QUERO
DORMIR
CAPÍTULO
SETE
A primeira quimioterapia de Olívia
não teve reações significativas. Um mal-estar estomacal, pouco apetite e uma
apatia natural devido a fraqueza já estabelecida. No dia seguinte, outra sessão
de radioterapia e alternadamente a quimioterapia.
Tamanha carga de medicação foi minando
as forças de Olívia e, em duas semanas ela já não comia e nauseava quando falavam sobre comida. Além das quimioterapias, ela tomava corticoides e isso a estava
deixando inchada. Olívia estava cada dia mais empalidecida, fraca e desanimada.
Vivia tomando soro e tinha pouca vontade de conversar.
Durante o dia era sua mãe que lhe
fazia companhia e a noite o marido fazia questão de ficar com ela. Ninguém
estava contente com aquela situação e, o médico foi categórico ao conversar com
Cirilo Artur.
- A situação está se agravando, porque
a doença não estacionou, pelo contrário, está ganhando força. Se continuar
assim, logo perderemos o controle sobre ela. Na verdade, estamos perdendo a
luta para o câncer, que está se espalhando pelo corpo. Teremos que procurar um
doador para o transplante e, precisa ser o mais rápido possível. Coçou a cabeça, estava desolado, então, continuou:
- O caso de Olívia já chegou complicado,
com a doença em estado adiantado e ela está muito fragilizada; temo pelo seu
futuro. Vou agilizar o banco de doadores de medula óssea, espero contar com a sorte, afirmou o
médico.
Cirilo Artur prometeu trazer os
parentes e amigos para fazerem o teste de compatibilidade; estava muito
preocupado. Depois saiu e foi chorar lá fora, encostado em
uma parede que dava para lugar nenhum; ninguém precisava ver a sua dor. Ficou
ali durante algum tempo, pedindo a ajuda de Deus; ele estava com maus
pressentimentos.
Em seguida, tomou água e lavou o
rosto, para que ninguém percebesse sua fraqueza. Na verdade, ele queria morrer
para não ver o sofrimento de Olívia. No entanto, tinha que se mostrar forte
para ela não desistir da vida, que estava por um fio. Ele havia programado uma surpresa para ela, seria, na semana seguinte, o aniversário de três anos do primeiro encontro. E, agora ela estava entrevada na cama; uma situação inesperada.
Terceira semana e muitas pessoas se
apresentaram para a pesquisa de compatibilidade. Amigos, parentes e irmãos da
igreja, que não se cansavam de orar por Olívia. No entanto, ela piorava a olhos
vistos, seus cabelos estavam caindo e seu corpo ficando mais inchado a cada
dia.
Quarta semana e a paciente parecia
outra pessoa, o seu corpo dobrara de tamanho, já não se alimentava por boca,
somente por sonda. O médico dissera ao marido que seus recursos estavam se
esgotando e, a situação era tão grave, que não sabia se haveria tempo para o
transplante.
Trinta e dois dias e Olívia
amanheceu com muita febre e falta de ar e, quando o médico chegou fez uma cara,
que Cirilo Artur identificou como sendo desanimadora. Estava claro que ela
estava muito pior.
Olívia estava irreconhecível, lutava
para respirar. Recebia os cuidados necessários, mas aparentava total desânimo A
semana arrastou-se entre pequenas melhoras e muitas pioras; já não havia
esperança; agora estava com pneumonia. Não respondia aos medicamentos para controlar
a infecção.
- É uma questão de tempo para ela nos deixar,
dissera o médico consternado, para o marido desesperado.
Na manhã de sexta-feira ela foi
levada à sala de emergência, estava ofegante, apesar do oxigênio que recebia.
Cirilo Artur segurava em suas mãos
e ela balbuciou:
- Vejo amor em seu olhar. Me
perdoe, já não aguento mais. Quero dormir para descansar.
E, em seguida, foi sedada e intubada,
para ter um melhor suporte respiratório. No entanto, ela nunca mais acordou; seu óbito
foi constatado na manhã de sábado, depois de quarenta dias internada. Estavam
presentes, os pais, o irmão e o marido.
Cirilo Artur saiu para a rua, precisava
tomar ar ou morreria sufocado. Queria fugir daquela situação insuportável.
Um
texto de Eva Ibrahim