreja; tornara-se uma irmã de fé. Nas horas vagas fazia artesanato
para vender e ajudar o marido. No entanto, ainda não cumprira sua promessa de
levar o marido para a Igreja, sentia-se em dívida com Deus. Vitório sempre
arrumava uma desculpa para não ir; já a Ana gostava de cantar no coro.
O ano passou rápido e Vitório
cumpriu todas as atividades comunitárias, que lhe foram impostas. Ana
tornara-se cantora do coro da Igreja e o pai lhe prometera que na Noite de
Natal ele iria assistir ao culto para ouvi-la cantar. E, aproveitaria para pedir perdão a Deus pelos
seus pecados. Alda ficou feliz, finalmente iria pagar sua dívida e ficar quites
com Deus. No entanto, mais um ano inteiro se passou e o marido se esquivou da promessa feita; dizia que iria no Natal.
Naquele Natal faria dois anos do
trágico acontecimento, que envolvera a família. Alda e as crianças foram à
Igreja, era noite de Natal, entretanto, o marido estava viajando e não chegara a
tempo; por isso havia uma insatisfação no ar. Ana não queria se apresentar,
pois o pai não estaria presente. E, ela se esforçara tanto para vê-lo orgulhoso
dela; tornara-se uma moça bonita e bem cuidada.
Com o drama vivido pela família
muita coisa mudou; o pai ficou mais tolerante, a mãe aumentou sua fé em Deus,
tornando-se uma pessoa melhor. A Ana ficou longe das más companhias e passou a
ver sua família com mais amor. Os dois meninos ficaram mais obedientes e
estudiosos.
A menina estava triste, ficara
sentada em um canto aguardando o início do culto. Nada tinha graça, queria sua
família reunida; agora ela sabia que amava o pai e que era amada por ele. Depois de duas apresentações de
cantores louvando a Deus, Ana estava absorta, revivendo toda aquela história do
acidente. Então, uma mão se apoiou em seu ombro. Ana virou-se imediatamente e
um sorriso saiu de seus lábios, depois veio o grito:
– Pai, você veio?
- Corri como um louco para assistir
à apresentação da minha menina. Estou aqui Ana e sempre estarei aonde vocês
estiverem; sem a minha família não sou ninguém.
A
menina levantou-se, abraçou o pai e seguiu para sua apresentação no palco. Vitório
foi reunir-se ao resto da família. Enquanto a Ana cantava seu louvor a Deus,
seu pai abraçava a esposa e lhe dizia:
-
Feliz Natal mulher, eu te amo.
Alda
sorriu com o coração, cumprira sua promessa, o marido estava na Igreja do Deus
dos milagres. Quando o culto terminou saíram abraçados e felizes ao som dos
badalos do sino da Igreja matriz; era meia noite. O casal olhou para o alto e
uma estrela caiu. Vitório apertou a mulher e disse:
-
Feliz Natal para você também pequeno anjo!
Sua
voz estava embargada pela emoção, pois pensou no menino que caíra sob a roda de
seu caminhão, então, duas lágrimas escorreram pelo seu rosto indo morrer em
seus lábios. Alda se aconchegou, ainda mais, junto ao peito do marido; aquilo
tudo pertencia ao passado.
Termina aqui a história de uma família que
aprendeu muito com o drama vivido.
Um texto de Eva Ibrahim.