SONHEI COM
VOCÊ
O relógio despertou com uma
campainha estridente e Leila deu um pulo na cama, depois esticou o braço e
desativou o alarme. Deitada de costas na cama não se conformava de ter sido
acordada no meio do sonho mais lindo que já sonhou. Fechou os olhos e conseguiu
sentir o beijo molhado que trocou com Danilo; a moça não queria perder o calor
daquele abraço e a satisfação de estar com ele. Foi tudo muito verdadeiro e
prazeroso, queria sentir aquela euforia novamente, continuava apaixonada por
Danilo; o amor de sua vida.
O casamento foi perfeito, ambos
apaixonados e felizes em uma linda viagem de lua de mel ao Rio de Janeiro. Um
amor verdadeiro que tinha tudo para durar uma vida inteira é o que diziam os
amigos e parentes dos nubentes. Uma semana de passeios para conhecer os lugares
turísticos da cidade maravilhosa. Muitas fotos dos dois juntos para perpetuar
os momentos de alegria e felicidade do casal.
O retorno e a arrumação da casa,
momentos inesquecíveis para ambos. Tudo registrado e relacionado em um lindo
álbum, que recebeu o nome de:
“AMOR ETERNO DE DANILO E LEILA”. A
família e os amigos admiravam a felicidade do casal; um sonho de amor
realizado.
A vida voltou à rotina e os dois
não cansavam de se amar. Danilo e Leila viviam em harmonia, estavam sempre
rindo e brincando de braços dados. Logo surgiu a desconfiança de uma possível
gravidez e para coroar a felicidade do casal, o exame médico confirmou a
gestação de Leila. Os dois viviam um momento mágico e faziam planos para a
chegada do bebê.
Os meses passavam depressa, Leila
estava feliz e tinha arrumado todas as coisas necessárias para receber o
pequeno André; faltavam apenas quatro semanas para completar a felicidade do
casal. Os dois tinham muito amor para dar ao filho desejado.
Naquele mês havia um feriado
prolongado e o rapaz foi convidado pelo cunhado e dois amigos, para uma pescaria
em Mato Grosso; Danilo gostava de pescarias e falaria com sua esposa.
Seu argumento foi que logo teria
novas responsabilidades e não seria fácil viajar com os amigos. Leila não
gostou da ideia, mas, concordou com o passeio de Danilo, afinal ele era um bom
marido e merecia um passeio para descansar. A semana passou depressa e o marido
chegou da viagem, estava cheio de saudades; sua esposa, ansiosa, o recebeu com
um longo beijo.
Depois de alguns dias, durante
uma noite fria, Danilo acordou tremendo, estava com febre alta. Leila lhe deu
um antitérmico e deitou-se agarradinha a ele dizendo que poderia ser um
resfriado.
O dia amanheceu, o rapaz continuava com muita febre e vômitos seguido de diarreia. A moça, preocupada, acompanhou o
marido ao Pronto Socorro e depois de alguns exames o médico disse que Danilo
teria que ser internado para novos exames, pois o diagnóstico não estava
fechado. Por ele ter viajado para outro Estado teriam que considerar todas as
possibilidades. A moça deveria ir para casa, precisava descansar, disse o
médico olhando para sua barriga.
Leila saiu assustada, não queria
deixar seu marido sozinho no Hospital, mas estava muito cansada e concordou em
voltar no dia seguinte. Avisou aos familiares do marido e foi para a casa de seus pais. Foi
uma noite de muitos pesadelos, não conseguiu relaxar; queria voltar ao PS para
saber de Danilo. O Hospital não dava informações sobre pacientes por telefone.
Acompanhada de seus pais a moça
chegou ao PS, precisava ver o seu amor. Na recepção foi informada de que
teria que aguardar o médico para obter notícias do marido. Leila, amparada por
sua mãe, começou a chorar; a moça percebeu que alguma coisa estava errada.
Depois de uma hora de espera o médico pediu que entrassem para conversar. Os
três ficaram estarrecidos diante do quadro que o médico apresentou; Danilo
havia piorado muito e estava na Unidade de Terapia Intensiva em estado grave.
O rapaz estava com pneumonia
viral e não respondia aos medicamentos, poderia ter contraído o vírus na
pescaria que participara no Mato Grosso, disse o médico apreensivo. O estado de
saúde de Danilo era muito grave, ele fora sedado e estava respirando por
aparelhos, pois, seus pulmões estavam perdendo a função. Quando a moça foi
levada para ver o marido quase desmaiou, ele estava inconsciente e entubado,
parecia morto, lamentou chorando.
Sua mãe a levou para fora, a
filha estava muito nervosa, poderia fazer mal ao bebê, explicou a mãe, tentando
acalmá-la. O pneumologista não deu muitas esperanças à família, o paciente
teria que reagir aos medicamentos ou sucumbiria à doença.
Uma semana de aflição e muitas
idas ao Hospital. Não permitiam que Leila ficasse com o marido, pois, ele estava
na UTI. O rapaz permanecia inconsciente e a moça não conseguiu falar com ele durante as visitas. Leila estava desesperada e impotente, a doença tomara conta de Danilo, que não
reagia.
No décimo dia veio a triste
notícia, seu marido não resistira a doença, estava morto.
Leila recebeu a notícia e teve
que ser internada as pressas, pois, entrou em trabalho de parto prematuro. Seu
filho nasceu de uma cesariana em meio às lágrimas da mãe. Leila e o filho foram
acolhidos pelos pais dela, que procuravam minimizar o sofrimento da filha. Ela não pode acompanhar o enterro de seu amor, nem mesmo o viu morto.
André já estava com seis meses e
a moça voltara ao trabalho deixando o filho aos cuidados da avó. Leila teria
que conviver com a perda prematura de seu marido. Tinha dias que a saudade
parecia sufoca-la, então ela chorava até adormecer.
Foi em uma noite dessas que ela
sonhou com Danilo; continuava amando o marido e o sonho fora muito real.
Certamente ele a estava consolando por ter partido tão cedo, ceifando todos os
planos que fizeram juntos. Leila finalmente sorriu, encontrara um jeito
de matar a saudade; dormiria abraçada ao filho pensando no marido todas as
noites de sua vida.
Assim, tinha a certeza de poder
caminhar e criar seu filho, sendo mãe e pai ao mesmo tempo, porque Deus quis
que seguisse sozinha nesse mundo.
Uma coisa ela pressentia, Danilo
estaria velando por ela e o filho e se encontrariam em sonhos até o fim de seus
dias.
Um texto de Eva Ibrahim.