AFINIDADE
CAPÍTULO DEZOITO
Celina
estava amargurada, aquele dia lhe trazia muitas recordações. As lembranças
tristes se sobrepunham as alegrias vividas naquela data e ela trazia os olhos
cheios de lágrimas quando se voltou para Reinaldo. O rapaz, condoído com a
situação, passou os braços ao redor do corpo de Celina e a conduziu para fora
da Igreja. Rapidamente adentraram à uma lanchonete e quando a moça se deu conta
da situação, já estavam sentados em uma mesa nos fundos do estabelecimento.
Era um lugar reservado, onde eles poderiam
manter um diálogo, longe dos olhos do mundo. Ele compreendia sua dor, disse
Reinaldo, pois padecia da mesma amargura. Pediram um suco, precisavam aliviar o
nó que traziam na garganta. O rapaz queria ouvi-la e depois lhe contaria sua
história.
A
moça contava sua desventura e Reinaldo aquiescia com a cabeça; deixou que ela
chorasse sempre que a emoção falava mais alto. Na realidade, naquele lugar
aconteceu um monólogo, pois, Celina falava e o rapaz ouvia atentamente. A moça
lavou sua alma, pôs para fora todos os tormentos, que havia guardado durante
aquele ano. Quando terminou, olhou para o rapaz e suspirou.
–
Como conseguira falar tudo que sentia para um estranho?
Ele segurou sua mão e disse que não era mais um
estranho, uma vez que conhecia sua história. Celina olhou para o relógio e
disse que deveria se apressar, já estava tarde. Sentiu-se culpada, parecia
estar traindo Fernando. Reinaldo concordou dizendo que ela poderia ir, mas
deveria marcar um novo encontro com ele para ouvir a sua história. Ela sorriu e
aquiesceu, poderiam se ver no dia seguinte; também gostara de conversar com
ele.
Finalmente
ela conseguira falar de seus sentimentos e sentia-se aliviada. Aquele homem
conhecia a dor da qual ela falava, estava escrito em seus olhos. Eram parceiros
na desventura e tinham uma estranha afinidade. Ela sentia-se mais leve e
ansiosa por ouvir a história dele; queria ajuda-lo também.
No
horário marcado os dois se encontraram na lanchonete e foram sentar-se na mesma
mesa, parecia que desde sempre marcavam encontros ali, naquele lugar. Tudo
estava igual ao dia anterior, os dois corações pulsavam forte dentro do peito;
havia uma atração mágica entre eles.
Reinaldo,
segurando a mão de Celina começou a contar os últimos meses de sua vida.
Casara-se há cinco anos com Amanda, estavam apaixonados e logo encomendaram a
pequena Larissa; uma criança linda. Quando a filha completou dois anos nasceu
Vitor, que agora tinha dois anos de idade. Formavam um casal feliz, tinham uma
família linda, saudável e estabilidade financeira. Reinaldo era farmacêutico e
dono de uma drogaria.
Ele,
Amanda e as crianças conseguiram tirar uma semana de férias e foram para a praia.
Estavam felizes descansando em um Hotel maravilhoso em frente ao mar. As
crianças adoravam andar na orla da praia recolhendo conchas, que a água do mar despejava
na areia. No terceiro dia estavam cansados e felizes; entretanto, sua esposa
saiu do banho com uma expressão assustadora e quando ele quis saber o motivo
ela começou a chorar.
Entre
soluços, ela conseguiu falar que encontrara um nódulo no seio esquerdo durante
a apalpação. Reinaldo a aconchegou em seus braços e disse que procurariam um
médico e resolveriam a situação. Ela gemia e dizia que duas tias, irmãs de sua
mãe, haviam morrido de câncer de mama, estava na genética da família.
Naquele mesmo dia voltaram para
casa num clima pesado; Amanda pressentia algo de ruim, que a deixava
transtornada. A consulta foi marcada e Reinaldo acompanhou a esposa. O médico
apalpou o nódulo e fez uma cara estranha, que deixou o casal apreensivo. Em seguida
pediu uma porção de exames: de imagem, de ultrassom e de sangue, dizendo ser
precoce dizer alguma coisa, queria ver os exames.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.