O RATO
FININHO.
A primavera chegou trazendo
flores, colorindo os jardins e modificando as paisagens; com ela também chegou
á temporada das águas. Durante o dia o sol era insuportável e a tarde aparecia
um barrado negro no horizonte; em seguida, entre relâmpagos, trovões e ventania
era despejada muita água em toda aquela região. Árvores e casas sucumbiam ao
poder dos ventos, havia muita destruição deixada pelos temporais. As moradias
que permaneciam íntegras tinham suas paredes e muros embolorados com uma camada
de musgo verde, por causa da grande umidade.
No final de semana era feita a
limpeza geral dos quintais e das casas; rotina das famílias daquela vila. Na
casa de Zuleica não era diferente. Ela, o marido, a filha e o genro procuravam
manter a casa limpa e protegida de insetos, porque ali moravam os dois filhos
do casal e netos de Zuleica. Sérgio, o genro, ficou encarregado de limpar o
quintal e o quarto de despejos, que ficava nos fundos da casa. Mexendo em uma
caixa de papelão o rapaz viu uma família inteira de ratos. A ratazana mãe com
quatro filhotes; quando tirou a caixa os ratos saíram em disparada. A mãe sumiu
e os filhotes desapareceram como por encanto. O genro alertou a esposa e a
sogra para ficar de olho, porque se algum deles entrasse em casa seria missão
impossível encontrá-lo, pois eram ratos fininhos.
No meio da semana o filho de
Sérgio, disse que viu um bicho correndo na cozinha. Ele e Arlete, sua esposa,
procuraram em todos os lugares possíveis e não encontraram nada, pensaram que
poderia ser uma barata e esqueceram o assunto.
No sábado seguinte, Zuleica levantou-se cedo,
fez café e sentou-se na cadeira para sorvê-lo. Ouviu um barulhinho e
instintivamente olhou para cima e viu o indivíduo sobre o armário, era ele o
rato “Fininho”. Ela o batizou assim porque o genro havia dito que eram fininhos
e um deles estava ali. A mulher arrepiou e ficou enojada só de pensar por onde
aquela criatura teria andado em sua cozinha. Chamou a filha e o genro e impôs
um ultimato:
- Fininho deveria ser morto o mais rápido
possível.
Com o barulho o rato correu para
o quarto do casal.
Zuleica pegou a vassoura e ficou de prontidão,
por ali ele não passava. A filha pegou outra vassoura e o Sérgio armou-se com
um pedaço de pau. As crianças ficaram encolhidas em suas camas, no outro
quarto, tinham medo de Fininho. A caçada começou; Sérgio puxou o guarda roupas
e o rato estava lá no cantinho. O homem, com seus um metro e oitenta, nada
tinha de ágil, por isso seria muito difícil ele apanhar o ratinho. Quando
Fininho aparecia as duas mulheres gritavam com as vassouras nas mãos e o rato
corria. O marido ficava bravo; a cena se repetiu por diversas vezes, até que o
camundongo entrou embaixo da geladeira.
Mãe e filha ficaram cercando as
portas para ele não sair. Quando o rapaz puxou a geladeira, as mulheres
gritaram em coro, “dez a zero para o rato”. Enquanto ele corria para a sala, os
três se entreolharam e uma pergunta ficou no ar:
-“Como iriam pegá-lo”?
As duas mulheres estavam assustadas e tremendo
de medo de Fininho, pois sempre ouviram falar que são portadores de doenças. Zuleica
pensou no marido que estava trabalhando, ele fora criado no sítio e era
“especialista” em exterminar camundongos. Arlete tratou de chamar o pai para
salvá-las de tão grave ameaça. O pai de Arlete chegou rapidamente; ele iria
acabar com o rato Fininho; todos concordaram. Foram á luta. As mulheres com as
vassouras ficaram na passagem da porta para impedir que o camundongo saísse e
os homens com paus para matá-lo. Fininho era rápido e esperto o que faltava ás
pessoas ali presentes. Sérgio puxou a estante e o ratinho saiu correndo antes
de tomar a paulada desferida pelo avô. Foi tão rápido que as mulheres mal viram
quando ele ganhou a porta da rua.
Respiraram aliviados, pelo menos
não sujaram o tapete com sangue de camundongo. Mas, assim mesmo lavaram toda a
casa para eliminar qualquer vestígio daquela criatura tão repelente. Ainda
assustadas, as crianças puderam sair da cama. Quanto ao camundongo deve estar
correndo até agora.
-“Pudera!” O susto foi muito
grande! Disse Zuleica sorrindo.
-Fininho escapou por um triz e
deve ter ficado com trauma de vassouras, completou Arlete aliviada. Um texto de Eva Ibrahim.
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